Os gritos silenciosos do corpo e da mente

Nem todo grito vem da garganta. Alguns são silenciosos, sutis, quase imperceptíveis, mas nem por isso menos importantes. O corpo fala. E ele fala todos os dias, ainda que em sussurros. Uma leve dor de cabeça, uma tensão nos ombros, uma dor nas costas, a fadiga, um cansaço que não passa, sono na hora errada e a falta dele na hora certa. Pequenos sinais que, se ignorados, podem se transformar em grandes alertas.

Muitas vezes, encaramos essas manifestações como normais, parte da correria, do dia puxado, do estresse comum. Mas o que o corpo tenta nos dizer é que algo precisa de atenção. Toda grande doença já foi, um dia, pequena. E toda doença pequena, quando negligenciada, pode se tornar urgente, pesada, irreversível. O segredo está na escuta. Escutar o corpo é um ato de autocuidado, de prevenção, de amor-próprio.

Mas não é só o corpo que grita. A mente também. E muitas vezes, ela grita em silêncio, por dentro. Vivemos sob pressões invisíveis, metas apertadas, jornadas que se estendem para além do expediente, especialmente no home office onde a linha entre o profissional e o pessoal se dissolve. A autocobrança, esse chefe invisível e implacável, nos empurra para jornadas de 12, 14 horas, sem percebermos que o preço cobrado vem em forma de esgotamento, ansiedade, insônia, desequilíbrio emocional.

A mente é o nosso centro de comando. Tudo que fazemos passa por ela: decisões, emoções, relações, ações. Cuidar da saúde mental é mais do que necessário: é essencial. Significa reconhecer nossos limites, acolher nossas fragilidades e buscar estratégias que promovam equilíbrio e bem-estar. Somos frutos dos nossos pensamentos, e o que alimentamos neles molda quem somos e como vivemos.

Cuidar da saúde física e mental começa com um gesto simples, mas poderoso: escutar a si mesmo. Como ficou claro acima, em meio à correria do dia a dia, é fácil silenciar os sinais do corpo e as emoções da mente. Mas ignorá-los não os faz desaparecer, apenas os adia. Por isso, permita-se pausar, refletir e perguntar com sinceridade: ‘Como estou, de verdade?’ A responsabilidade pelo seu bem-estar é sua, mas você não está sozinho. Escute-se com atenção, com respeito e com gentileza. É nesse encontro com você mesmo que o verdadeiro cuidado começa. Escutar o corpo. Vigiar a mente. Cuidar de si. Para viver mais e melhor, com leveza, com presença, com sentido.

Enfim, as pausas…
Os respiros no meio ou no fim da semana quando o corpo pedir, quando a alma implorar.
É preciso cultivar a delicadeza de notar o tempo que escorre,
com olhos atentos e coração aberto.

Porque não há produtividade que valha a exaustão,
nem conquista que justifique perder a própria saúde.
É preciso vigiar os pensamentos como quem cuida de um jardim,
observar os hábitos com ternura,
escutar, em silêncio, os sinais do corpo e da alma. Não como mais um item na agenda, mas como um pacto com a vida, lembrando que tudo passa, tudo muda, e que somos feitos de ciclos que nos constroem e nos molda.

Preciso é aprender a viver cada fase com inteireza. Acolher o que chega e permitir-se transformar.
Entender-se para então seguir mais leve, apesar das cicatrizes, e voltar melhor e mais forte, como tão lindamente escreveu Cecília Meireles:
“Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.”