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Padre e psicólogo.
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A estratégia de Jesus ir além dos Doze, com visão nacionalista, convocando os Setenta e Dois discípulos, com visão mais aberta sobre muitos assuntos (cf. Lc 10, 1-12. 17-20), faz-nos perceber o quanto Jesus precisava e precisa de pessoas ao seu lado com ideias corajosamente mais abertas. Enquanto o nacionalismo de Israel se arvorava da presunção de “raça eleita”, Jesus fazia acontecer à salvação para todos os povos (cf. Sl 65(66),1-3a.4-5.6-7a.16.20). E ESSE É O PANO DE FUNDO PARA COMPREENDER O EVANGELHO DE HOJE (Lc 10, 25-37).
Um Mestre da Lei perguntou a Jesus: “Mestre, o que devo fazer para alcançar a herança eterna?” (10,27). Ora, um Mestre da Lei chamando Jesus de “Mestre”! Esse é o tipo de falsidade curial que faz perguntas com o intuito de acusar alguém de alguma coisa. Jesus não demostra preocupação em falar das coisas do céu. Sua missão não está enraizada num transcendente abstrato, o céu não é a questão, mas a vida humana que tem sido um grande problema.
“O que diz a lei?” Como você ler?”. Para Jesus, não basta ler as Sagradas Escrituras, mas como está sendo interpretada. E a questão é se o bem do ser humano é colocado em primeiro lugar.
“Amarás o Senhor teu Deus (…) e ao próximo como a ti mesmo” (v. 27). Essa é a resposta acertada: “Fazes isto e viverás”. Aqui não se fala da vida eterna, mas fala desta vida, como caminho de vida eterna. Mas, essa é a resposta já esperada, o fariseu sabe que Jesus tem um ponto de vista mais amplo que o Sinédrio, sobre muitas coisas, então, ele vai mais além: “E quem é o meu próximo?” (v.29).
“Ele querendo se Justificar” (v. 29a). Na época de Jesus, havia um amplo debate de duas escolas rabínicas: rabi Shamai (mais rigorosa) e a de rabi Hillel (mais larga). Para Shamai o conceito de próximo era apenas aos de casa/ clã e tribo, mas na escola de Hillel se falava de um conceito de estrangeiro acolhido em Israel. A ideia de “querer justificar-se”, nos faz entender que ele está ligado a posição mais rigorosa. Como Jesus lhe responde?
Jesus responde com uma narrativa: “Certo homem descia de Jerusalém para Jericó” (v. 30). No evangelho de Lucas percebemos os vários caminhos feitos por Jesus: Jerusalém, Nazaré, Galileia, Cafarnaum. Nos Atos dos Apóstolos os discípulos de Jesus são considerados como “DISCÍPULOS DO CAMINHO”. O caminho é a metáfora do lugar da manifestação de Deus e não apenas Jerusalém. Para entender o evangelho é importante desancorar das estruturas de Jerusalém: sacerdote, levita e o seu nacionalismo.
Ao contar a história deste “certo homem caído” Jesus responde a questão: “Quem é o meu próximo?” e como viver autenticamente “o mandamento de Deus”. No evangelho, o próximo é qualquer pessoa que está no caminho da vida. Esta interpretação não vem da classe dirigente de Israel, mas de Jesus, que é o próprio samaritano da história: “o primogênito de toda a criação” (Cl 1, 15-20).
Este “certo homem vindo de Jerusalém”, como outros tantos, tinha ido ao Templo para louvar a Deus, mas agora está “caído” e nenhum judeu piedoso quer lhe ajudar.
“Por acaso, um sacerdote estava descendo por aquele caminho”. (Lc 10, 31). Suas roupas ainda estavam com cheiro de incenso. Ele estava em estado de graça. A ajuda do sacerdote seria o melhor a acontecer, mas o texto diz que “quando o viu o homem, seguiu por outro caminho”. (v. 32). “O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu adiante, pelo outro lado” (Lc 10, 31-32). Quem são estes? Os levitas são assistentes dos sacerdotes, eles deveriam também seguir as observações sobre doutrina da pureza.
A Lei de Israel fala do enérgico amor a Deus, mas relativiza o amor ao próximo. A doutrina lhe colou num dilema: ficar fiel aos preceitos que não permite tocar no impuro ou ajudar aquele caído? O ethos do mundo religioso se impôs nesse momento, e sempre se impõe: “passar adiante…seguir por outro caminho”. É O QUE ELES APRENDERAM DA TRADIÇÃO.
Essa é um queixa continua aos que frequentam a casa do Senhor ou que lá exercem algum ministério: SÃO PIEDOSOS, MAS FRIA — MENTE APÁTICOS.
A Parábola do Bom Samaritano tenta apaziguar as relações conflitantes entre Judeus e Samaritanos, amplia a visão sobre o que significa ser irmão e recorda que o amor e a misericórdia são estilos de vida dos que alcançaram a verdade do Reino de Deus. O Samaritano, que é Jesus, é o centro de reconciliação. Os seus discípulos devem seguir este mesmo caminho: “faça isso e viverás!”
“Compaixão e Misericórdia” são sentimentos divinos. Por isso, Paulo diz: “tenham os mesmos sentimentos de Cristo“ (Fl 2, 5ss). É o samaritano, rejeitado pelo povo de Israel, que age com os mesmos sentimentos divinos e não os que estão ancorados em preceitos doutrinais.
Jesus fazia o bem como forma de “dar sentido a vida” (Lc 10 34-35), por isso Ele diz: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10, 10), mas não fazia isso de modo mecânico. Ele sabia o “para quê” estava trabalhando (cf. Jo 10, 28-29).
No final do texto Jesus perguntou: “Na tua opinião, qual dos três foi o próximo?” (Lc 10, 36). O PRÓXIMO É TAMBÉM AQUELE QUE SE APROXIMA E AGE COM MISERICÓRDIA (v. 37). Aquele que tem fé não se caracteriza por cumprir preceitos de religião, mas o que se assemelha a Deus praticando a misericórdia e o amor. “Vai e fazes o mesmo” (v. 37b).
Concluímos com algumas provocações: Compreendemos Jesus? Você é mais de preceitos ou de misericórdia? Você compreende que está em estado de graça é agir com misericórdia mais do que viver de preceitos? Sabemos enxergar o sofrimento dos outros ou passamos para o outro lado do caminho? Quais respostas damos ao sofrimento do mundo atual? Sou livre e consciente para fazer o bem? Acredito imaturamente que está se enfeitando de religião me justifica mais diante de Deus do que fazer o bem?
Boa semana!
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