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Jornalista, Pós-Graduada em Comunicação Educacional, Gerente de Negócios das marcas Natura e Avon.
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Ela casou aos dezesseis.
Trocou as bonecas de pano pelas de carne — que choravam, sentiam fome e exigiam colo dia e noite, sete dias por semana.
Foi menina-mãe no tempo em que o homem, para provar virilidade, precisava deixar herdeiros espalhados como sementes em terra fértil.
E ela germinou onze.
Onze filhos.
O último aos quarenta e dois anos, quando o corpo já pedia descanso, mas o coração ainda dizia sim e este último parecia o primeiro.
Neste ínterim, perdeu uma filha que partiu cedo demais. E com ela, um pouco se si também morreu.
Helena viu o marido falir.
Viu a casa ser vendida, o chão sumir dos pés.
Triste o viu partir para Brasília, levando a esperança no bolso e o silêncio nos olhos.
Quatro anos sem notícia.
Quatro anos em que o luto era um sentimento clandestino dentro da saudade.
Mas ele não morreu. Apenas sumiu.
E ela… ficou.
Sem lar. Sem pão.
Mas com coragem de sobra.
Foi até Patos.
Bateu na porta do armazém de Seu Abelardo com a dignidade de quem tem pouco, mas vale muito.
Contou sua história.
Pediu dez pares de Havaianas, prometendo pagar na semana seguinte.
Levou.
Quatro dias depois, voltou.
Pagou os dez. Levou vinte.
E ali nasceu o que um dia se chamou “Helena Calçados”.
Daquela pequena venda de chinelos brotou uma loja de vitrines, sapatos refinados, sonhos em couro e pelica.
Foi com ela que criou os filhos — alimentou corpos, educou mentes, sustentou almas.
Dona Helena era minha mãe.
E é dela a frase que me acompanha como oração:
Um dia, enquanto eu brincava entre os sapatos da loja, vi uma amiga lhe perguntar:
— Qual dos seus dez filhos é o seu preferido?
Minha mãe sorriu com calma, com aquela paz que só as mulheres inteiras sabem carregar.
E respondeu:
— O preferido é o que está precisando de mim.
Demorei anos para entender.
Hoje, quando meus próprios filhos, Alvaro Neto e Arthur me provocam, disputando saber quem é o mais amado, o preferido, eu apenas sorrio.
E me lembro dela.
O amor de mãe não tem régua.
Não se mede, não se pesa, não se compara.
Ele se molda à necessidade.
Se um chora, é ele o mais amado.
Se um sofre, é ele que recebe todo o colo.
E amanhã, será outro. E depois, todos.
Porque o amor de mãe… não tem definição nem condição.
É um milagre que se divide sem nunca diminuir.
É o amor que mais se parece com o amor de Deus.
E ser mãe, no fim das contas, é isso:
amar todos por igual,
mas entregar-se por inteiro
a quem mais precisa naquele instante.
Porque para uma mãe,
o filho preferido
é sempre aquele que mais precisa, aquele que, a um simples gemido o coração dilacera.
Feliz dia a todas as Mães, não apenas hoje, mas em todos os dias.
Aquelas que são, as que serão e as que já se foram, em saudade guardadas no coração.
As que choram em silêncio, as cansadas de esperar, as que foram esquecidas mas seguem a amar.
As que geraram no peito, sem ventre, mas com calor.
As enfermas e aflitas fortes no seu amor.
Que todas sejam acolhidas pelo Filho com ternura, pelas mãos de sua Mãe, a Virgem Maria cheia de graça e doçura. Pois Ele a nada recusa porque conhece a missão, e para nós fica o mistério da fé da pergunta sem resposta: Como pode o universo inteiro se abrigar por inteiro no espaço tão miúdo de um peito?
Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.
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