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Benedito Antonio Luciano

Benedito Antonio Luciano

Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

Memória afetiva dos vendedores ambulantes

Por Benedito Antonio Luciano
Publicado em 3 de setembro de 2025 às 9:19

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Ao ler, em primeira mão, a excelente crônica sobre um vendedor de caranguejos, escrita pelo confrade Roniere Leite Soares, vice-presidente do Instituto Histórico de Campina Grande, veio-me à mente uma música composta por Waldeck Artur de Macedo, conhecido pelo seu nome artístico “Gordurinha”.

De acordo com o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, o coco “Vendedor de caranguejo”, gravado em 1958 pelo cantor Ary Lobo, tornou-se um dos maiores sucessos de Gordurinha. Para quem não conhece a letra da música, segue a primeira estrofe:

“Caranguejo Uçá/ Olha o gordo guaiamum! / Quem quiser comprar a mim/ Cada corda de dez eu dou mais um/ Eu dou mais um/ Eu dou mais um/ Cada corda de dez eu dou mais um…/”.

Esta lembrança aguçou minha memória afetiva ao resgatar a sonoridade dos tempos de criança, quando os vendedores ambulantes percorriam o bairro da Bela Vista, entoando bordões ou utilizando instrumentos específicos para anunciar seus produtos.

Os pipoqueiros, por exemplo, conduziam um carrinho feito de madeira, apoiado sobre dois pneus de borracha. Em um dos apoios usados para empurrar o referido carrinho, fixavam um pequeno sino, que tocavam para chamar a atenção dos fregueses.

Os vendedores de picolé também conduziam um carrinho, apoiado em dois pneus de borracha. Vez por outra, eles paravam para tocar uma corneta metálica. Ao escutar aquele som peculiar, as crianças pediam dinheiro aos pais para comprar o picolé preferido: coco, morango, castanha…

Já os que vendiam cavaco chinês não usavam carrinhos. O cavaco chinês era conduzido nas costas, dentro de um recipiente metálico cilíndrico, geralmente feito de zinco, com uma tampa protetora. A forma de atrair os compradores era por meio do tilintar de um triângulo.

Os vendedores de doce de coco não usavam carrinhos, nem instrumentos sonoros. Eles usavam a própria voz para fazer a divulgação do produto: “Olha o doce de coco! Olha o doce! ”

Lembro de um certo vendedor de coentro que conduzia a hortaliça em dois balaios, pendurados no ombro por cordas de agave presas na extremidade de um pau semelhante àquele que se utilizava para conduzir latas d’água. O bordão desse vendedor era o seguinte: “Coentro ainda tem, coentro barato, coentro! ”

A forma mais comum de venda de pirulito, um doce cônico muito apreciado pelas crianças, era feita por vendedores que conduziam nas costas uma tábua perfurada, onde se acomodavam as unidades. A tábua furada servia de suporte para os pirulitos. Cada pirulito era enrolado em papel e espetado em um palito. Não havia uma característica sonora específica para a venda do pirulito.

Às vezes, transitavam pelas ruas vendedores de puxa e tapioca de coco, conduzidas em tabuleiros pendurados ao pescoço. Por motivo de higiene, as puxas e as tapiocas eram cobertas por um pano limpo, geralmente branco. Assim como nas vendas de pirulito, essas não contavam com bordões ou características sonoras específicas.

Outro produto vendido nas ruas e nos campos de futebol era o amendoim torrado, acondicionado em pacotes cônicos de papel. Esse tipo de venda foi lembrado na gravação do paraense Ary Lobo, lançada em 1960, sob o título “Garoto do amendoim”: “Amendoim torradinho/ Aproveita gente, / está bem quentinho/…”

Além dos vendedores ambulantes, havia também os sons característicos dos prestadores de serviços: amoladores de facas e tesouras, vendedores de jornais, consertadores de panelas furadas, entre outros. Os amoladores usavam uma gaita que era tocada nas sequências ascendentes e descendentes das notas musicais.

Em todas as situações apresentadas, o êxito da comunicação baseada na sonoridade está associado à relação entre o estímulo e a resposta.

Nos dias atuais, o barulho dos motores, as buzinas dos carros e motocicletas, as sirenes de ambulâncias e viaturas policiais abafaram as vozes dos ambulantes. Com a modernização urbana, muita coisa mudou.
Contudo, enquanto houver memória – como demonstram as contribuições deste pequeno inventário – a lembrança desses personagens permanecerá viva.

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