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Edjamir Sousa Silva

Edjamir Sousa Silva

Padre e psicólogo.

Procurá-LO

Por Edjamir Sousa Silva
Publicado em 7 de agosto de 2024 às 23:20

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Depois da multiplicação dos pães e dos peixes, a multidão quis aclamar Jesus como Rei, mas Ele se retirou sozinho para o monte (cf. Jo 614-15). Jesus não alimentava e nem admitia que o povo tivesse certas expectativas dele. Porém, a multidão continua insistentemente a procurá-Lo e encontra-O na outra margem do lago (cf. Jo 6, 24-35).

“Vós me procurais”. Com o olhar cheio de compaixão Jesus sabe que tem conseguido atrair a atenção das pessoas para o seu caminho, mas ainda precisa dizê-las que estar em seu caminho é muito mais do que saciar-se de um alimento perecível.

O Papa Francisco disse certa vez: Jesus não elimina a preocupação nem a busca do alimento diário, não, não elimina a preocupação de tudo o que pode tornar a vida mais progredida. Mas Jesus recorda-nos que o verdadeiro significado da nossa existência terrena consiste no fim, na eternidade, consiste no encontro com Ele, que é dom e doador, e recorda-nos também que a história humana com os seus sofrimentos e as suas alegrias deve ser considerada num horizonte de eternidade, ou seja, no horizonte do encontro definitivo com Ele. E este encontro ilumina todos os dias da nossa vida”.

O encontro com Jesus nos faz entender que somos muito mais do que aquilo que comemos e vestimos, somos muito mais do que aquilo que conquistamos ou perdermos (cf Mt 10, 29-32). É importante esta lição para não reduzirmos, rebaixarmos ou alienarmos a nossa vida, que é tão bela, às coisas ou situações passageiras ou mesmo fúteis. 

A sabedoria da vida já nos ensinou que há pessoas que tendo tudo são tão miseráveis, que tendo tudo são mais egoístas e desumanas. Então, não é bom para os filhos de Deus que busquem apenas os bens transitórios. É nesse contexto que entendemos Jesus dizer, com muita responsabilidade, que “nem só de pão vive o homem” (Mt 4, 4).

Os discípulos, assim como a multidão, veem o pão que se multiplica na partilha e que não se esgota, mas não veem Aquele que é o verdadeiro Pão da Vida, veem os dons da vida, mas não o Dom que é Jesus Cristo. É sinal de ingratidão e cegueira que a gente receba algo, de alguém, sem que lhe olhe nos olhos e de coração lhe diga obrigado. 

Certa vez, em uma Celebração Eucarística, uma criança (6 anos), acompanhada de seu avô, correu ao meu encontro e disse: “padre, estava com saudades do senhor. Hoje, vim para a missa agradecer a Deus pelo meu mingau”. Como não sentir uma centelha divina nisso?! Pureza e gratidão andam juntas. 

“Tudo é dom, tudo é graça”. Se for dado, não nos dá o direito de exigi-lo, mas, com certeza, move-nos a fazê-lo render, talvez multiplicá-lo e, quem sabe, fazendo-o chegar a outros. Quem faz isso, tem muita nobreza.  Dessa forma corresponderíamos, em relação aos outros, em conformidade com o que foi feito conosco. Essa será uma excelente forma de gratidão, pois estaremos a fazer render o que nos foi oferecido, valorizando-o. Não ficamos agradecidos às rosas, ou ao pão, mas ao doador. 

“A multidão continua insistentemente a procurá-Lo”. Na regra de São Bento (58, 7) se diz: “O primeiro e irrenunciável compromisso do discípulo é a busca sincera de Deus sobre o caminho traçado pelo Cristo humilde e obediente”(5,13), “ao amor do qual ele nada deve antepor” (4, 21; 72, 11). 

“Eu sou o pão da vida” A grande lição eucarística que temos aprendido desde domingo é de que, além do pão que partilhamos, devemos tornar-nos pão e vida uns para com os outros. Jesus multiplicou o pão, mas a grande novidade e a verdadeira revolução é que ELE PRÓPRIO SE TORNA PÃO, levado pelo serviço, pela docilidade, pela compaixão, pelo amor, doando-Se por inteiro. 

Essa é a grande lição de cada Eucaristia celebrada ou Adoração ao Santíssimo Sacramento. “Isto é o meu Corpo, isto é o meu Sangue” é minha vida inteira, toda a minha história dada por vós. 

A celebração da Santa Missa não é um subir para o calvário para morrer com Jesus (Essa é visão fúnebre do Mistério!), mas é ir ao encontro com Jesus, Senhor da Vida, que nos faz entender o sabor que a vida tem. Na grande liturgia da vida, diante do Cordeiro, nossas vestes não tem tom de luto (a prevalência das vestes pretas), mas o branco da vitória sobre todos os sinais de morte (cf. Ap 7, 9-17).

Neste mês dedicado às vocações agradeçamos ao Senhor pelas tantas vidas solidárias espalhadas em diversos lugares de nossa sociedade e que se doam como alimento para que a vida de muita gente aconteça. 

Nesse primeiro domingo, rezamos por todos os sacerdotes (de ontem e de hoje) que fizeram (fazem) de Jesus e do Seu Reino, seu grande tesouro e descobriram no serviço ao povo, sem ares de dominadores ou mercenários, que é este o sabor que tem a vida: servir e dar a vida. 

Nenhum sacerdote é anjo, mas age como mensageiro. Nenhum sacerdote é perfeito, nenhum, mas procura viver as exigências de sua vocação. Sua missão é divina, mas trabalha dentro de sua condição humana. Essa é a imagem que precisamos respeitosamente e urgentemente recuperar de nossos padres: um irmão, um ser humano, cheio de Deus e com uma grande responsabilidade. BENDITO SEJA DEUS PELA VIDA DE NOSSOS PADRES. REZEMOS POR ELES. 

Não nos cansemos de procurar a Deus. Boa semana!

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