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Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
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Na prática, racismo é uma das formas de preconceito e discriminação, no qual as pessoas são estereotipadas a partir da cor da pele. Sem enveredar por abordagens sociológicas ou antropológicas, posso afirmar que racismo e preconceitos são males que afetam as vidas e os relacionamentos interpessoais de forma profunda, assim como ocorre com o alcoolismo, por exemplo.
Embora existam diferenças conceituais entre racismo e preconceito, ambos possuem um traço comum: a ignorância e o prejulgamento de uma pessoa sem, de fato, conhecê-la, mesmo em casos de longa convivência.
Discorrer sobre racismo e discriminação no plano teórico pode servir de pano de fundo para a difusão subliminar de interesses políticos e ideológicos. Esta é uma realidade que muitos tentam esconder. Outros, porém, livres dessas amarras, falam com conhecimento prático de quem ao longo da vida sofreu na pele (e por causa dela) esses ataques infames. Nesta categoria estou incluído.
Por este motivo, em 22 de dezembro de 1985, na Revista Tudo, suplemento do jornal impresso Diário da Borborema, Campina Grande-PB, tive publicado o meu primeiro artigo sobre o tema “Racismo”. Depois, foram mais de cinquenta publicações no citado jornal e em outros, editados em Campina Grande e João Pessoa-PB, durante o período em que atuei no Movimento Negro, entre 1985 e 2001.
Em 2024, transcorridos mais de vinte anos, volto ao assunto, não mais como militante do Movimento Negro, mas por achar oportuno compartilhar com os prezados leitores alguns fatos e reflexões.
No Brasil, o racismo é muito difícil de ser combatido, pois está enraizado no inconsciente coletivo. Muitas pessoas, negras e não negras, são portadoras desse “vírus” e nem se dão conta. Por comparação, o racismo e os preconceitos são como o vírus do herpes; basta uma queda da imunidade para os sintomas se manifestarem.
No caso do racismo, como um gatilho, ele costuma se manifestar em momentos de competição. Muitas vezes, quando disputava partidas de futebol, fui chamado de macaco pela torcida adversária. Eu ouvia, mas não dava a mínima, pois não via motivo para cair nesse tipo de provocação.
Certa vez, na adolescência, ao chegar atrasado numa aula de educação física no colégio onde estudava, encontrei os meus colegas dando volta no campo e me posicionei como o último da fila. Ao comentar, em voz baixa, com o colega da frente que eu estava no “rabo da gata”, o professor ouviu e se dirigiu a mim em termos que dispensam comentários:
– Cale a boca, negro da cara de cão!
Manifestações racistas podem ocorrer, também, nas relações afetivas. Na adolescência e na idade adulta, namorei garotas negras, morenas, brancas e loiras. A cor da pele não era barreira para mim nem para elas, mas para a família de algumas delas sim.
Para ilustrar, vou citar um fato: por volta dos quinze anos namorei uma jovem de pele branca. Os pais dela moravam no Ceará e ela morava com a tia em Campina Grande.
Quando me apresentei como namorado da sua sobrinha, nitidamente ela não gostou de mim por ser negro. Então, quando sai da casa dela, ela ameaçou mandar a sobrinha de volta para a casa dos pais, caso continuasse o namoro comigo.
Ela me contou a ameaça e combinamos fingir o fim do namoro, passando a nos encontrar escondidos. O plano deu certo e o namoro perdurou por quatro anos, até que destino se encarregou de nos conduzir por caminhos diferentes.
Poderia citar outros exemplos, mas não farei isto para não tornar a leitura enfadonha.
Para finalizar, destaco que lutar contra o racismo e os preconceitos não é fácil; é como combater o alcoolismo. A tarefa é difícil, mas deve ser assumida por todos porque essas práticas causam prejuízos a toda a sociedade.
Nessa luta, o mais difícil é que poucos se admitem como racistas, preconceituosos ou alcoólatras e, ao serem questionados, é comum citarem exceções que não anulam a regra, acionando o que Gordon Willard Allport, em seu livro “A natureza do preconceito”, denominou de mecanismo de recercar (“refencing device”):
“Quando um fato não pode se adaptar a um campo mental, a exceção é reconhecida, mas o campo é novamente cercado com rapidez e impedido de permanecer perigosamente aberto”.
Assim, sem perceberem, racistas, preconceituosos e alcoólatras são vítimas iguais, pois estão enredados no mesmo laço do passarinheiro.
Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.
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