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Madalena Barros

Madalena Barros

Jornalista, Pós-Graduada em Comunicação Educacional, Gerente de Negócios das marcas Natura e Avon.

O homem que maquiava a morte

Por Madalena Barros
Publicado em 21 de novembro de 2025 às 7:50

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Na Funerária Eterno Descanso, nome que parecia prometer mais paz do que muito hotel cinco estrelas, trabalhava um sujeito que já deveria ter ganhado estátua na porta: Larô, o Michelangelo dos mortos, o faz-tudo que não temia nada… exceto, talvez, cliente vivo demais.

Larô não era só um funcionário: era um artista especializado em transformar despedidas em algo… apresentável. Com mãos firmes e uma coragem que desafiava qualquer filme de terror, embalsamava, maquiava e deixava cada defunto com uma dignidade que muitos não tiveram nem no casamento. Nas falecidas, fazia unhas caprichadas, às vezes até ousadas, num tom que a família jamais aprovaria, mas que o defunto, certamente, merecia. Nos homens, barba impecável, cabelo penteado e aquele jeitinho técnico de arrumar as mãos para que parecessem mais “estou descansando” do que “estou planejando levantar daqui a cinco minutos”.

E como se tudo isso não bastasse, ele ainda era o motorista. Motorista de morto, que é praticamente Uber Black do além.
E quando a viagem era longa, tipo “atravessar o País”, vinha a parte mais épica da profissão: dormir na funerária, ao lado do passageiro que nem piscava.

Qualquer pessoa normal imaginaria um defunto espirrando, batendo na tampa, pedindo água ou levantando para reclamar do ar-condicionado. Mas não Larô. Ele sabia que, se algo mexesse, era só o gelo derretendo.

Numa madrugada preguiçosa, ele precisava sair cedo para uma entrega cheia de quilômetros e nenhum diálogo. Para ganhar tempo, resolveu levar o carro funerário para casa, já com o passageiro devidamente empacotado no caixão. O único problema é que o carro era tão comprido que parecia ter sido projetado para transportar não um, mas uma família inteira de defuntos.

Resultado: metade do carro ficou dentro da garagem… e metade para fora — incluindo o caixão.

Larô, que tinha o sono de alguém que não teme a madrugada, dormiu como um anjo. Ou como alguém que está 100% seguro de que o único morador imóvel da casa era o hóspede noturno.

Mas a manhã seguinte trouxe um momento de ouro.

Seu filho de cinco anos, aquele tipo de criança que acorda antes do sol e já faz perguntas existenciais antes do café, viu o carro atravessado na garagem. Aproximou-se com a curiosidade própria de quem ainda acha que tudo é normal.

Olhou. Pensou. Olhou de novo.

E correu para o pai, arregalando os olhos com a inocência mais perigosa do mundo: a infantil.

— Pai… o morto dormiu aqui?

Larô riu. Riu como quem sabe que a vida é feita de tragédias, mas a comédia sempre chega primeiro.

A Filosofia de Larô

Apesar dos sustos que nunca aconteceram (exceto na imaginação dos vivos), Larô segue firme, cruzando estradas com defuntos que são, sem dúvida, os passageiros mais tranquilos que alguém poderia desejar. Nunca reclamam, nunca mexem no rádio, nunca pedem para parar no posto.

E quando perguntam se ele não tem medo, Larô apenas bate na lataria do carro funerário e diz:

— Eu? Medo? Só dos vivos. Esses sim têm cada bomba humana por aí…

E não é que ele tem razão? Afinal, já corre por aí a história de esposas enlutadas que juram ter sentido “a última carícia gelada” do falecido, vinda diretamente de um corpo que estava no gelo. Não é exatamente o tipo de carinho para guardar no álbum de lembranças do casamento.

Então, fica o alerta:
Te cuida, Larô!
Com essas “mãos frias” que te acompanham, qualquer dia quem vai precisar de maquiagem final é você — brincadeirinha, claro.

No fim, sua história prova que, mesmo cercado de despedidas, o humor e o absurdo sempre dão um jeito de abrir um sorriso.

E a morte… bom, essa até tenta ser séria, mas Larô sempre acaba deixando ela mais apresentável.

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