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Edjamir Sousa Silva

Edjamir Sousa Silva

Padre e psicólogo.

Remover os medos

Por Edjamir Sousa Silva
Publicado em 21 de abril de 2024 às 16:00

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Festejamos a Ressurreição de Jesus, neste final de semana, com o IV Domingo do Tempo da Páscoa. A Liturgia da Palavra (Atos 4, 8-12. Sl 117. 1Jo 3,1-2. Jo 10, 11-18.) insiste a nos dizer que o Crucificado-Ressuscitado, continua no meio de Seu Povo (cf. Mt 18,20) e quer fortalece-lo na estrada da vida rumo ao Pai.

No evangelho deste domingo (Jo 10, 11-18.), Jesus se apresenta como o bom pastor. Ele se diz bom porque conhece seu povo e o povo o conhece. Conhecer, em sentido bíblico, é ter “proximidade”, “comunhão” e “relação pessoal de amor e amizade”.

“Conhecer” de verdade as pessoas implica disposição a arriscar-se e pagar o preço de se colocar ao lado delas (cf. Gn 4, 9-12. 37, 12-36). É estranho dizer que se paga um preço ao se colocar ao lada das pessoas, mas, arriscar-se em estar ao lado é o preço da gratuidade de um coração que ama. É ASSIM QUE O BOM PASTOR, CRUCIFICADO-RESSUSCITADO, CAMINHA CONOSCO.

O salmista canta: “O Senhor é o meu pastor, nada me falta (…) Mesmo se eu tiver de andar por um vale de sombra mortal, não temerei os males, porque estás comigo (Sl 23,1.4). E ainda: “O Senhor é minha luz e minha salvação: de quem terei medo? O Senhor é o refúgio da minha vida: diante de quem tremerei?” (Sl 27,1).

À luz da bela poesia da fé destes salmos apreciamos que o Bom Pastor caminha ao lado das pessoas (ovelhas) numa tentativa de remover os medos que cada uma traz dentro de si. Ele é o irmão e o amigo que, caminhando ao lado, traz um novo fragor à vida: “não tenhais medo!” (Mt 10,26-33).

Colocando-se ao lado das pessoas o Bom Pastor procura conhecer as feridas delas para poder trata-las e, assim, Ele ensina que “ser bom” passa por “saber cuidar”.

Carl Gustavo Jung, um dos maiores estudiosos da vida interior do homem (que tomou a si mesmo como matéria prima de suas descobertas) fez-nos pensar que é necessário conhecer as próprias feridas para poder tratar as feridas dos outros e que conhecer as feridas dos outros ajuda a tratar as próprias.  O que o psicanalista Jung fez-nos intuir vale também para a vida espiritual e de fé. Como não lembrar que o ressuscitado, ao nos convidar a ter paz, ainda carregada em si as suas feridas. Um enfermo que deve ajudar os outros a curar: “a paz esteja convosco!” (Jo 20, 20).

Do inicio ao fim das Escrituras há questão da qual deve ser tratada e que preocupa as ovelhas em relação a Deus e a vida: não ter medo! Vejamos: “Moisés disse ao povo: ‘não tenham medo’” (Ex 20,20). “não tenha medo, pois estou com você” (Is 41,10). “Não tenhas medo, pequeno rebanho” (Lc 12,32), “Por que tendes medo, fracos na fé” (Mt 8,26).

É verdade que o medo pondera algumas ações que “sem ele, nos tornaríamos vulneráveis a toda espécie de perigo” (Solomon. Robert C. “Fiéis às nossas emoções”. O que elas realmente nos dizem. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 2015. p. 57). Porém, o medo tem poder para restringir e roubar a alegria e a diversidade do saber viver.

O que, de fato, é o medo? O medo é a reação a uma ameaça real ao nosso ser, a resposta a um perigo real ou presumido: do maior perigo de todos, que é o da morte, aos perigos particulares que ameaçam ou a tranquilidade, a integridade física, o no­sso mundo afetivo (instinto fundamental de conservação).

Conforme se trate de perigos objetivos, reais ou imaginários, fala-se de medos (justificados e injustificados), ou neuroses: do abandono, claustrofobia, agorafobia, medo de doenças imaginárias, desempenho, social (…). A psicologia e a psicanálise buscam tratar medos e neuroses analisando-os e trazendo-os do inconsciente ao consciente.

O Evangelho não nega estes meios humanos, mas acrescenta algo. São Paulo escreve: “Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada?… Em tudo isso, porém, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou” (Rm 8 ,35.37). A LIBERTAÇÃO TEM UM NOME, É UMA PESSOA, JESUS CRISTO, aquele que disse “Tende coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16,33).

O medo é uma condição existencial (desde a infância até a morte). A criança tem medo de muitas coisas (temores infantis). O (a) adolescente tem medo de suas descobertas afetivas e sexuais se envolve às vezes em complexos de timidez e de inferioridade. A fase adulta e os seus desafios de sobrevivência, saúde, acolhimento, bem estar… também tem seus amedrontamentos.

Jesus deu um nome aos nossos principais medos da vida adulta: medo do amanhã: “que comeremos?” (Mt 6,31). Medo do mundo e dos poderosos: “dos que matam o corpo” (Mt 10,28). Qualquer pessoa, tirano ou regime totalitário (politico ou religioso (teologia do medo)) sabe como manipular pessoas a partir de seus medos. Sobre cada um destes medos, Jesus pronunciou: não tenham medo! Eis uma palavra que não é vazia e impotente; é uma palavra eficaz, quase sacramental.

Na Carta aos Romanos, São Paulo diz: Nem a morte, nem a vida! (Rm 8, 38)”. Cristo venceu a coisa que mais angustia as pessoas: a morte. “Nem a altura, nem a profundeza (v. 39) nem o universo ou o infinitamente pequeno. É preciso dizer, também, que confiar em Deus não é jogar sobre Ele todas as nossas responsabilidades, mas crer, que, no fim, “tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus” [e que Deus ama!] (cf. Rm 8,28).

Todos os dias muitas coisas nos assustam e afligem ainda mais neste mundo violento e enlouquecedor, tornando as pessoas mais vulneráveis. Mas, não esqueçamos: “Não temos um sumo sacerdote incapaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi tentado em tudo, à nossa semelhança, sem todavia pecar. Aproximemo-nos então, com confiança, do trono da graça, para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça do auxílio no momento oportuno (Hb 4,15-16).

CORAGEM!

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