Os laços do coração

A Mensagem do Evangelho de Jesus tem uma carne: a carne dos homens e mulheres. Seu anúncio passa necessariamente pela atitude da compaixão.

Ao anunciar o Reino de Deus, Jesus não poupou esforços quando precisou tocar a carne dos homens; fez-Se próximo aos sofredores e empobrecidos. Essa atitude de Jesus deve ser a atitude de todo batizado.

Quem muito nos ensinou sobre essa perspectiva concreta do Evangelho foi o nosso querido Papa Francisco: “Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a sua carne na carne daqueles que sofrem no corpo e no espírito”.

Não há cristianismo sem essa dimensão clara da compaixão evangélica. Somos chamados a estar no mundo como servos, prontos a socorrer os homens e mulheres que sofrem.

Certa vez, o Papa Francisco disse: “Num consagrado, e em todo batizado, não pode existir compaixão autêntica pelos outros se não houver paixão de amor por Jesus. A paixão por Cristo nos impulsiona à profecia da compaixão. Que ressoe em vocês a causa do humano como causa de Deus. E assim, sentindo-se uma família, poderão colocar-se a cada momento a serviço do mundo ferido e enfermo.”

O discípulo de Jesus leva a peito a força da profecia da compaixão! Quantas vezes somos as ovelhas que precisam do cuidado do Pastor. E, por meio dos sacramentos, a Igreja cuidou de nós!

Neste ano jubilar da Esperança, a Igreja atravessa a estrada dos homens apresentando a pregação do Evangelho sob a ótica da esperança futura, a esperança de Deus.

Contudo, esse futuro de Deus já está atuante no presente, na história, sob o movimento de semente. Não estamos sozinhos nesta vida. Deus caminha com todos; não importa onde estejamos, Deus Se faz companheiro de viagem.

Ele nos chama. Ainda que sejamos tentados a caminhar sozinhos ou desolados, não caiamos nessa tentação. Temos os irmãos, a Igreja, os sacramentos… como companhia segura. Sejamos uns para os outros canais dessa profecia que o Papa Francisco tanto nos pedia.

Estejamos com nossas mãos prontas para consolar a quem quer que seja! O mundo se globalizou, mas nem sempre significa o avanço do real progresso. O homem que confia em Jesus sabe que o verdadeiro progresso começa pelos laços do coração, da solidariedade e do estar com os mais necessitados.

O Evangelho de Cristo é a nossa fonte, o nosso alimento na jornada de fé. Ele nos leva ao inequívoco toque da Carne de Cristo na carne dos mais frágeis, dos que se sentem abandonados, ainda que estejam cercados de muitas pessoas.

A pobreza do irmão, por vezes, nos causa receio ou afastamento, mas não podemos cair na cultura da indiferença nem fingir que a dificuldade do outro não seja real. Cristo, o Filho de Deus, não ficou indiferente lá no céu, mas veio ao mundo, habitou em nossa carne pecadora para nos salvar! Sejamos sinais da solidariedade de Deus neste mundo.

A exigência do amor nos pede esse compromisso de solidariedade, principalmente com os mais empobrecidos. Diante de sociedades que avançam a passos largos, legitimando a cultura do descartável, não abandonemos a cultura do cuidado que devemos ter de uns com os outros. Sejamos sinais da concretude do Evangelho que sempre nos pede o socorro dos mais fracos.

Lembre-se: “Não existe vida inútil. Cada pessoa tem a dignidade de ser filha de Deus e merece respeito, cuidado e proteção” (Papa Francisco).

Que a Compaixão do nosso Deus seja uma constante evidenciada em nossas relações fraternas e que o amor mútuo que devemos ter na Igreja e no mundo seja um grande testemunho da solidariedade de Deus com as dores humanas.

E quando nossa vida entardecer no término de dias sobre a terra, que o nosso coração esteja convencido de que Deus é o Pastor que não abandona suas ovelhas! Não importa o que aconteça conosco, Deus nunca se ausentará de nossas vidas. Ele é o porto seguro da fé que ninguém pode nos tirar.