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Ailton Elisiário

Ailton Elisiário

O autor é economista, advogado, professor da Universidade Estadual da Paraíba e membro da Academia de Letras de Campina Grande.

Nova tragédia gaúcha

Por Ailton Elisiário
Publicado em 17 de maio de 2024 às 10:01

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O Estado do Rio Grande do Sul mais uma vez sofre uma c que supera as anteriormente ocorridas. As chuvas elevando os níveis dos rios a patamares acima de 5 metros, já causaram até o momento 151 mortes, mais de 615 mil pessoas desabrigadas, perdas totais de prédios e residências, falência de negócios, aeroportos fechados, estradas destruídas, entre tantos outros enormes prejuízos.

Não há comparações com os eventos passados, nem com o que ocorreu no ano de 1941, considerado até então o mais danoso. Uma página de um jornalzinho de Caxias do Sul denominado A Época, de 11 de maio daquele ano, noticia que “embora ainda seja dificílimo tomar-se pulso firme da situação em geral, pois que os informes conhecidos são apenas parciais e bastante imprecisos, pode-se afirmar que o povo do Rio Grande do Sul foi colhido em cheio pela maior hecatombe conhecida em sua história”.

As estatísticas fornecidas pelo jornal apontaram que em 1941, em Porto Alegre, a água suplantou todas as alturas máximas registradas anteriormente – 4,78 metros, mais de 60.000 pessoas foram diretamente atingidas pelas enchentes, uma pessoa morta em Pelotas, no município de Jaguari um tremor de terra agravou a situação causando muitas mortes e feridos, do Taquari foi elevado o número de flagelados.

Dignas de nota e do reconhecimento de toda a população riograndense foram as ações desenvolvidas naquela situação pelos Radioamadores e Estações de Radiotelegrafia das Unidades Militares, não só as sediadas no Estado, mas também as instaladas nos Estados de Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, entre outros. As entidades privadas e públicas, de classe e funcionários de escolas e outras instituições locais remeteram importantes somas em dinheiro. O Estado de Santa Catarina enviou 30 contos de réis para auxílio às vítimas.

Efetivamente não há comparações com a tragédia atual. Mas, há uma pergunta que não quer calar: nesses 83 anos que separam ambas as tragédias, o que foi feito para prevenir e minimizar esses desastres naturais? A construção do Muro da Mauá, que liga o Guaíba ao Centro Histórico da Capital, erguido entre 1971 e 1974, não foi suficiente para conter as elevações das águas. Muito mais obras de engenharia deveriam ter sido realizadas em todo o território do Estado, em caráter preventivo para impedirem ou pelo menos minimizarem os resultados desastrosos.

A reconstrução do Estado será morosa e onerosa e muitas famílias não conseguirão se recompor aos padrões de vida anteriores. A solidariedade humana deverá permanecer por muito mais tempo ainda, devendo os voluntários estarem atentos para as reais necessidades da população, que serão anunciadas pelos coordenadores da reconstrução. As ações dos governos federal, estaduais e municipais, e dos políticos em geral nessa direção, deverão se ater à obrigatoriedade dos auxílios institucionais e mesmo pessoais.

Somos um só povo e uma só nação. O espírito brasileiro sempre foi o de paz e harmonia, apesar da recente polarização política que só produz a desunião. Pense-se apenas nos irmãos gaúchos, buscando simplesmente ajudá-los, sem pretensão de se retirar qualquer vantagem eleitoreira ou de outra natureza, da grave situação que os aflige.

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