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O autor é economista, advogado, professor da Universidade Estadual da Paraíba e membro da Academia de Letras de Campina Grande.
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Fui à tarde de uma quinta-feira ao consultório médico e levei comigo o romance O Sertão vai virar Mar, do médico e escritor gaúcho Moacyr Scliar, nascido em 1937 e falecido em 2011. Autor de mais de 30 livros, distribuídos entre romances, contos e crônicas, novelas, ensaios e literatura infantil, conquistou diversos prêmios literários, dentre os quais 3 prêmios Jabuti. Teve seus livros traduzidos para diversas línguas. Era acadêmico da Academia Brasileira de Letras.
O Sertão vai virar Mar é um romance escrito tendo por base Os Sertões, de Euclides da Cunha, que relata a Guerra dos Canudos, na Bahia, em 1897. Um pequeno livro com 107 páginas, publicado em 2008 pela Editora Ática, no qual Moacyr Scliar dá a oportunidade de que seja mais bem conhecida a obra clássica de Euclides da Cunha, de difícil leitura, como o próprio autor diz à página 21 que “a maioria achava-o um livro difícil, principalmente por causa da linguagem”.
Enquanto aguardava no consultório ser chamado para atendimento li todo o livro O Sertão vai virar Mar e, realmente, a obra Os Sertões é nele dissecada de uma maneira tal que abre perspectivas de melhor entendimento quando de sua eventual própria leitura. Um grupo de alunos decide fazer um seminário sobre Os Sertões, um debate sobre Antonio Conselheiro, descrito na última parte do livro que se divide em “a terra, o homem e a luta”.
A história se passa na cidadezinha Sertãozinho de Baixo, onde existia uma comunidade paupérrima chamada Buraco, na qual um certo dia recebe uma pessoa estranha que, à semelhança de Antonio Conselheiro, assume a liderança. O Jesuíno Pregador que, diferentemente de Antonio Conselheiro não é morto, mas ao final levado a um hospício para tratamento, salvo por seu filho Zé Cabrito, que sendo colega da turma de alunos conhecia bem Os Sertões, tendo impedido que ocorresse uma desgraça de elevadas proporções na cidade.
Jesuíno que havia perdido sua terra pela construção de uma represa na região que a inundou e, que por isso o sertão virou mar, vinha procurando por seu filho que o havia deixado ante a confusa situação mental que lhe invadira o corpo. E foi Zé Cabrito que deu nova vida a Sertãozinho de Baixo, não permitindo o confronto da multidão de fanáticos contra os poderosos da região, liderados pelo novo beato, o Jesuíno Pregador.
O grupo de alunos que estivera frente a frente com o Pregador, incluído nele seu filho, realizou o debate sobre Canudos de Antonio Conselheiro, tendo sido finalizado com a votação de 584 x 126 em favor de uma não intervenção armada. O evento foi comemorado como sempre entre os brasileiros, numa festa de carnaval, fazendo prevalecer que a solidariedade aliada à perseverança é o caminho de combate e vitória sobre as injustiças sociais. Afinal, “o diálogo é a ginástica da inteligência”, como diz o professor Armando, personagem do romance, à página 13, “e diálogo nunca fez mal a ninguém”. Um livro de muita história e emoção.
Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.
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