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Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
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Em meio aos folhetos da denominada literatura de cordel e na memória de pessoas idosas oriundas das zonas rurais nordestinas, existem personagens que se destacam pela astúcia, sagacidade e sabedoria, dentre os quais: João Grilo, Pedro Malazartes e Cancão de Fogo. Esses três personagens serviram de inspiração para estudos acadêmicos, livros, peças de teatro, cinema, minissérie televisiva e composições musicais.
As peripécias de João Grilo são relatadas nos folhetos, entre eles: “As proezas de João Grilo”, de autoria do paraibano João Martins de Athayde (1880-1959), poeta popular e editor de folhetos; e “A morte, o enterro e o testamento de João Grilo”, de autoria do poeta alagoano Eneias Tavares dos Santos (1931-2022).
“João Grilo foi um cristão
Que nasceu antes do dia
Criou-se sem formosura
Mas tinha sabedoria
E morreu depois da hora
Pelas artes que fazia. ”
Em diversos folhetos são narradas as façanhas de Pedro Malazartes, entre os quais: “As diabruras de Pedro Malazartes”, de autoria do poeta e tipógrafo cearense Expedito Sebastião da Silva (1928-1997); “O encontro de Cancão de Fogo com Pedro Malazarte”, de autoria do cordelista e xilógrafo baiano Minervino Francisco Silva (1926-1998); e “As palhaçadas de Pedro Malazarte”, de autoria do poeta popular paraibano Francisco Sales Areda, natural em Campina Grande-PB (1916-2005).
“Das estórias de proezas
Lidas em todas as partes
Talvez não haja nenhuma
Jocosa e cheia de artes
Que chegue a se comparar
A de Pedro Malazartes. ”
No tocante a Cancão de Fogo, seguem quatro referências: “A vida de Cancão de Fogo”, do poeta paraibano Leandro Gomes de Barros, natural de Pombal (1865-1918); “A segunda vida de Cancão de Fogo”, de Minervino Francisco Silva; “O encontro de Cancão de Fogo com Vicente, o rei dos ladrões”, do cordelista baiano Gerino Batista de Almeida (dados biográficos não encontrados); e “O encontro de Cancão de fogo com José do Telhado”, do cordelista e editor alagoano Rodolfo Coelho Cavalcante (1919-1987).
“Vivente mais esperto, esta terra nunca deu não.
Ia um ladrão roubar dele, ele roubava o ladrão.
Mentia e enganava menino, juiz e ancião.
Irmãos, tio, delegados: todos vítimas de Cancão. ”
Além dos personagens citados, existe um que merece destaque e que é pouco divulgado entre os estudiosos do mundo acadêmico: trata-se de “Camões”, ou “Camonge”, como era conhecido pelo povo simples e analfabeto que, de oitiva, decoravam os versos declamados pelos vendedores de folhetos de cordel nas feiras livres das cidades interioranas, assim como por leitura de apreciadores nas salas ou varandas de residências localizadas na zona rural.
Sobre a inteligência de “Camões”, assim se expressou o poeta, editor e compositor paulista Arlindo Pinto de Souza (1927-2003) no acróstico da última estrofe do folheto “O grande debate de Camões com um sábio”:
“A pessoa inteligente,
Resolve tudo e não falha-
Leva a vida em segurança,
Insiste, luta, trabalha;
Na mente conduz um templo,
Deixa sempre, como exemplo,
O triunfo da batalha. ”
“As astúcias de Camões” é o título de outro folheto de autoria de Arlindo Pinto de Souza sobre o mesmo personagem. E “As perguntas do Rei e as respostas de Camões”, de autoria do poeta Severino Gonçalves de Oliveira (1908-1953), é um dos folhetos mais interessantes sobre como “Camões” utilizava a inteligência para se desvencilhar das ciladas propostas pelo monarca, que o ameaçava de morte caso não respondesse às perguntas de forma satisfatória.
“O rei disse pra Camões:
– Ouça o que vou lhe dizer
Eu tenho trinta perguntas
Para você responder
Se falhar uma só delas
Sem recurso vai morrer”.
E para despertar no leitor a curiosidade de conhecer o conteúdo do referido folheto, vou citar apenas uma dentre as perguntas formulada pelo rei e a correspondente resposta de “Camões”:
“Disse o rei: – vou fazer outra
Preste atenção no momento
Quanto mais tira mais cresce
Responda sem fingimento;
Se você responder esta,
Me prova que tem talento.
Camões deu uma risada
Com gesto de mangação
Olhou para o rei e disse:
– Vou dizer, preste atenção:
Quanto mais tira mais cresce
É um buraco no chão”.
O autor é professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG.
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