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Edjamir Sousa Silva

Edjamir Sousa Silva

Padre e psicólogo.

“Quem são estes?”

Por Edjamir Sousa Silva
Publicado em 3 de novembro de 2024 às 15:30

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A nossa reflexão de hoje passa por uma expressão muito comum em nossa sociedade do marketing: análise de perfil. As empresas se utilizam desta ferramenta para recrutamento e seleção de pessoas, desenvolvimento de equipes, gestão de pessoas, coaching e aconselhamento profissional.

As redes sociais estão impregnadas de ideias de perfis (verdadeiros ou não). Nós mesmos, influenciados pela nossa cultura, buscamos nos mover “existencialmente” a partir de determinados “perfis ideais” e “ideais de perfis”.

Na Grécia Antiga, havia muitos perfis ideias: desde o filósofo que buscava a verdade (em si, na essência das coisas, e nas divindades) até mesmo o corpo ideal esguio: os homens deveriam ter ombros largos e braços musculosos, definidos, pele clara e cabelos loiros. As mulheres deveriam ter uma cintura fina e quadris largos. Todos deveriam ter uma boa postura. Mas, o que tem a ver isso com a liturgia de hoje?

A liturgia da Palavra proposta para este Domingo, na Festa de todos os Santos, descreve o perfil daqueles que alcançaram a vitória em Cristo. A pergunta é “quem são estes?” (Ap 7, 13)

Na Primeira Leitura (Ap 7, 2-4. 9-14), escutamos: “Ouvi, então, o número dos que tinham sido marcados: eram cento e cinquenta e quatro mil de todas as tribos dos filhos de Israel. Depois disso, vi uma multidão imensa de gente de todas as nações. Tribos, povos e línguas, que ninguém podia contar” (Ap 7, 4. 9). A mesma multidão é vista numa perspectiva distinta, no evangelho de hoje (Mt 5, 1-12): “Vendo Jesus as multidões” (v. 1).

A perspectiva da primeira leitura é chamada de Igreja Vitoriosa (triunfante) na Jerusalém Celeste. São os santos que celebramos hoje. A perspectiva do evangelho nos faz pensar na Igreja Peregrina. São os filhos de Deus que caminham nesta terra. São suas perspectivas que dialogam.

O Prefácio da liturgia de hoje nos diz que “nós caminhamos, alegremente, olhando para esta Jerusalém Celeste. Onde vivem nossos irmãos, os santos”. Porém, com os pés na terra. Não se pode caminhar para a Jerusalém Celeste sem ter este mesmo olhar de Jesus: “Vendo Jesus às multidões” (v. 1). Ao mesmo tempo, não podemos ficar só olhando só para a terra, com tantos problemas, com limitações e pecados, pois corremos o risco de tornar a profecia num terrorismo e cair num desespero.

As duas perspectivas podem gerar uma tensão. Por isso que muitos ao falar sobre elas, facilmente caem em profecias desastrosas e cheias de medo. Na verdade, o que a Palavra quer chamar é a atenção. Quer que fiquemos atentos aos sinais que circundam a realidade da Igreja Peregrina e que nos apontam para a Igreja Triunfante. E quais são estes sinais? As Bem-Aventuranças.

No percurso missionário, Jesus propõe aos discípulos e às multidões: o Reino de Deus. Este Reino tem “um jeito de ser” que, ao longo do caminho, vai ficando claro o perfil dos autênticos seguidores de Jesus. E este Reino, segue uma lógica, bem diferente do mundo.

No Evangelho, Jesus proclama que Deus está prestes a instaurar o “Reino” e mudará a lógica do mundo: “os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos” (cf. Mt 20, 16).

Bem aventurados os “pobres me espirito”, são os que renunciam livremente ao orgulho, ao exclusivo amor próprio (autossuficiência). Estes aprenderam a partilha, a fraternidade e o serviço aos outros.  Não vivem em função de si mesmos.

Os “mansos” não são os fracos, os que suportam passivamente as injustiças, os que se conformam com as violências orquestradas e covardias feitas pelos grandes e poderosos, revestidos de algum tipo de poder (cf. Mc 10, 43-45), mas aqueles que renunciam a violência, os pacíficos, que não toleram os abusos e prepotências dos injustos. Os que promovem a paz são membros de um pleno direito do Reino de Deus.

Os que “choram”, os “aflitos”, os que estão no sofrimento provocado pela maldade e injustiça, pela miséria, pelo egoísmo, dos outros. O Senhor vai fazer com que a situação de tristeza seja transformada em consolação e alegria (cf Sl 126(125) 5-6).

Por isso que a quarta bem-aventurança proclama felizes “os que têm fome e sede de justiça”. São aqueles que estão comprometidos com a causa de Deus que se traduz em serviços e cuidados com os irmãos. Esta bem aventurança denuncia a lógica do viver em função de se si mesmo que nossa sociedade tem como perfil ideal.

As outras Bem-aventuranças seguem alimentam a mesma lógica: Os “misericordiosos” são aqueles que têm um coração capaz de compadecer-se, de amar sem limites, que se deixam tocar pelos sofrimentos e alegrias dos outros. Os “puros de coração” são aqueles que têm um coração honesto e leal, que não pactua com a mentira e o engano (Fakenews). Estes são os sinais e as realidades que Jesus contemplou e fez-nos unir as duas perspectivas: Igreja Triunfante e Igreja Peregrina.

Ainda hoje é possível ver estes múltiplos sinais. São muitos os que estão empenhados em acabar com as guerras, que defendem os vulneráveis, que tem uma preocupação com o diálogo de paz entre as religiões, os que combatem os preconceitos e todo o tipo de discriminação. Bem aventurados os que promovem a vida numa luta por uma ecologia integral (Casa Comum).

Na festa de hoje somos convidados a comemorar a COMUNHÃO DOS SANTOS (o diálogo constante da Igreja Peregrina e a Igreja Vitoriosa). E o que permite este diálogo e esta comunhão é o desejo e a prece que pedimos a Deus “a abundante misericórdia” (Prefácio).

Aqueles irmãos e irmãs que chegaram à Jerusalém Vitoriosa (Celeste) experimentaram a misericórdia de Deus aqui e foram felizes propagadores da misericórdia de Deus.

Quanto a nós, continuemos a nos mover neste mundo a partir do Amor Vitorioso de Jesus. Que cada um de nós procure se identificar com a proposta do Reino de Deus.

“Amém, o louvor, a glória e a força pertencem ao nosso Deus para sempre. Amém!” (Ap 7, 12)

Boa Semana!

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