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Edjamir Sousa Silva

Edjamir Sousa Silva

Padre e psicólogo.

Quando ajoelhamos, rezamos no chão da história

Por Edjamir Sousa Silva
Publicado em 19 de outubro de 2025 às 16:00

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Certa vez o salmista cantou: “a minha alma tem sede de Deus” (41(42), 1-2). Há um belo hino moderno onde se diz que todas as criaturas tem certa necessidade de transcender rumo ao infinito (Deus): “as águas da fonte sentem saudade do mar (…). Dizem que todas as flores, olham para o azul do infinito, dizem que no horizonte tudo é mais verde e bonito, dizem que as flores do campo sentem saudade do sol e que bem cedo se enfeitam, se ajeitam, se espreitam para ver o arrebol” (Pe. Zezinho. Dizem que é saudade). Parece que tudo o que existe, tende ao outro e ao infinito.

O evangelho deste domingo (Lc 18, 1-8) inicia com a expressão: “necessidade de orar sempre” (v. 1) para nos lembrar de que o ser humano é feito de transcendência, isto é, a capacidade de expandir-se, de ir além de si, que se realiza também na abertura ao outro (e ao grande Outro que é Deus). Transcender é capacidade de evitar que as pessoas se sufoquem em si mesmas, mudando o foco “do eu” “para o outro”.  REZAR ATRAVESSA AQUILO QUE SOMOS.

Rezar ou orar une contemplação e ação, fé e vida; como dizia Romano Guardini: “Rezo porque vivo e vivo porque rezo”. O desafio de “orar sempre” não se relaciona com a capacidade de multiplicar palavras e celebrações, mas a capacidade de descobrirmos um estilo de vida orante que nos ajude a abrir-se ao caminho da vida do Reino.

O Pe. João Torres (padre católico na Arquidiocese de Braga-Portugal) escreveu um artigo em sua página ENTRE MARGENS (05/10/2025) que diz: “Há padres que celebram seis, sete, oito missas num só final de semana. Correm aldeias em aldeias, de igreja, em igreja, como quem tenta segurar um edifício que já racha pelas suas fundações. E o que era dom, festa e encontro, transforma-se em cansaço, repetição, ritual vazio. A eucaristia nasceu à mesa. Jesus não instituiu um cerimonial, instituiu uma refeição. Partilhou o pão, partilhou a vida, pôs-se ao lado dos pobres, dos pecadores, dos esquecidos. E disse: ‘Fazei isto em memória de mim’.

Mas esse “isto” não era apenas o rito. Era a mesa aberta, a fraternidade, a comunhão que nasce da partilha. Hoje, muitos já não reconhecem ali o gesto de Jesus. Uns vão à missa como quem cumpre um dever. Outros esperam a comunhão rápida ou um pedido a ser atendido, ou uma intensão por um defunto. E assim se perde o essencial: a experiência de sermos corpo, de sermos comunidade, de sermos família. A igreja cansada e envelhecida, multiplica missas. Mas multiplica vida? Multiplica mesas onde todos cabem?”.

Quem reza está, necessariamente, condicionado aos desafios de cada momento da história, pois não existe uma transcendência desconectada da vida. Quem reza está conectado com maravilhas de Deus, os desafios, as dores, as certezas e incertezas, as alegrias e tristezas da vida. Quando ajoelhamos, fazemos isso no chão da história, por isso que a oração nos divina nos humanizando.

No “chão da história” a oração nos ajuda a discernir a vontade de Deus e as diretrizes do caminho. Orar nos ajuda a “se educar na justiça”. E a educação da justiça nos é pedagógica para compreender o sentido da vida. Assim, é a graça de Deus encontrando espaço no coração de quem ora para realizar as suas maravilhas.

A 1ª Leitura (Ex 17, 8-13) conta um episódio da caminhada do povo de Deus pelo deserto durante um confronto de Israel com os Amalecitas. O livro dos Números (24,20), no oráculo de Balaão, refere-se aos Amalecitas como “um dos povos mais antigos”, descendentes de Esaú (cf Gn 36,12). Os Amalecitas eram uma tribo nômade violenta e agressiva que afrontou de modo hostil o povo de Israel peregrina na fé, desde o Egito.

A catequese de Israel, com essa história, pretendia enfatizar a importância da oração no enfrentamento das travessias e nas duras batalhas da vida. A oração ajuda a obter a ajuda e a força de Deus que brotam desse diálogo contínuo com o Deus salvador e libertador que acompanha o seu povo.

A 2ª leitura 2Tm 3, 14-4 se articula com o pedido de orar com constância no testemunho da viúva, no Evangelho; mas também pelos braços erguidos de Moisés, na Primeira Leitura. Paulo exorta a Timóteo que a oração adquire seu conteúdo fundamental com a escuta da Palavra de Deus que nos ensina os “caminhos da justiça de Deus” (3,16). Ela é “útil para ensinar, para argumentar, para corrigir e educar na justiça”, com toda a paciência e constância de fé.

Consideremos um ultimo detalhe a ser comentado nos textos de hoje que é questão da intercessão. Esta é um tema que estamos meditando já há algumas semanas: O profeta Amós intercedendo pelos pobres e denunciando a frieza, ostentação e exploração dos ricos (Am 6, 1a. 4-7. 8, 4-7). O profeta Habacuc clamando a Deus por causa da violência contra seu povo (cf. Hab 1, 2-3; 2, 2-4). A rainha Ester intercedendo pelo seu povo (cf. Est 5, 1b-2; 7,2b-3). Maria, intercedendo na festa de Caná (cf. Jo 2, 1-11). E hoje, encontramos Moisés intercedendo pelo povo frente a uma batalha hostil (Ex 17, 8-13) A liturgia tem nos ensinado que Interceder é uma forma de orar pelo outro (é transcender). Orar pelo outro cria uma consciência social e participativa que nos interpelam a vivermos uma esperança em dinamismo e em partilha com os demais. OREMOS E LUTEMOS UNS PELOS OUTROS.

Boa semana!

 

 

 

 

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