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Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
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No início da década de 1960, o sistema de iluminação pública do bairro da Bela Vista, em Campina Grande (PB), era bastante precário. Nas ruas, os postes do sistema de distribuição de energia elétrica eram de madeira e as lâmpadas ali instaladas eram incandescentes, de baixa eficiência luminosa.
Foi nesse cenário — e nesse contexto histórico — que uma lenda urbana começou a ser disseminada: a de um “homem sem cabeça” que, em noites frias e escuras, teria sido visto caminhando pela rua Coronel José Vicente, em meio à densa névoa que cobria o alto da Bela Vista.
Durante muito tempo, a identidade desse suposto homem sem cabeça permaneceu uma incógnita. Seria ele uma assombração? Uma alma penada? Algo do outro mundo? Ou seria apenas uma pessoa de carne e osso que, por algum motivo, não desejava ser reconhecida?
Uma noite, porém, o mistério foi desvendado por um colega curioso, ardiloso e corajoso, conhecido pela alcunha de Zé Lacraia. Escondido na entrada de um beco escuro, ele constatou que o “homem sem cabeça” era, de fato, um rapaz solteiro que escondia sua identidade porque estava tendo um caso com uma mulher casada.
Naquela noite, a neblina era espessa e o vento frio sussurrava ao soprar pelos fios de energia elétrica. Nessas condições, as pessoas evitavam sair de casa após as 22 horas, principalmente depois que se espalhou a notícia da presença do “homem sem cabeça” que andava pela rua.
Para descobrir a identidade do homem misterioso, Zé Lacraia esperou pacientemente a passagem do “homem sem cabeça” em frente a um beco escuro. O que ele viu no meio da rua mal iluminada foi um corpo alto, calçando sapatos pretos e roupas escuras caminhando calmamente. E, de fato, aparentemente, o homem não tinha cabeça.
O coração de Zé bateu descompassado, mas a curiosidade foi mais forte que o medo. Ele esperou o vulto se aproximar, depois saiu do beco, agarrou-o pelo braço e gritou:
— Agora quero ver quem é esse “homem sem cabeça”!
O homem tentou fugir, mas tropeçou e caiu. Nesse momento, a neblina se dissipou um pouco e a luz da Lua se projetou sobre o corpo caído. Zé aproximou-se, ajoelhou-se, puxou a gola do casaco e… lá estava o “homem sem cabeça”. Era um amigo de Zé Lacraia e, naquele momento, eles fizeram um pacto de confidencialidade.
De acordo com o pacto, Zé Lacraia não revelaria a identidade do “homem sem cabeça” e, em compensação, o amigo não revelaria o caso secreto que Zé Lacraia mantinha com uma jovem comprometida que morava na Avenida Rio Branco.
Depois disso, em vez de apenas um “homem sem cabeça” percorrendo um trecho da rua Coronel José Vicente, o bairro da Bela Vista passou a contar com outro homem “sem cabeça”, este último percorrendo a ladeira da Avenida Rio Branco, em direção à Volta de Zé Leal.
E naquela mesma semana, ao voltar para casa numa madrugada fria, Zé Lacraia contou aos amigos ter ouvido passos atrás de si… passos que, em meio à bruma, soavam exatamente como os seus. Virou-se, mas nada viu — nem a própria sombra, nem sequer a sombra do “homem sem cabeça”.
Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.
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