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Fabiana Vidal

Fabiana Vidal

Enfermeira paliativista com mais de 10 anos de experiência na área da saúde. Especialista em cuidados paliativos, atua na promoção de um cuidado humanizado, integral e compassivo. É referência na Paraíba por sua atuação sensível e transformadora junto a pacientes e famílias.

Quando os cuidados paliativos devem ser indicados?

Por Fabiana Vidal
Publicado em 11 de setembro de 2025 às 11:30

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Ainda existe a ideia de que cuidados paliativos “entram em cena” apenas nos últimos dias de vida. Na prática, a indicação deve acontecer muito antes, sempre que uma pessoa enfrenta uma doença grave (oncológica ou não) e passa a conviver com sofrimentos que impactam a qualidade de vida — físicos, emocionais, sociais ou espirituais. Paliativo não é sinônimo de “fim”; é sinônimo de alívio, dignidade e autonomia ao longo de toda a jornada.

Situações-gatilho para indicar cuidados paliativos. Considere iniciar (ou solicitar avaliação da equipe) quando houver um ou mais dos cenários abaixo:
• Sintomas persistentes ou difíceis de controlar: dor, falta de ar, náuseas, fadiga extrema, ansiedade, depressão, insônia.
• Declínio funcional: perda de autonomia nas atividades diárias, quedas frequentes, perda de peso não intencional, fraqueza marcada.
• Internações repetidas ou idas recorrentes à emergência/UTI.
• Decisões complexas sobre tratamentos (benefícios x riscos), necessidade de alinhar expectativas e objetivos de cuidado.
• Doenças crônicas avançadas com progressão ou pouca resposta terapêutica.
• Sobrecarga do cuidador e sofrimento familiar.
• Pedido explícito do paciente por conforto, alívio de sintomas, comunicação clara e respeito às suas escolhas.

Exemplos por condição clínica. Cuidados paliativos podem caminhar junto com terapias modificadoras da doença:
• Câncer (em qualquer estágio com sintomas relevantes ou tratamento de alta complexidade).
• Cardiopatias avançadas (insuficiência cardíaca com limitações importantes).
• Doenças pulmonares crônicas (DPOC, fibrose) com dispneia, exacerbações e limitações funcionais.
• Doença renal crônica avançada (em diálise ou sem indicação/aceitação de diálise) com sintomas significativos.
• Doenças neurológicas degenerativas (ELA, Parkinson avançado, demências) com perda progressiva de autonomia, disfagia e maior dependência.
• Doenças hepáticas com descompensações recorrentes.
• Pediatria: crianças com condições ameaçadoras à vida, malformações complexas ou doenças raras — também se beneficiam precocemente.

Por que indicar cedo? A integração precoce traz ganhos concretos:
• Melhor controle de sintomas e menos sofrimento.
• Planejamento compartilhado (paciente, família e equipe), com decisões mais alinhadas a valores e prioridades.
• Menos internações evitáveis e maior previsibilidade do cuidado.
• Apoio emocional e espiritual continuado para paciente e familiares.
• Mais autonomia e dignidade no dia a dia — em casa, no ambulatório, no hospital ou na UTI.

O que muda após a indicação? A equipe de cuidados paliativos realiza uma avaliação integral (biopsicossocioespiritual), escuta ativa e comunicação compassiva para:
1. Definir objetivos de cuidado (o que é mais importante para a pessoa agora? conforto, funcionalidade, presença da família, controle de sintomas?).
2. Construir um plano personalizado, com tratamento de sintomas, reabilitação possível, suporte nutricional, orientação ao cuidador e organização do cuidado no domicílio quando indicado.
3. Fortalecer a comunicação entre todas as especialidades envolvidas.
4. Apoiar decisões antecipadas, incluindo Diretivas Antecipadas de Vontade e consentimento informado, sempre respeitando valores e crenças.

Sinais de que não devemos adiar:
• O paciente “está piorando apesar de tudo” e a família se sente perdida.
• Há “idas e vindas” frequentes ao hospital por sintomas que retornam.
• Conflitos sobre continuar, suspender ou não iniciar determinados tratamentos.
• Cuidadores exaustos ou sem orientação prática.

Em resumo, cuidados paliativos devem ser indicados sempre que houver sofrimento que possa ser aliviado — de preferência desde o diagnóstico de uma condição séria. Eles não substituem a terapêutica da doença; ampliam o cuidado, trazendo conforto, clareza e presença. Indicar cedo é oferecer tempo de qualidade para viver, decidir e se organizar com menos dor e mais sentido.

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