Fechar
O que você procura?
Jornalista, Pós-Graduada em Comunicação Educacional, Gerente de Negócios das marcas Natura e Avon.
Continua depois da publicidade
Era outubro e eu comecei a sentir uma dor nas costas que não me deixava achar sossego, junto de um cansaço estranho no braço esquerdo. A cena era recorrente: eu, no quarto, deitada tentando relaxar, e o coração batendo como se estivesse ensaiando um samba-enredo fora de hora. Tinha dia que eu até olhava o peito pra ver se ele estava realmente pulando.
Como boa brasileira em fim de ano, associei tudo ao estresse. “É muita demanda”, pensei. E toquei o barco.
Mas os sinais não paravam. Café, por exemplo, passou de aliado a vilão: me deixava tonta, com taquicardia, como se eu estivesse girando num carrossel desgovernado. Alguém sugeriu labirintite, mas algo me dizia que era mais profundo.
Meses se passaram. Novembro. Dezembro. Janeiro. E eu ali, cada vez mais ofegante, fadigada, com dor, mal-estar nos treinos, e vontade de me enfiar debaixo da mesa nos eventos — não pra fugir da pauta, mas das dores cervicais, costas, tonturas, falta de ar e iminente desmaio que não davam trégua.
Até que, uma semana antes das férias em fevereiro, algo estalou: “Vou ao cardiologista”. Afinal, meu corpo estava gritando e eu já estava ficando surda.
Dr. Benedito Durand me atendeu e, ao ouvir meu relato, seus olhos disseram antes mesmo do exame: algo estava errado. Veio o holter. Veio o resultado: arritmia ventricular grave grau 5. Não era só estresse. Era sério. Fui encaminhada ao INCOR, para o especialista em arritmia, Dr. Daniel Moura, que confirmou e já iniciou o processo para o procedimento. Depois de muitas ligações e pressão ao plano de saúde, finalmente veio a autorização e a cirurgia foi marcada para 13 de abril.
Cheguei ao hospital e fui recebida por anjos de jaleco. Enfermeiros humanizados que praticam o tipo de cuidado que a gente não esquece. Mateus, por exemplo, fez um senhor sorrir logo após uma sedação com promessas (falsas, infelizmente) de feijoada. Quando o paciente idoso revelou sua preferência por caldo de mocotó, o enfermeiro emendou bem humorado: “que pena, o mocotó faltou hoje”. O clima ali era tão leve que a gente quase esquecia que estava numa sala de preparação e repouso cirúrgico.
Vi amor entre cortinas. Um marido cuidando da esposa ainda sedada, alimentando com mamão e carinho, enquanto falava com a mãe ao telefone, tranquilizando-a com uma paciência de fazer inveja a qualquer santo. Quando valorizei sua forma de agir, ele disse que era assim em casa e a esposa com a língua tropega completou: eu sou a calmaria e ele é o furacão que tudo resolve.
Antes da cirurgia, Dr. Daniel lá passou para nos confortar.
O centro cirúrgico me surpreendeu pela quantidade de monitores, equipamentos modernos e principalmente pelo respeito e empatia. Como ficaria com o tórax coberto por eletrodos, – a cirurgia foi realizada pela veia femoral – fizeram até um “sutiã de gaze e esparadrapo”, para me deixar mais confortável. Tudo que iam fazer, anunciavam antes. E a anestesia? Que bênção. Aquele apagão doce e abruptamente suave. Quando comecei a sentir os seus efeitos, pensei: olha só… se morrer for assim, não é tão ruim quanto falam. E mergulhei na escuridão com a oração do Espirito Santo.
Também deixei algumas pessoas em choque aqui em casa. Estava lúcida quanto a situação. Uma cirurgia é sempre uma cirurgia. Dias antes, deixei recomendações, e até roupa escolhida “pro caso de”, porque coração é coisa séria. Mas fui com fé e com humor: quando minha amiga Rosa me abraçou emocionada na saída de casa, batendo no meu lado direito, dizendo “esse coraçãozinho generoso vai voltar curado”, eu só consegui responder: “Rosa, o coração fica do outro lado!” E rimos. Porque rir, aliás, também é um ato de fé.
A primeira noite foi com minha sobrinha Helena ou Nenena, como amorosamente a chamo, que também é uma filha gerada no coração, e que foi meu anjo de plantão. Mal fechou os olhos, ficou ali, firme, me vigiando como se fosse enfermeira-chefe da esperança. Quando saiu, às seis da manhã, foi direto para seu Studio Aero Fit Pilares, do qual também sou sua aluna, para dar aula. A gente só pode chamar isso de amor. Alvaro, meu marido, a tudo resolveu e esteve ao meu lado o dia inteiro. Quando não podia entrar, ficava na antessala e eu sentia seu amor me alcançando. Alvaro Neto, meu filho, ficou parte da tarde e início da noite me fazendo companhia, sendo o melhor remédio para cura, assim como Arthur, meu caçula, que não pode estar fisicamente, mas se fez presente em ligações de vídeo e fui alimentada da mais refinada matéria prima da vida: Amor.
Agora estou em casa, rodeada de cuidados, com uma gratidão por tanto que recebi da família, dos amigos, da Natura, minha empresa, que foi incrível em todos os sentidos. Desde minha Gerente de Venda Aghata Zequeto, Abel Gerente do Nordeste e até o vice-presidente da América Latina, Agenor Leão. Feliz demais também pelo cuidado das minhas fantásticas Líderes de Negócios e Consultores, todos com gestos que me emocionaram profundamente.
Compartilho essa história aqui por um motivo simples, mas vital: o corpo fala. E muitas vezes, a gente silencia. Tudo que começa pequeno, mesmo sendo grave, se tratado cedo, tem solução. E o que a gente procrastina mesmo que seja simples, pode virar tempestade. Se cuidar é um ato de amor — por nós e por quem caminha conosco.
Hoje, com meu coração novo em folha, sigo mais grata, mais atenta e ainda mais apaixonada pela vida. E com uma certeza: entre exames, eletrodos e piadas sobre feijoada e caldo de mocotó, o que nos cura — além da medicina — é a presença amorosa e a leveza possível até nos momentos mais sérios.
Minha reflexão sobre essa semana é que, mesmo que tudo pareça ter terminado, a fé e a esperança precisam ser alimentadas, porque para cada final sempre existe um novo começo.
Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.
Continua depois da publicidade
© 2003 - 2025 - ParaibaOnline - Rainha Publicidade e Propaganda Ltda - Todos os direitos reservados.