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Madalena Barros

Madalena Barros

Jornalista, Pós-Graduada em Comunicação Educacional, Gerente de Negócios das marcas Natura e Avon.

Entre espinhos, intuições e um pouco de calor humano

Por Madalena Barros
Publicado em 8 de agosto de 2025 às 10:00

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Na Era Glacial – aquele perrengue jurássico em que até o pensamento congelava, os porcos-espinhos se viram em uma baita encruzilhada existencial: ou se grudavam uns nos outros para esquentar, ou viravam picolé de espinho no meio do nada.

Mas, como nada nessa vida vem fácil, havia um pequeno detalhe: porcos-espinhos são basicamente bolinhas de espeto ambulante. Ao se aproximarem, começaram as espetadas. Um espetava o outro sem querer (às vezes querendo, vai saber), e era uma sinfonia de “ai!”, “ui”, “sai!”, “foi mal!”, “sai pra lá” e “guarda esse espinho aí, camarada!”. Os mais sensíveis resolveram se afastar,  afinal, ninguém gosta de ser furado sem anestesia. Resultado? Congelaram literalmente. Viraram peças de museu.

Já os outros, aqueles com um pouco mais de casca grossa, ou só mais noção de sobrevivência, decidiram aguentar. Ficaram ali, todos espetados, cutucados, uns de costas pra outros, mas juntos. E adivinha? Aqueles foram os que sobreviveram. Aprenderam a dançar com os espinhos alheios, descobriram as melhores posições para espetar menos e esquentar mais. A arte do convívio nasceu ali: entre farpas e calores.

Avançando algumas eras e muita evolução, a verdade é que continuamos sendo um bando de porco-espinho tentando não congelar nesse mundo cada vez mais gelado emocionalmente. E não é fácil. Principalmente pra quem, como eu, é intuitiva, sensitiva e lê energia como quem lê cardápio: rapidinho e já sabendo se vai cair bem ou dar dor de barriga.

Tem gente que, só de se aproximar, dá vontade de passar um repelente energético, acender um incenso, fazer o sinal da cruz e dar três pulinhos pra trás. Mas a energia não mente. Ela se sente. E não importa se vem com sorriso no rosto e voz doce: se a alma grita de peso, eu escuto. Meu radar espiritual é tipo Wi-Fi bom: pega até no subterrâneo.

Mesmo assim, assim como os porcos-espinhos, precisamos conviver. No trabalho, nos núcleos sociais, no trânsito, na padaria… às vezes até na própria família. Conviver com quem a gente gosta já exige jogo de cintura, imagina com quem espeta de graça?

Mas a beleza disso tudo é que a vida também ensina a dosar. A manter uma distância segura. A perceber quem esquenta sem furar demais e quem só chega com espinho afiado e coração gelado.

E aí, quando a coisa aperta, quando o frio aperta, quando a vida aperta, descobrimos que é melhor aguentar umas espetadinhas aqui e ali do que congelar sozinhos, porque, como bem disse Fernando Pessoa, o poeta é um fingidor:

“Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”

E às vezes é isso mesmo que fazemos: fingimos não nos incomodar tanto, disfarçamos o incômodo, sorrimos meio torto e tudo para sobreviver aos espinhos e não morrer de frio.

Viver é um pouco isso: equilibrar espinhos e abraços, intuição e tolerância, dor e calor humano e no fim das contas, viver entre espinhos é a condição humana disfarçada de convivência. É escolher, todos os dias, quem vale a espetada e quem é só espinho sem calor.

Que a gente aprenda a suportar o desconforto que aquece… e a se afastar do frio que congela por dentro.

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