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Benedito Antonio Luciano

Benedito Antonio Luciano

Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

Flores de Maio no Sapato Velho

Por Benedito Antonio Luciano
Publicado em 7 de maio de 2025 às 9:04

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No disco lançado pelo grupo carioca Roupa Nova, em 1981, destaca-se uma bela canção, intitulada “Sapato Velho”, composta por Maurício Magalhães de Carvalho (Mu), Cláudio Nucci e Paulinho Tapajós. Antes dessa gravação, a música “Sapato Velho” já havia sido gravada pelo Quarteto em Cy, em 1978, e por Paulinho Tapajós, em 1979, sendo regravada posteriormente por Cláudio Nucci no álbum “Direto no Coração”, lançado em 2021.

A melodia de “Sapato Velho” é lírica e envolvente, construída com frases longas e cantáveis. Esses atributos se entrelaçam com a harmonia sofisticada e os versos da letra, ricos em imagens poéticas, conforme pode ser visto em cada estrofe:

Você lembra, lembra?
Naquele tempo, eu tinha
Estrelas nos olhos e um jeito de herói
Era mais forte e veloz
Que qualquer mocinho de cowboy.

Nesta primeira estrofe, os versos são rememorativos e fazem referência aos personagens cinematográficos do gênero faroeste. Nela, o eu poético revisita o passado com nostalgia, lembrando-se de uma juventude idealizada e corajosa. A metáfora “estrelas nos olhos” sugere sonhos e brilho juvenil.

Você lembra, lembra?
Eu costumava andar bem
Mais de mil léguas pra poder buscar
Flores de maio azuis
E os teus cabelos enfeitar.

Essa estrofe reforça a ideia de dedicação e romantismo juvenil. A hipérbole “mais de mil léguas” ressalta a disposição do sujeito lírico para fazer grandes esforços por amor. Por sua vez, a imagem poética das “flores de maio azuis” evoca delicadeza, efemeridade e beleza natural. Já o gesto de enfeitar os cabelos é uma forma de mostrar carinho e afeição.

Água da fonte cansei de beber
Pra não envelhecer
Como quisesse roubar da manhã
Um lindo pôr de sol.

Aqui, a estrofe toca em temas como o tempo e o desejo de permanência na juventude. Beber “água da fonte” pode simbolizar a busca pela juventude eterna. O desejo de “roubar da manhã um lindo pôr de sol” é uma metáfora do paradoxo de querer deter o tempo: viver o fim dentro do começo e preservar a beleza do entardecer em plena aurora.

Hoje não colho mais
As flores de maio,
Nem sou mais veloz
Como os heróis.

Aqui emergem a aceitação e a resignação diante da passagem do tempo. O eu poético reconhece que já não possui a mesma energia e o romantismo de antes. No presente, as ações do passado deixaram de fazer sentido, indicando a chegada da maturidade. A estrofe, embora breve, marca uma transição fundamental entre o passado idealizado e o presente sereno — sem amargura.

É, talvez eu seja simplesmente
Como um sapato velho
Mas ainda sirvo, se você quiser,
Basta você me calçar
Que eu aqueço o frio dos seus pés.

A última estrofe traz uma poderosa metáfora de afeto e utilidade. O “sapato velho” representa, poeticamente, alguém que, apesar de já ter vivido muito, ainda tem valor e pode oferecer conforto e amor. O tom é de humildade e entrega, com uma sensível mensagem de permanência do afeto, mesmo em face do passar do tempo. A metáfora também nos convida à reflexão sobre relações duradouras — aquelas que “como um sapato velho”, resistem ao tempo.

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