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Jornalista, Pós-Graduada em Comunicação Educacional, Gerente de Negócios das marcas Natura e Avon.
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Marita era daquelas criaturas raras: nascida no alto sertão, criada no suor da roça, moldada no amor de uma família tão grande que, de pequena, só tinha o nome, afinal, 11 filhos não é família, é elenco de minissérie. Enquanto muitas mães de hoje cansam com um ou dois rebentos, a mãe de Marita dava conta de uma dezena, como quem cuida de um jardim: com paciência, força e um tantinho de teimosia.
Pois bem. Cresceu Marita vendo a luta dos pais: o pai na roçada, a mãe no batente eterno de casa cheia. E ela, sentindo o peso das bocas para alimentar, decidiu cedo que ia melhorar de vida e, de quebra, levar os pais junto. Trabalhou como gente grande quando ainda nem tinha tamanho nem idade. E foi longe: passou por Recife, se aventurou em São Paulo…, mas quem ganhou mesmo o coração dela foi João Pessoa.
E é aí que o causo acontece.
Numa das viagens de volta do sertão, aonde sempre retornava com ajuda e o coração cheio de saudade, o ônibus fez a tradicional parada em Soledade, aquele momento sagrado do xixi break, do café quente e do sanduíche de queijo que derrete na boca e fica na lembrança. Marita, preguiçosa de descer, ficou sentadinha. Até que o tempo passou… passou… e ela pensou: “vou só esticar as pernas e pegar uma água.” Inofensivo, né?
Mal sabia ela.
Foi, fez o serviço, comprou a água, a pipoca karitó… e quando saiu toda serena para voltar para o ônibus… cadê?
O canto mais limpo. Só a poeira e, lá longe, a traseira do ônibus dobrando a curva, sumindo como se tivesse compromisso marcado.
Marita virou uma flecha. Correu como se disputasse a maratona de São Silvestre. E no meio da correria, viu uma viatura vindo em sua direção. A maioria das pessoas ia acenar. Marita? Plantou-se na frente!
Parecia a Mulher-Maravilha parando tanque de guerra: abriu os braços, botou as mãos no capô (que graças a Deus era resistente, porque força ela tinha), e gritou:
— Meu ônibus foi embora! Me levem atrás dele AGORA!
Os policiais, acostumados a obedecer, não discutiram nem por um segundo. Jogaram Marita dentro da viatura e partiram na missão de resgate como se estivem reprisando Velozes e Furiosos: Operação Soledade.
O ônibus já ia longe…, mas quando o encontraram, o policial emparelhou e gritou:
— PARE AGORA!
O motorista, sem entender nada, continuou. Mas só até a viatura fazer uma manobra digna de piloto de Fórmula 1. Aí ele parou. Ou melhor: estacionou a própria vergonha.
Marita desceu do carro escoltada, poderosa, épica, parecendo diplomata sendo entregue em missão internacional. Entrou no ônibus sob aplausos, risadas e aquele olhar coletivo de: “essa mulher é braba.”
O motorista suspirou aliviado.
E desde esse dia, quando alguém pergunta:
— “Marita, vai descer na parada?”
Ela nem pensa:
— Nem morta!
Mesmo porque ficou famosa e todos os motoristas a conhecem e se tornou mantra a chamada da parada:
— “Atenção, passageiros! Quem for descer, desça. Quem for Marita… por favor, fique.”
Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.
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