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Padre e psicólogo.
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Há uma frase proferida pelos ricos libidinosos dos tempos de Isaías e que muitas vezes é repetida pelos hedonistas, materialistas, coaching e influenciadores digitais: “Comamos e bebamos, porque amanhã, morreremos!” (Is 22,13). PARECE UM DESESPERO DIANTE DA FINITUDE, DO QUE A BOA ARTE DO VIVER.
Em nossos tempos, não tardou para que o neoliberalismo e o capitalismo se apropriassem e privatizassem o “desejo de felicidade” que o ser humano cultiva dentro de si e fez disso o marketing existencial de nossos tempos para afugentar a angústia de solidão e finitude. Assim, se percebe gerações comprometidas com “ser feliz a qualquer preço”.
A filosofia hedonista e materialista gerou, em muitas sociedades, pessoas descrentes de Deus. Substituíram Deus, por uma ambição e ostentação de um só querer “comer”, “beber”, “ter mansões”, “carros luxuosos”, “vida fácil”, “corrupção”, etc. Mas, há também uma face nova, hoje, as pessoas trouxeram essa filosofia para dentro da igreja, da teologia, da espiritualidade: “Deus me deu!”.
Na famosa Cidade de Alexandria, lugar onde foi escrito o livro da Sabedoria, encontravam-se esses descrentes de Deus, da ética e da vida. Eram ricos, agressivos e ímpios. No alto de seu status social (ostentativo) zombavam, escarneciam, diziam coisas absurdas, perseguiam os que não se adaptavam seu estilo de vida.
Achavam que a religião, ao pregar a simplicidade e a luta pelo bem comum, era uma coisa absurda, ultrapassada: “nossa vida é curta, passa por uma sombra, não há como escapar da morte, então, desfrutemos a vida e gozemos das criaturas durante a juventude!” (Sb 2, 1-6). Para estes, ser sábio é ser inclusive, muito espertinho (cf Salmo 48(49)). Mas, a sabedoria de Deus e a lógica da vida são diferentes.
O livro da Sabedoria chama estes descrentes de “ímpios” e descrevem suas ideias, planos e projetos como ações perversas. Eles levam a sociedade a um clima de maldade muito grande: “Armemos ciladas aos justos, pois eles nos incomodam” (Sb 2, 1). No meio destes descrentes sempre se encontram grupos acirrados em discursos de ódio, intolerância, charlatães, mercenários, caluniadores, agressivos e não suportam os justos. Eles não são dados à vida honesta.
Os bem-aventurados filhos de Deus sofrem com o escárnio dos ímpios e são perseguidos por causa da justiça. Os filhos de Deus querem ser puros e santos, mas se deparam com acirrada agressividade dos ímpios.
Em muitos altares, encontramos pregadores coaching e influenciadores digitais, inebriados pelo capitalismo hedonista, substituindo a lógica do Reino de Deus pela lógica mundana. E não nos admiramos que multidões sigam devotamente esse rebanho. O salmista canta: “a própria morte é o pastor que os apascenta” (salmo 48(49)).
Na segunda leitura (Tg 3, 16-4, 3) continuamos a ouvir o apóstolo Tiago. Hoje ele confronta os instintos que desgraçam o ser humano (a inveja, a rivalidade, e toda espécie de obra má) e a sabedoria que vem do alto.
O apóstolo denuncia a esperteza humana manifestada na ganância, na inveja pela vida ostentativa, o desejo desenfreado pela cobiça as coisas alheias ou ideais altos que geram conflitos, guerras, contendas, pois procuram dominar sobre os outros ao invés do espírito colaborativo.
A ultima parte da leitura ensina que, às vezes, os homens transformam em objeto de oração as suas próprias paixões: pedem que Deus realizem todos os seus caprichos e desordem. E, ainda, chamam Deus de “Deus da batalha e da vitória”.
Há muitas igrejas espalhadas nas ruas de nossas cidades que estão inebriadas de vaidade e ostentação. ASSIM Entendemos que, ÀS vezes, enquanto mais igrejaS, menos Jesus. MUITA EXPERTEZA MENOS SABEDORIA DO ALTO.
O apostolo Tiago vem nos dizendo que o que caracteriza uma boa vida eclesial (igreja) é uma fé que qualifica a vida com a sabedoria do alto.
No evangelho (Mc 9, 30-37) os discípulos continuam sem entender o recado de Jesus, pois persistem com uma falsa ideia do Messias. Eles facilmente esquecem, são desatentos, discutem entre si qual deles seria o chefe. É uma conversa tão vergonhosa que diante da pergunta de Jesus: “O que discutíeis pelo caminho?” (v. 33), “ficaram calados” (v 34).
No evangelho de hoje, essa é a terceira vez que Jesus fala do seu duro destino em Jerusalém, por causa do anúncio do Reino de Deus. Mas os discípulos tem dificuldade de compreender. Quando um professor é obrigado a explicar por três vezes é por que o conteúdo está sendo difícil de ser assimilado (v.v. 30-32).
O Reino de Deus está muito distante daqueles que idealizam um messianismo poderoso, arrogante e sem compromisso com o bem comum. É visível que o discípulo não entendeu essa lição quando ele está mergulhado na busca por grandezas, ambições, idolatria do ter, da aparência e do poder. Esse discípulo é pesado e não caminha com mais facilidade.
É fato que Deus deseja e abençoa o progresso humano, principalmente quando este desenvolvimento é um esforço para afastar a fome, a miséria, as doenças, a ignorância, e cultivar a boa convivência que gera compreensão e fraternidade. É o esforço do processo civilizatório por uma valorização das qualidades humanas (cf Populorum Progressio, 1). ESTA É A CIVILIZAÇÃO DO AMOR TÃO SONHADA.
Para tanto, Jesus ensina que é preciso voltar à pureza de uma criança (sem a malícia e ambição das negociatas da vida adulta) e se tornar servo de todos.
Tenhamos a coragem de nos perguntar: como se comportam nossas comunidades: como uma mãe que acolhe a promove a dignidade de todos ou como influenciadores da vaidade e meritocracia? Temos um espírito de ostentação e grandeza ou da simplicidade de Deus? Em nossas comunidades reina a luta pelos melhores lugares? “Entre vós não dever assim” (cf Mc 10, 43)
Boa semana!
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