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Jurani Clementino

Jurani Clementino

Jornalista, professor universitário, escritor e membro da Academia de Letras de Campina Grande.

Flores no retrovisor

Por Jurani Clementino
Publicado em 10 de julho de 2024 às 9:22

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Quando terminei minha faculdade, por volta de 2004/2005, conclui também o meu estágio na Televisão Paraíba e voltei para a casa de meus pais no Ceará. Era início de janeiro e estávamos plantando com a chegada das primeiras chuvas. Recordo que foi um período de incerteza porque tinha acabado de me formar e não sabia ao certo o que ia fazer, com o que ia trabalhar, enfim. Bate sempre aquela dúvida sobre o que vai acontecer da sua vida dali em diante. Eu havia criado uma rede com poucos contatos enquanto estudava e estagiava e nada me garantia que ia ser inserido no mercado de trabalho. Então voltei a fazer aquilo que cresci fazendo: trabalhar na roça.

Não me esqueço que era fim de tarde e estava, com disse, plantando com meus pais e irmão porque com a chegada do inverno era momento de semear os grãos na terra. Foi quando chegou alguém, que não me recordo agora, e avisou que tinham me ligado, naquela época para um orelhão que havia no sítio, pediam o meu retorno imediato para Campina Grande. Não sabiam dizer ao certo quem tinha me ligado, mas que era uma pessoa da Tv. Fui até o orelhão, liguei de volta para a Televisão e me disseram que uma funcionária tinha sido desligada da empresa e precisavam que eu voltasse imediatamente para assumir um cargo, agora como efetivo, na área de edição de telejornalismo. Eu estranhei porque eu não era editor, eu tinha sido produtor.

Naquele mesmo dia, já no início da noite, meu irmão foi me deixar de moto em Lavras da Mangabeira, dormi na casa de uma tia de minha mãe e no dia seguinte fui até Cajazeiras, lá peguei um ônibus e finalmente, já no final da tarde, desembarquei novamente em Campina. No mesmo dia fui até a TV e o chefe de redação, Rômulo Azevedo, falou que eu seria editor de um dos jornais mais vistos no estado. Falei que não era capaz de ser editor, não tinha experiência. Ele me olhou com os olhos azuis arregalados e disse: não se subestime, velho. Desse dia em diante e sob aquele olhar vigilante, passei a editar os telejornais da Tv Paraíba.

Foi aí que eu descobri que quem havia me ligado tinha sido uma produtora e editora muito querida chamada Clarice Albuquerque. Clara, como a gente a chamava, era uma espécie de mãezona na redação. Além de trabalhar na TV ela também dava aula numa faculdade em Caruaru – PE. Um dia, enquanto voltavam para Campina Grande, o ônibus em que os professores viajavam foi assaltado na BR-104. Ela tinha uma criança pequena, estava grávida e ficou muito traumatizada com aquele assalto porque os bandidos atiraram contra o veículo. Os tiros ainda perfuraram a lataria do carro. Depois disso, Clarice achou melhor deixar aquela rotina perigosa e me indicou para fazer a seleção e ir da aula com a seguinte justificativa: Você é jovem, não tem filhos, é inteligente, tenta pra ver. Tu já tens o perfil de professor. Fiz a seleção e passei.

Trabalhava de manhã em Campina e a noite dava aula em Caruaru. Ficamos muito amigos e ela me chamou para ser padrinho de sua filha mais nova. Que nasceu pouco tempo depois que ela deixou a faculdade em Pernambuco.

Fiz todo esse preâmbulo para dizer que hoje somos vizinhos, mas raramente nos encontramos. No entanto, tem uns dias que percebi algumas flores colocadas no vidro retrovisor do meu carro enquanto ele estava estacionado na garagem aqui do condomínio. Umas três ou quatro vezes, quando descia, essas rosas estavam lá. E eu me perguntava – quem danado tá deixando essas flores aqui. Essa semana, quando estava saindo de casa para o trabalho, coincidentemente encontrei com Clara. Ela estava fazendo caminhada aqui mesmo na área comum do condomínio. Nos cumprimentamos rapidamente, falamos sobre os filhos dela e foi quando ela me perguntou: tem percebido as rosinhas no seu carro? Só assim que matei a charada: ah, então é você quem está deixando aquelas rosas pra mim! E demos uma gargalhada.

Clarice é isso, sempre uma mãezona, sempre uma querida, podemos passar anos sem nos encontrar, mas sempre que a gente se vê é uma alegria. Porque uma coisa é certa: fica sempre um pouco de perfume, nas mãos que oferecem rosas. Obrigado clara.

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