No Fim, o Mar

Por que erguer espadas contra o vento,
Se o tempo apaga tudo o que se faz?
A glória é só um eco, um pensamento,
Que morre quando a carne cai em paz.

Por que lutar por tronos e vitórias,
Brigar por migalhas de poder?
Se a morte não registra nossas glórias,
E ao pó voltamos, sem nada a reter.

Os rios correm, todos, com ou sem desvio.
Por vales, pedras, sob o céu sem cor.
Mas seja manso ou bravo o desafio,
Ao mar chegarão, sem nenhum favor.

E o mar, que é fim de tudo o que começa,
Não julga quem foi grande ou quem fugiu.
A vida é só uma estrada indefinida,
Que ao mesmo fim conduz o homem e o rio.

Então, por que competir com o espelho?
Por que querer vencer o próprio irmão?
Se o prêmio dessa guerra é um joelho
Curvado ante a mesma escuridão.

Viver talvez não seja conquistar,
Mas só dançar no fio da incerteza.
E quando o fim enfim nos abraçar,
Ter sido mais silêncio que defesa.