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Benedito Antonio Luciano

Benedito Antonio Luciano

Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

Orixás

Por Benedito Antonio Luciano
Publicado em 15 de maio de 2024 às 7:49

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Nasci no âmbito de uma família católica. Durante a infância, em Campina Grande-PB, esse mundo católico não se limitava à obrigação de ir às missas dominicais na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, às novenas na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, às terças-feiras, e às orações diárias, em casa. Pois, além da educação religiosa doméstica, tinham aulas sobre a doutrina católica na Escola.

Até a adolescência, pouco ou quase nada sabia a respeito de outras religiões. Porém, certa noite, ouvi uns toques percussivos provenientes de uma rua próxima de onde eu morava. Então, perguntei de onde vinha aquele som e me disseram que era de um “Terreiro de Xangô”, lugar de “macumba”, “catimbó”, palavras utilizadas para incutir temor e preconceito.

Como é natural nessa fase da vida, a curiosidade e o gosto pela transgressão se estabeleceram na minha mente. Queria saber o que acontecia no “Terreiro de Xangô”. E só tinha uma forma de superar essa curiosidade, era conhecê-lo pessoalmente.

Isso acorreu pela primeira vez na cidade de Feira de Santana-BA, em 1969, quando lá estava em férias escolares. Não lembro quem me convidou para conhecer o Terreiro de Candomblé. Relutante, aceitei o convite e entrei no local com certo temor. Achei tudo muito estranho. O Candomblé em nada se parecia com a missa católica. Não vou detalhar o que vi durante um transe de possessão, mas posso afirmar que saí de lá com medo.

Anos depois, no início do decênio de 1980, sem me afastar das raízes católicas, voltei a me interessar pelas religiões afro-brasileiras, em especial no tocante aos Orixás. Naquela oportunidade, como pesquisador, busquei nos livros o conhecimento.

E os primeiros que adquiri foram: “Orixás”, de autoria de Pierre Fatumbi Verger, lançado pela Editora Corrupio, em 1981; e o “Dicionário de Cultos Afro-Brasileiros”, de autoria de Olga Gudolle Cacciatore, lançado pela Forence-Universitária, em 1977.

Segundo Olga Gudolle, “Orixás são divindades intermediárias iorubanas, excetuando Olórun, o Deus Supremo”. Neste contexto, os orixás são intermediários entre Olórun e os seres humanos por intermédio de Oxalá, seu filho e representante. No sincretismo brasileiro, em particular no Candomblé baiano, Olórun corresponde a Deus Pai e Oxalá a Deus Filho, Senhor do Bonfim.

Conforme alguns autores, o número de Orixás conhecidos no Candomblé brasileiro, em torno de cinquenta, é muito menor que centenas de Orixás conhecidos na África. Parte da hierarquia originária entre os Orixás vigentes na África foi perdida na transposição da religião para o Brasil e no sincretismo religioso.

Neste contexto, dentre outros, os principais Orixás cultuados do Candomblé brasileiro são: Euá; Exu; Iansã; Ibejí; Iemanjá; Ifá; Iroko; Logunedé; Nanã Buruku; Olodum; Olódùmaré; Ogum; Omolu-Obaluaê; Ossain; Oxóssi; Oxum; Oxumaré; Obá; Oiá-Iansã; e Xangô. Observem que Xangô não é sinônimo de Terreiro de Candomblé.

Prosseguindo com a pesquisa bibliográfica, entre 1980 e 2000, adquiri e li muitos livros sobre países africanos de língua portuguesa e sobre as africanidades brasileiras. Ao término desse período, sistematizei todo acervo com o objetivo de publicar um livro com mais de 2200 verbetes, intitulado: “Levantamento bibliográfico sobre o Negro no Brasil”.

Baseado nesse levantamento, ainda não publicado, seguem algumas referências bibliográficas que talvez possam ser úteis aos leitores e pesquisadores interessados em aprofundar os estudos sobre o tema introduzido neste breve texto:

Araújo, C. ABC dos Orixás. Rio de Janeiro, 1993.
Barcelos, M. C. Os Orixás e o segredo da vida. Rio de Janeiro, 1991.
Bastide, R. O Candomblé da Bahia. São Paulo, 1978.
Bastide, R. As religiões africanas no Brasil. São Paulo, 1989.
Campos, J. J. P. Guia de Candomblé da Bahia. Rio de Janeiro, 1989.
Carmo, J. C. O que é Candomblé. São Paulo, 1987.
Carneiro, E. Candomblés da Bahia. Salvador, 1948.
Carvalho. J. J. Cantos sagrados ao Xangô do Recife. Brasília, 1993.
Cintra, R. A. Candomblé e umbanda: o desafio brasileiro. São Paulo,1985.
Costa, F. A prática do Candomblé. Rio de Janeiro, 1974.
Dopamu, P. A. Exu: o inimigo invisível do homem. São Paulo, 1990.
Fernandes, G. O sincretismo religioso no Brasil. Curitiba, 1941.
Ferreira, W. C. Agô-lê: vamos falar de Orishás? Porto Alegre, 1997.
Freitas, B. T. Freitas, V. C. Os Orixás e o Candomblé. Rio de Janeiro, 1967.
La Porta, E. Estudo psicanalítico dos rituais afro-brasileiros. São Paulo, 1979.
Laytano, D. A Igreja e os Orixás. Porto Alegre, 1968.
Lody, R. G. Um documento do candomblé na cidade de Salvador. Salvador, 1985.
Magalhães, E. G. Orixás da Bahia, 2ed. Salvador, 1973.
Pierson, D. O candomblé da Bahia. Curitiba, 1942.
Portugal, F. Yorubá: a língua dos Orixás. Rio de Janeiro, 1985.
Ramos, A. Os instrumentos musicais dos candomblés na Bahia. Salvador, 1932.
Ribeiro, R. Cultos afro-brasileiros do Recife. Recife, 1978.
Sàlámi, S. A mitologia dos Orixás Africanos. São Paulo, 1997.
Santos, O. J. Ebó no culto dos Orixás. Rio de Janeiro, 1992.
Silva, V. G. Orixás da metrópole. Petrópolis, 1995.
Sodré, M. O Terreiro e a cidade. Petrópolis, 1988.
Taboada, P. A mesa dos Orixás. Rio de Janeiro, 1995.
Valente, V. Emblemas e Orixás. Recife, 1962.

A propósito, independente do sincretismo religioso estabelecido no Brasil e de suas estratégias e motivações subjacentes, os Orixás não devem ser confundidos com os santos da religião católica. Tampouco, o Candomblé deve ser confundido com a Umbanda ou Espiritismo, pois cada um tem sua identidade, suas práticas e seus objetivos bem definidos.

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