Fechar
O que você procura?
Blogs e Colunas
Engenheiro Eletrônico, MBA em Software Business e Comércio Eletrônico, Diretor da Light Infocon Tecnologia S/A e Diretor de Relações Internacionais da BRAFIP – Associação Brasileira de Fomento à Inovação em Plataformas Tecnológicas.
Continua depois da publicidade
O título da coluna de hoje é para chamar atenção e nos fazer refletir. Vou comparar (bem ou mal) com o que vem acontecendo (fechamento de agências bancárias) e o que “aconteceu/acontece” com as “salas de cinema”, com a chegada e massificação da tecnologia de “streaming”.
Ao longo de 2025, o “mapa bancário brasileiro” continuou a se transformar de maneira profunda. Grandes instituições financeiras, como o Banco do Brasil e o Bradesco, estão entre as que mais reduziram pontos de atendimento físicos, consolidando uma tendência que já vinha se intensificando ao longo dos últimos anos. Segundo dados atualizados, os cinco maiores bancos do país – Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Caixa e Santander – encerraram cerca de 1.800 agências e outros pontos de atendimento em 2024 (número que deve crescer quando os dados de 2025 forem contabilizados).
Este movimento, segundo matéria do portal “CPG – Click Petróleo e Gás”, soma-se a uma redução histórica na rede física: em 2015, o Brasil contabilizava pouco mais de 23.000 agências bancárias, número que caiu para cerca de 15,5 mil em 2025, representando uma perda de quase um terço da “rede presencial”, em dez anos.
O Bradesco, que liderou os fechamentos de pontos de atendimento, desativou mais de 2.500 unidades desde 2015 e o Banco do Brasil, tradicionalmente com maior penetração física, também reduziu sua presença, fechando 1.557 agências nesse mesmo período.
Mas por que os bancos estão fechando agências? Segundo matéria do Portal “TI Inside”, especialistas no mercado financeiro e os próprios bancos, apontam para a rápida “transformação digital e mudança no comportamento dos clientes”, como os fatores centrais.
Relação entre Agências Bancárias, Salas de Cinema e a “Era do Streaming” (II)
Conforme levantamento da FEBRABAN – Federação Brasileira de Bancos em parceria com a empresa Deloitte, “82% das transações bancárias no país já são realizadas por meio de canais digitais” (é só ver, por exemplo, o crescimento vertiginoso do uso do “PIX”, a cada mês), incluindo Internet Banking e aplicativos em dispositivos móveis. Desse total, “75% são operações que ocorrem por meio de smartphones”.
Já as transações realizadas em agências físicas, caixas eletrônicos e correspondentes bancários, representam apenas pouco mais de “5% do total de operações” e seguem em queda anual constante. Ou seja, o “atendimento digital está impactando/redefinindo o setor”, como aconteceu com os “cinemas na era (que vivemos) do streaming”.
Na minha opinião, a dinâmica observada no setor bancário guarda semelhanças, com a trajetória das “salas de cinemas na era da digitalização do entretenimento”. A proliferação de serviços de streaming – a exemplo da Netflix, Amazon Prime Video e outros canais digitais – deslocou grande parte do público das salas dos cinemas para o conforto de suas residências.
Diversos exibidores/empresas tradicionais encerraram atividades ou reduziram o número de salas, diante da queda de público e do avanço dos serviços de conteúdo sob demanda. A comodidade e a personalização oferecida pelo “acesso digital 24 horas por dia” suplantaram a necessidade de “deslocamento até um espaço físico” para assistir filmes.
Da mesma forma, a eficiência dos aplicativos bancários e serviços online, estão fazendo a mesma coisa e transformando os hábitos dos clientes dos bancos, que preferem realizar operações rotineiras – como consultas de saldo, transferências e/ou pagamentos – diretamente dos smartphones, sem depender da agência.
A tendência digital reduz a frequência de visita aos pontos físicos, tornando muitos deles “infraestrutura subutilizada” (como as salas de cinema) em termos econômicos.
Relação entre Agências Bancárias, Salas de Cinema e a “Era do Streaming” (III)
Evidentemente, tem outros fatores a serem levados em consideração. A manutenção de agências bancárias (físicas) envolve custos significativos – como aluguel, segurança e pessoal – que se tornam cada vez mais difíceis de justificar diante de clientes que fazem a maior parte de seus serviços online.
A própria estratégia declarada pelos bancos é “adequar a rede de atendimento à nova realidade do setor”, incentivando cada vez mais o uso de plataformas digitais.
No entanto, a transformação não é homogênea. O fechamento de agências tem impactos mais agudos em municípios de pequeno porte e regiões interioranas, onde a presença física ainda é a principal porta de entrada para serviços como abertura de conta, depósitos e consultas financeiras.
Para muitos brasileiros, principalmente as pessoas que têm dificuldade de “interagir com o digital” e/ou com acesso limitado à Internet, a retirada desses pontos representa um obstáculo concreto ao acesso a serviços bancários. Por outro lado, essa transição, tanto no entretenimento quanto no setor financeiro, “não elimina totalmente a necessidade do espaço físico” para todos os públicos.
No cinema, experiências coletivas, lançamentos e eventos especiais ainda mantêm valor nas salas tradicionais. Nos bancos, atividades mais complexas – como negociações de crédito, consultoria financeira e atendimento especializado – continuam em grande parte associadas ao ambiente presencial, mesmo que em espaços menores e por “enquanto”.
Relação entre Agências Bancárias, Salas de Cinema e a “Era do Streaming” (IV)
Mas quais são os desafios para o futuro do atendimento bancário? Apesar dos ganhos em eficiência e conveniência, a redução de agências provoca consequências sociais significativas, sobretudo “em municípios menores e regiões interioranas” (como colocado acima), onde a agência bancária ainda é uma porta de entrada essencial para serviços básicos e a “conectividade” (Internet) ainda é um problema.
Acredito que o setor financeiro brasileiro enfrenta um dilema: conciliar a “eficiência dos canais digitais” com a necessidade de manter “inclusão e acessibilidade”, sobretudo em áreas com menor acesso à tecnologia/conectividade.
À medida que a digitalização avança, reguladores, bancos e representantes da sociedade precisam debater modelos híbridos de atendimento que equilibrem conveniência, custo e equidade, evitando que a busca por eficiência leve a uma exclusão financeira inadvertida, de parte da população.
Portanto, é importante equilibrar “eficiência digital, competitividade financeira e inclusão social”.
Como não se pode “recuar” no uso da “digitalização da sociedade” (tendência dominante) e nem interferir nos “hábitos dos clientes”, talvez o uso de modelos híbridos de atendimento – que combinam agências estrategicamente localizadas com robustos canais digitais – seja parte da resposta a esse desafio, procurando assim, evitar que a busca por eficiência reforce desigualdades no acesso a serviços essenciais e afaste os Clientes, atuais e futuros. Um gigantesco desafio.
Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.
Continua depois da publicidade
© 2003 - 2025 - ParaibaOnline - Rainha Publicidade e Propaganda Ltda - Todos os direitos reservados.