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Benedito Antonio Luciano

Benedito Antonio Luciano

Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

O morto vivo e os vivos mortos

Por Benedito Antonio Luciano
Publicado em 8 de maio de 2024 às 7:51

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Em minhas mãos, por empréstimo, mercê da atenção do colega José Geraldo Baracuhy, o livro intitulado “A farra do meu cadáver”, obra de autoria do escritor, jornalista, dramaturgo, publicitário e membro da Academia Paraibana de Letras, Tarcísio Pereira.

Publicado pela Editora Penalux, Guaratinguetá-SP, em 2023, “A farra do meu cadáver” é um romance, baseado em fatos históricos que desencadearam a Revolução de 1930, tendo como personagens principais João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque e João Duarte Dantas, vítima e assassino envolvidos num drama trágico, narrado com pinceladas de realismo fantástico, ficção e até surrealismo, arrisco afirmar, com a devida vênia dos críticos literários.

No romance “A farra do meu cadáver”, narrado na primeira pessoa, o protagonista principal é João Pessoa, tendo como interlocutor o seu desafeto político e pessoal, João Dantas, aquele que o assassinou dentro da confeitaria Glória, em Recife-PE, na tarde do dia 26 de julho de 1930. “Acho que desta vez o mundo irá explodir. Eles sempre tiveram a intenção da pólvora. Mas eu não estarei aqui para ver! ”.

A farra em questão diz respeito à exploração política dos 14 dias nos quais o cadáver do advogado e político paraibano João Pessoa foi transportado de trem e de navio entre as capitais dos estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro, onde foi sepultado no Cemitério São João Batista, em 8 de agosto de 1930.

Organizado em três partes, eis o sumário do livro “A farra do meu cadáver”: “SÁBADO, 26”; “O DIÁRIO DE BORDO”; e, no epílogo, “AS CINZAS”.

Na parte um, o “SÁBADO, 26” é uma referência ao dia e data da morte de João Pessoa e a subdivisão dessa parte é constituída dos seguintes títulos: “O eterno velório”, “Ruminações na rodagem”, “Cama de hospital”, “Passos na cidade”, “O retrato final”, e “O balcão da farmácia”.

“Na parte dois, “O DIÁRIO DE BORDO” é um relato dos fatos sob a perspectiva do morto, a partir do “Dia seguinte” de sua morte: “Desde a primeira igreja, senti que as homenagens estavam apenas começando, mas também as chamas”… “Hoje, manhã de domingo, no necrotério recebi a visita de quem ontem visitei no hospital”…

Na segunda-feira, 28 de julho, o corpo de João Pessoa foi transportado de trem, saindo de Recife às quatro da manhã e chegando à capital paraibana às duas da tarde, depois de passar por “seis estações”: “Eis aqui o meu teatro, minha ópera régia, prestes a recomeçar”, o que, de fato, aconteceu a partir do dia 29 de julho, culminando com o surpreendente conteúdo do epílogo, entre as páginas 199 e 216.

Para não prosseguir nos relatos cronológicos, transcrevo, em parte, a fala do preclaro Prof. José Mário, em sua “Dica de Leitura”, datada de 25 de agosto de 2023: “A Farra do meu cadáver é uma obra de ficção, uma obra de arte que, embora recolha os seus ingredientes do tecido histórico, não se limita a espelhá-los, porque a grande e boa ficção não espelha a realidade, ela a transfigura, ela ressignifica, ela amplifica e, por isso, ela se universaliza”.

De forma complementar, transcrevo, ipsis litteris, as considerações do escritor, poeta e artista plástico W. J. Solha apresentadas na “orelha” do livro aqui abordado: “Obra de autor maduro, com grande domínio de forma e do vasto conteúdo: o assassinato de João Pessoa, com suas causas e enorme repercussão, a que gerou o que ele não queria: a revolução de 30 (…) A fluência que obtém no romance tem muito, também, do cinema, com cortes rápidos, shows de montagem, um fluir constante da ação sem um momento sequer de monotonia”.

É o que se depreende da leitura dessa obra do pombalense Tarcísio Pereira, como bem destacou o poeta e crítico literário Hildeberto Barbosa Filho: “Lê-se, aqui, o lado de dentro, da alma dos personagens e de suas respectivas ambivalentes psicologias, sem se elidir o apelo histórico dos fatos que enformaram a Revolução de 30”.

Diante do exposto, considero “A farra do meu cadáver” um excelente livro; um dos melhores que li nos últimos anos. Este é o motivo pelo qual compartilho com os distintos leitores a “dica de leitura” sugerida pelo Prof. José Mário.

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