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Padre e psicólogo.
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A Liturgia deste domingo ensina-nos que a ação profética de Deus é compartilhada com seu povo, porém, de modo especial em Jesus, o Seu Filho. As palavras e ações de Jesus têm o sabor do Reino de Deus e este Reino não tem vocação de ser uma seita fechada, identificada com grupos e guetos legalistas, monótonos e puritanos.
A universalidade do espírito do evangelho é identidade dos discípulos que posteriormente foram chamados de cristãos católicos (Do grego katholikós, é a junção de dois termos gregos kata (sobre – junto) e holos (inteiro, todo, total)). Portanto, convém sempre dizer aos católicos com tendência a fechamentos, que não somos católicos por uma identidade meramente doutrinal, disciplinar e litúrgico, numa ideia esteticista. Somos católicos porque nos identificamos com o jeito de ser do Reino de Deus: todos somos irmãos, na diversidade de dons, ministérios e serviços.
Há uma mentalidade que rege a nossa vida onde dizemos: o meu grupo, a minha religião, a minha Igreja, o meu altar, o meu clube, a minha terra, o meu mundo, as minhas ideias. É muito forte o sentido de posse e de pertença que todos nós temos. Se por um lado a ideia da propriedade privada garanta segurança, privacidade, estabilidade na vida pessoal e familiar, me liga a ideia de conquistas, de felicidade, que salvaguarda a identidade e um ponto de convergência de minha existência nesse mundo. Por outro, quando não bem entendida, a ideia de “posse” pode me fechar a horizontes de possibilidades novas, de muitas restrições, de egoísmo. E esta mentalidade fere a lógica do Evangelho.
A ideia de “posse”, que se estende a muitos campos da vida, põe em evidencia aquilo que na psicanálise chamamos de “circuito dos afetos”. Apropriamo-nos de coisas e de pessoas, como algo absoluto, para sanar nossas inseguranças, angústias, vazios e o medo da solidão. Uma junção que se torna toxica quando patrocinada pelo materialismo-hedonista que temos refletido nestes últimos dias.
Diante da proposta do evangelho somos interpelados por posturas de cristãos que seguem ritmos de vida baseados não no evangelho, mas em mentalidades humanas. É dentro de estruturas assim, que o apóstolo Tiago vem nos chamando à atenção por causa de pecados cometidos por parte de cristãos: a exclusão, a discriminação, a predileção por devocionismos e o esquecimento da caridade, a ideia de paz sem justiça social, cristãos que apoiam guerras e a cultura armamentistas, salários não pagos equitativamente aos trabalhadores, preconceitos de toda espécie, etc…
A ideia saudável de “meu mundo” é aquela que me permite, a partir do ponto que vivo, ir ao encontro do outro e descobrir como Deus age na vida deste outro. Mas, se o meu ego, ou o meu grupo, ou a minha capela se fecham, me aprisionam e me limitam, isolando-me, erguendo muros e paredes, tornar-me-ão doente, esclerosado, raquítico. Facilmente imaginamos um espaço fechado, sem entrada de ar, de luz, de som! Ou a água estagnada! Assim acontece quando estamos ensimesmados!
Fazer “circular os afetos” ajuda-nos a ampliar a vida. Quando um líder eclesial escolhe apenas um grupinho para ser seu conselheiro estes começam a tratar os outros como meros súditos, distantes, sem visibilidade e participação, assim, a vida eclesial adoece. Quando nos fechamos apenas aos amigos que nos convém, as mesmas estratégias, regras, disciplinas, sem uma brecha de novo entendimento, tudo fica pesado demais.
O reino de Deus, instaurado, preconizado e plenizado por Jesus Cristo, é um reino inclusivo. Não tem fronteiras culturais, sociais, religiosas ou sexistas. É abrangente. É universal: dirigido e acessível a todos. Esta inclusão começa pelos últimos, pelos mais frágeis e desfavorecidos. E porquê? Eu vim para todos!
Aí reside a ação do Espírito Santo que sopra onde quer. As resistências por parte de muitos pode ser um sinal de ciúmes e de inveja. Como diz Tiago: “de onde vem as brigas, a cobiça, as guerras, as intrigas, os conflitos, as fofocas depreciativas, caridade fingida, o carreirismo… se não das paixões que estão dentro de vós e de vossos guetos” (cf. Tg 3,16-4,3).
O caminho do cristão é caminho das Bem-aventuranças, proposto e vivido por Jesus. É o caminho da resiliência perante o mal e da insistência em fazer o bem, na luta pela justiça social equitativa, na teimosia da inclusão, partilha e solidariedade, pois “o que fizemos ao menor dos irmãos é a Cristo que o fazemos!” (cf Mt 25, 40). LEMBRA-TE QUE ÉS DE CRISTO!
Boa semana!
Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.
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