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Madalena Barros

Madalena Barros

Jornalista, Pós-Graduada em Comunicação Educacional, Gerente de Negócios das marcas Natura e Avon.

Foram só segundos

Por Madalena Barros
Publicado em 31 de outubro de 2025 às 12:54

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O Sol batia a pino, um convite irrecusável. Aquele dia de praia pedia um mergulho no mar, e a pequena, a caçula das minhas sobrinhas/netas de apenas 4 anos, vestida com um lindo biquíni cor de rosa com babados  e olhos cheios de mar, pediu para ir comigo. A mãe, com a confiança estampada no rosto, deu o aval. A praia era logo ali, e fomos nós, num papo leve, risadas e eu me derretendo com a tagarelice infantil.

De repente, não sei o que me fisgou o olhar. Uma distração boba, um lapso inexplicável. Algo me paralisou, não sei o que exatamente, já que agora me escapa completamente, e eu fiquei ali, observando o nada por um instante, que depois conclui, durou o instante de uma eternidade.

Quando meu foco voltou, a mão pequena e macia que eu deveria estar segurando, estava… vazia. A criança tinha sumido.

Chamei. Primeiro um chamado baixo, incrédulo. Depois, um grito estrangulado que se transformou num uivo desesperado. O chão sumiu sob meus pés e o pânico me engoliu. Minha mente se partiu em duas torturas.

Primeiro, ela. Onde estaria aquela coisinha linda,  miúda, sozinha, e o tamanho do terror que devia estar sentindo? Qual seria o seu destino se eu falhasse em encontrá-la? Esse pensamento me chicoteava, me empurrava para todos os lados. Corri feito uma lunática, os olhos arregalados capturando apenas o horror de sua ausência, vendo-a em todos os lugares e em nenhum.

O segundo tormento era a mãe. Como eu a encararia? Como pronunciar as palavras que selariam a tragédia, que confessariam minha imperdoável falha? Eu, a adulta responsável, tinha perdido a filha dela, a minha sobrinha. O pensamento era insuportável.

Sentei na calçada, o choro seco e mudo, mas logo levantei, impulsionada por uma força desesperada. Corri por ruas desconhecidas. De repente, uma feira livre surgiu no meio do caos, e eu saltava por cima das barracas, derrubando frutas e gritando o nome dela como uma condenada. Depois em ruas desertas que eu desconhecia e depois em multidões que me afogavam, eu via rostos de todas as idades, mas nenhum era o dela. O desespero se tornava físico, uma náusea que me revirava. A culpa me açoitava: Como fui capaz de soltar a mão de uma criança tão pequena sem perceber? Minhas lágrimas jorravam, um manancial que não dava conta de lavar o peso da minha estupidez.

Com o coração em frangalhos, as esperanças extintas, rumei de volta para casa. A hora do confronto final, da confissão de que eu havia falhado miseravelmente. A mão no trinco, a respiração suspensa para o golpe fatal… E então…..o milagre.

Eu acordei.

Um suspiro que veio das profundezas da alma. O coração com arritmia de novo. A alma voltando para o corpo. De olhos bem aberto vislumbrei a penumbra do quarto, o colchão macio, a realidade se infiltrando lenta e deliciosamente. Alívio. Foi só um sonho.

E, olha, se o despertar é sagrado, o meu foi mais do que isso. Foi também um aviso: seja mais cuidadosa. Seja mais atenta. Mas para rir diante deste caos que foi minha noite, pensei que poderia ser premiada com um Oscar de Melhor Tia Desnaturada, pelo menos no sonho. sonho não, pior pesadelo dos últimos tempos.

Pois é, nem todo sonho é bom.

E eu aqui, pensando em agradecer a Deus pela feira livre inexistente, pela multidão de rostos suspeitos, pela corrida maluca sobre barracas, todos esvaídos na fumaça do despertar.  E para finalizar, uma boa risada, porque a gente precisa transformar estas tragédias inexistentes em comédias reais, e a única coisa que me ocorria naquela madrugada, era: se eu tivesse que procurar numa feira que procurar qualquer pessoa naquela hora da madrugada, ia dar muito ruim, porque eu estava de pijama e só pensava em achar um drink de frutas vermelhas – The Jimy, do The W antes de surtar de vez.

Ufa! Alívio! Que bom que foi só sonho! Sonho não, pesadelo. Mas o melhor é que até deles a gente acorda.

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