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Madalena Barros

Madalena Barros

Jornalista, Pós-Graduada em Comunicação Educacional, Gerente de Negócios das marcas Natura e Avon.

Mulher é bicho esquisito, todo mês sangra

Por Madalena Barros
Publicado em 1 de março de 2025 às 16:30

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E já que março está às portas e neste mês celebramos o Dia Internacional da Mulher, vale a antecipação.

Lembro que trabalhava na Rádio Campina Grande FM quando essa música explodiu nas paradas do sucesso, como falamos. Confesso que a princípio fiquei chocada por ouvir algo tão íntimo como menstruação, quase um tabu, tanto que, na minha adolescência, usávamos outros apelidos para mitigar o que consideramos pesado, achando que os homens não iam entender: “aqueles dias, chico, doente, tô de boi…” Ledo engano! Eles conheciam todos os termos. Era um enredo em que a emenda ficava até pior que o soneto.

A icônica frase na música, que originalmente seria “As duas faces de Eva” e depois, depois mudou para Cor de Rosa Choque, tem uma frase que se so bressai pelo impacto: “Mulher é um bicho esquisito / Todo mês sangra / Um sexto sentido maior que a razão”, imortalizada na música da irreverente Rita Lee, vai muito além da biologia. Ela simboliza a força, a resiliência e a luta constante das mulheres, que tanto suportam, lutam por direitos, respeito e reconhecimento.

Ao longo da história, mulheres enfrentaram desafios inimagináveis para garantir avanços fundamentais, desde o direito ao voto até́ a ocupação de espaços no mercado de trabalho e na sociedade como um todo. No Brasil, as mulheres conquistaram o direito ao voto apenas em 1932, graças às mobilizações de figuras como Bertha Lutz, uma das grandes lideranças do movimento sufragista.

Essa vitória abriu caminho para diversas outras conquistas. Se antes eram confinadas ao papel doméstico, hoje ocupam cargos de liderança, estão à frente de pesquisas científicas e dirigem grandes corporações. Ainda assim, o caminho é longo. A desigualdade salarial persiste ainda  em alguns locais, as jornadas duplas (ou triplas) de trabalho continuam sendo uma realidade e a sub-representação política reforça a necessidade de seguir lutando.

Felizmente temos exemplos de mulheres como a engenheira Enedina Alves Marques, a primeira negra a se formar em engenharia no Brasil, e Maria da Penha, que deu nome à lei de proteção contra a violência doméstica. São exemplos do impacto que a resistência feminina pode gerar. A história está repleta de mulheres que desafiaram convenções e mudaram o mundo.

Em um tempo em que o conhecimento era privilegio masculino, Marie Curie revolucionou a ciência ao ser a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel (e a única a ganhar dois em diferentes categorias). No Brasil, Dandara dos Palmares lutou contra a escravidão, provando que a resistência feminina existe há́ séculos.

Foram essas mulheres e tantas outras anônimas que abriram caminhos para que hoje possamos ocupar espaços antes impensáveis.

Dia 8 de Março não é uma data tão somente. É um dia de reflexão e resistência que precisa ser honrado por todos nós.

O “Dia Internacional da Mulher” existe, enquanto data comemorativa, como resultado da luta das mulheres por meio de manifestações, greves, comitês e até mortes. Essa mobilização política, ao longo do século XX, deu importância para o 8 de março como um momento de reflexão e de luta. A construção dessa data está relacionada a uma sucessão de acontecimentos.

Uma primeira história que ficou muito conhecida como fundadora desse dia, narra que, em 8 de março de 1857, 129 operárias morreram carbonizadas em um incêndio ocorrido nas instalações de uma fábrica têxtil na cidade de Nova York. Supostamente, esse incêndio teria sido intencional, causado pelo proprietário da fábrica, como forma de repressão extrema às greves e levantes das operárias, por isso teriam trancado suas funcionárias na fábrica e ateado fogo.

Essa história, contudo, é falsa e por isso, o 8 de março não está ligado a ela.

Existe no entanto, outra história que remonta a um incêndio que de fato aconteceu em Nova York, no dia 25 de março de 1911. Esse incêndio aconteceu na Triangle Shirtwaist Company e vitimou 146 pessoas, 125 mulheres e 21 homens, sendo a maioria dos mortos, judeus. Essa história sim, é considerada um dos marcos para o estabelecimento do Dia das Mulheres. As causas desse incêndio foram as péssimas instalações elétricas associadas à composição do solo, das repartições da fábrica e, também, à grande quantidade de tecido presente no recinto, o que serviu de combustível para o fogo. Além disso, alguns proprietários de fábricas da época, incluindo o da Triangle, trancavam seus funcionários na fábrica durante o expediente como forma de conter motins e greves. No momento em que a Triangle pegou fogo, as portas estavam trancadas num espaço sem chance de salvação.

Mas, o Dia Internacional da Mulher é mais que uma data comemorativa. É um lembrete de que a luta ainda não terminou, precisamos nutrir este legado.

A data marca as conquistas femininas e reforça a necessidade de seguir combatendo a violência, a desigualdade e o preconceito. Cada mulher que se levanta contra a injustiça, que busca seu espaço e que se solidariza com outras mulheres é parte dessa história de luta e resistência. Honrar as que vieram antes de nós é garantir que as futuras gerações herdem um mundo mais justo e igualitário. Mulher pode ser “bicho esquisito”, mas é também força, coragem e revolução. Logo, “O Dia Internacional da Mulher” não é uma data trivial às mulheres, pois diz respeito a um convite à reflexão referente a como a nossa sociedade as trata. Essa reflexão vale tanto para o campo do convívio afetivo, familiar e social quanto para as questões relacionadas ao mercado de trabalho. Inúmeros estudos comprovam que ainda hoje as mulheres sofrem com a desigualdade no mercado de trabalho em relação aos homens; salário, tratamento desigual e inteligencias subestimadas.

A presença das mulheres no mercado de trabalho ainda é menor do que a dos homens, uma vez que dados de 2018 apontam que, no mundo, apenas 48% das mulheres maiores de 15 anos (menor aprendiz) estão empregadas – para os homens, esse número é de 75%. Atualmente, menos de 70% dos homens concordam com o fato de que muitas mulheres preferem trabalhar a ficar em casa cuidando de serviços domésticos. As mulheres ainda sofrem prejuízos no mercado de trabalho por engravidarem, uma vez que o número de mulheres que abandonam o seu trabalho por conta de seus filhos chega a 30%, enquanto que somente 7% dos homens abandonam seus empregos pelo mesmo motivo. Isso sem contar que depois de um dia exaustivo de trabalho, ainda tem o terceiro turno e noites  em claro quando os filhos adoecem. É a mãe que acalenta, medica e cuida, independente de ela mesma estar doente ou exausta. E no dia seguinte, precisa estar inteira para começar tudo de novo, com ou sem ressaca ou déficit de sono. Para agravar essa situação, metade das mulheres que engravidam perdem seus empregos quando retornam da licença-maternidade e, em pleno século XXI, ainda existem aqueles que defendem que, mulheres devem ganhar menos, simplesmente por poderem engravidar. Infelizmente ao longo da vida isso foi uma realidade no Brasil,  pois as mulheres recebiam em média, 20% menos que os homens, mesmo cumprindo a mesma carga horária e fazendo o mesmo trabalho. Felizmente agora existe a lei 14611 de 2023, que impõe sanções severas ao seu descumprimento. Cabe a nós fazer valer a equidade salarial com conversas francas e em último caso, denúncia.

Que não apenas neste 8 de março, mas em todos os dias, a consciência sobre desigualdade e  violência a qual as mulheres são submetidas, ganhe holofotes. É um momento para combater o silencio que normaliza a desigualdade e as violências sofridas, além de ser tema para repensar atitudes e tentar construir uma sociedade mais justa e sem preconceito de gênero.

Neste momento não tem como não pensar nos talentos que foram silenciados. Quanto o mundo perdeu com esse grito preso na garganta. Para finalizar, vale nomear mais mulheres extraordinárias que ao longo da história, foram pioneiras em diversas áreas e abriram caminhos para as gerações seguintes. Podemos lembrar de Maria Quitéria, que lutou pela independência do Brasil, Dandara dos Palmares, símbolo de resistência negra, Bertha Lutz, fundamental para o.movimento feminista no País e tantas outras como Malala Yousafzai, Marie Curie, Frida Kahlo e Simone de Beauvoir, que marcaram a história mundial.

Obviamente preciso dar luz a maior de todas as mulheres, para mim, conhecida por Dona Helena, que depois de suportar a dor da perda de uma filha de 11 anos em um acidente de carro, ainda teve forças para criar, educar, formar caráter, conduta, e contribuir com um mundo melhor, com exemplo de força, perseverança, determinação e liderança inspiradora. Praticamente sozinha, cuidou de 10 filhos, enquanto o marido se aventurava no mundo depois de uma falência. Praticamente sem nada, ela construiu o seu império. Pequeno, porém suficiente para suprir a família. A essa mulher excepcional, tive a honra de chamar de mãe!

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