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O autor é economista, advogado, professor da Universidade Estadual da Paraíba e membro da Academia de Letras de Campina Grande.
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A literatura é a arte da palavra escrita ou oral que manifesta sentimentos da alma e da consciência, sob variadas formas, tais como a prosa e a poesia. Ela exige de quem escreve que se debruce sobre o sentido figurado das palavras buscando produzir um prazer estético. Daí ser o escritor um artista, por dominar a arte da palavra proporcionando ao leitor a percepção pelos sentidos da reprodução metafórica da realidade, ou seja, imita a realidade por meio de textos literários.
O escritor se obriga a garantir que sua obra é original, que não se utiliza do plágio que é antiético e inaceitável. Daí a sua responsabilidade ser tamanha, que é passível de responder ações judiciais pela utilização de domínios de terceiros como que sejam seus. Neste aspecto a produção literária “sui generis” hoje enfrenta uma situação de insegurança, por desconhecimento do leitor de como aquela obra tenha sido produzida.
A literatura, como de resto, outros setores do conhecimento humano, inclusive a ciência, acham-se ameaçados por pessoas não qualificadas que se utilizam da inteligência artificial para produzirem livros e trabalhos de texto os mais diversos, literários, científicos ou não. Escancaradamente vê-se nas redes sociais e em outros meios de comunicação, pessoas convidando pessoas a terem escritos seus livros em apenas alguns minutos, por apenas o pagamento de um valor insignificante, que lhes garante a criação da obra, sua edição, sua divulgação e sua comercialização em canais de venda.
Trata-se isto da figura de um escritor artificial, de um escritor que não é escritor, de um indivíduo que lidando com a inteligência artificial se encarrega de tudo isto produzir, de uma máquina de escrever livros. É a figura do “ghost writer” ou escritor fantasma, comum nos Estados Unidos, mas ilegal no Brasil, ante a lei da propriedade intelectual. Com mais rigor, trata-se, em verdade, de duas figuras, a do escritor artificial que paga para ter seu livro escrito e do escritor fantasma que o escreve. Em ambos os casos, um criminoso por falsidade ideológica.
Ademais, mesmo que esse escritor artificial informe ao leitor que seu livro foi produzido com a ferramenta da inteligência artificial, seu conteúdo não é produto de sua criação, de sua inteligência real, não se podendo admitir que o livro seja considerado obra de arte, porque artista o escritor artificial não é. Nem o escritor fantasma, que usando a mesma ferramenta da inteligência artificial apenas dá ao conteúdo uma falsa lógica e nada mais.
Portanto, não é escritor qualquer um que faça seus livros usando a inteligência artificial, da primeira à última página, da capa ao miolo. Ele pode com os livros até fazer o leitor pensar, se emocionar, se divertir, mesmo assim não será um verdadeiro escritor, porque lhe falta originalidade, teor criativo, expressão artística e responsabilidade social.
Escritor de verdade usa sua inteligência para escrever, escritores artificial e fantasma usam a inteligência artificial que não lhes é própria. Romance, conto, crônica, poema, cordel, qualquer escrito feito com inteligência artificial não tem a credibilidade de uma joia, é simplesmente bijuteria. Não tem mérito, porque nada saiu do esforço intelectual, da inteligência criativa. Os escritores conhecidos gozam dessa credibilidade, construída pela autenticidade ao longo do tempo que já escrevem. Os novos escritores necessitam assegurar que são escritores autênticos, escrevendo seus próprios livros sem o uso da inteligência artificial ou de outras artimanhas.
Que o verdadeiro escritor não seja tentado a escrever com inteligência artificial, pondo de lado sua própria inteligência. Se o fizer terminará por perder todo o seu glamour, todo o encanto que produz no seu leitor, todo senso de beleza que ele tem por sua obra. Mesmo uma pitada de inteligência artificial é comprometedora. Deixem-na para as atividades empresariais, não para as atividades intelectuais.
Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.
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