O amor de Deus não faz barulho

O silêncio sempre foi a marca da presença de Deus no mundo. Deus não fala no ruído. Sua presença amorosa pode tornar-se percebida quando nos voltamos para dentro de nós mesmos, numa atitude sensata de recolhimento.

O Papa Leão, recentemente, em uma de suas catequeses, falou sobre a importância da relação entre a esperança e o silêncio: “a esperança cristã não nasce no ruído, mas no silêncio de uma espera repleta de amor. Não é produto da euforia, mas de um abandono confiante. Quando parece que tudo está parado, lembremo-nos do Sábado Santo. Mesmo no túmulo, Deus está a preparar a maior surpresa. A verdadeira alegria nasce da espera vivida, da fé paciente, da esperança de que o que é vivido no amor, certamente ressurgirá para a vida eterna.”

Tais palavras são carregadas de uma profecia que o mundo pós-moderno rejeita. Somos incitados a todo instante às exterioridades, aos excessos barulhentos.

O amor de Deus não faz barulho. Trata-se de um amor que sempre nos lança ao amor silencioso da cruz de Cristo. Muito temos a aprender com o Mistério da Paixão e Morte de Nosso Senhor. Vemos neste mistério o quanto Deus revela o seu amor enquanto o mundo se agita agressivamente em suas ideologias e guerras, sejam elas materiais ou culturais.

Há um silêncio a percorrer no aparente espanto da cruz: “o Filho, depois de ter concluído a sua obra de salvação, descansa. Não porque está cansado, mas porque terminou o seu trabalho. Não porque se rendeu, mas porque amou até o fim (…) Trata-se de um descanso repleto da presença oculta do Senhor!” (Papa Leão).

Neste mês da Bíblia, a Igreja aponta para nós o porto seguro da Palavra de Deus também nos momentos de nossas angústias. Quantas lutas travamos para perseverar na fidelidade do amor de Deus; é verdade que nem sempre somos fiéis, mas Deus jamais se cansa de nos oferecer o seu amor seguro como estrada a ser percorrida pelos pecadores arrependidos.

Uma das grandes lições que a Palavra de Deus nos ensina é o sentido da espera, pois temos grandes dificuldades com essa realidade necessária para encontrarmos Deus em todas as situações da vida. O Papa, ainda nas suas últimas palavras sobre a esperança, reafirma o ensinamento da Igreja sobre o mistério da esperança que marca a espiritualidade do Sábado Santo.

Ele ensina que não devemos ter pressa e não buscar respostas imediatistas, afinal Deus encontra-se na paciência do tempo histórico dos homens: “e nós, naquele sábado suspenso, aprendemos a não ter pressa de ressuscitar: antes é preciso permanecer, acolher o silêncio, deixar que o limite nos envolva.

Às vezes buscamos respostas rápidas, soluções instantâneas. Mas Deus trabalha nas profundezas, no tempo lento da confiança. Assim, o sábado da sepultura transforma-se no ventre onde pode nascer a força de uma luz invencível: a da Páscoa.” Como é bela a existência que acolhe esse mistério do amor de Deus nas sendas da paciência e do silêncio.

Com a Virgem do Silêncio, podemos aprender muito a percorrer o caminho silencioso do amor de Deus que atravessa os barulhos de nossa existência. Ela, como ninguém neste mundo, soube permanecer ao pé da cruz do Seu Filho, como uma Mãe Bondosa e cheia de esperança.

Eis o caminho do amor, do verdadeiro amor que não passa pelo barulho!