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Padre e psicólogo.
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A primeira leitura (Isaías 53, 10-11) fala-nos de um “servo de Deus”, que cumpri sua existência na terra no meio de sofrimento e desprezo. Porém, Deus o exaltou e glorificou. São quatro cânticos (Isaías 42, 1-9/ 49, 1-7/ 50, 4-11/ 52, 13-53,12). E porque eles são tão importantes?
Eles são os únicos textos que falam de um ser humano se oferecendo em sacrifício pelo perdão dos pecados do povo de Israel e da humanidade. Não é comum, ao longo da Sagrada Escritura, essa idéia de sacrifícios humanos.
No Antigo Testamento Deus não permite que Abraão ofereça Isaac (seu filho) como sacrifício, no lugar do menino, um cordeiro. Depois, os judeus, ofereciam garrotes, cordeiros e até mesmo pombinhos. No entanto, este profeta misterioso (que não se atribui ao personagem Isaías, mas um segundo / “deutero”-Isaías) anuncia alguem que viria e sofreria muito, seria desprezado, humilhado e suportaria com paciência pela humanidade.
Quem é este servo? A profecia converge para Jesus: “O Senhor quis macerá-lo com sofrimentos” (v. 10). Estranho ouvir que “O Senhor quis”. Será que Deus é sádico? Impiedoso e que gosta de fazer os outros sofrerem? De forma alguma. Mas, então, porque permitiu? Porque incluiu no seu plano divino de amor e de salvação um Filho Crucificado?
O Senhor permitiu “quis” que na cruz do Seu Filho estivesse a cruz do mundo. Ao falar da justificação em Cristo e não mais na lei de Moisés, em Gálatas (3, 13), Paulo recorda que a Lei de Moisés (Dt 21, 22-23) acusou os crucificados deste mundo, incluíndo o Filho de Deus que foi submetido à ela, de Maldito.
Foi Jesus de quem o profeta falou: “Ele tomou sobre si as nossas dores” (Is 53, 4-5). Ele abraçou os nossos sofrimentos, a dor do inocente que é pisado, de um morador de rua que atearam fogo simplesmente por estar dormindo na rua, a dor de uma criança rejeitada ou doente, a dor de um jovem que ouviu dos pais dizer-lhe que preferiam vê-lo morto numa tragédia (um botijão estourando perto dele) do que ele ter uma certa orientação sexual divergente do padrão, ou mesmo um jovem morto por bala perdida, de alguém que foi excluído por causa de sua cor, etnia, região, gênero.
Ele assumiu as dores daqueles que estão nos hospitais, no cansaço de quem trabalha, no desespero pelo pão de cada dia, na superação de um vício, no sofrimento daquele que fica segurando uma bandeira de um candidato (o dia inteiro) para ganhar uma ajuda de custo para sustentar sua casa, etc….FOI POR VOCÊ. Jesus quis, na sua cruz, mostrar a dor do mundo. Ele não quis explicar a cruz, mas participar da cruz.
O texto diz “Oferecendo sua vida em expiação dos pecados” (Is 53, 10b). Não é um suicídio, mas oferecer a vida para perdoar os pecados de outros. Na celebração eucarística recordamos as palavras de Jesus: “Meu sangue será derramado por vós e por todos, para a remissão dos pecados” (Mt 25, 28-30).
O texto ainda diz “Ele terá uma descendência duradoura” (Sl 89,36-37). Quem seria esta descendência? É a Igreja, você, eu, nós…o mundo. O primeiro papa da Igreja (Pedro) vai dizer em sua carta “O preço da nossa salvação foi o sangue preciso de Jesus Cristo, como um cordeiro sem mancha e sem mácula” (1Pd 1, 19).
Este servo que também é cordeiro foi apresentado por João Batista “Eis o servo/cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29).
A estranheza continua, com a pergunta: Porque Deus abandonou seu Filho Jesus? Não. Exatamente pela cruz ele terá descendência duradoura. E cumprir com êxito a vontade do Senhor.
Meus irmãos, quantos de nós também poderíamos dizer as muitas decepções, nossas dúvidas, angústias… nada de “Engula o choro”, mas “viva unido a Cristo. Jesus sofreu por você.
“Por esta vida de sofrimento” (Hb 53, 11). A vida de Jesus foi pontuada de momentos tristes: não tinha lugar para nascer, perseguido desde criança, incompreendido pela família, não tinha onde reclinar a cabeça, não tinha tempo nem para comer, ao lado de amigos que quase nunca lhe compreendia, sofreu criticas duras por parte das autoridades de seu povo, a lentidão do povo, a rejeição de seu povo.
Na Carta aos Hebreus (5, 7) diz que “durante a sua vida terrena, muitas vezes chorou pedindo ao Pai que lhe livrasse da morte. E foi atendido”. Porém, convém dizer que foi atendido, mas passando pela cruz. Como a pedagogia de Deus é estranha! Deus não livrou Jesus da Cruz, mas o livrou da morte eterna.
A Carta aos hebreus ainda diz que “por esta vida de sofrimento alcançará luz e uma ciência perfeita” (Hb 53, 11). Na sua condição humana, como a nossa, Jesus foi aprendendo a vontade do Pai. Na ressurreição, Jesus alcança a luz. Não é por acaso que na Carta aos Hebreus se diz “Jesus é o autor e consumador de nossa fé”. (Hb 12, 12).
Se nos serve de consolação esta palavra, guarde-a: o caminho que Jesus fez, você também faz. Paulo, apóstolo, disse: “O que faltou na paixão de Cristo, complete na minha carne” (Col 1, 24), “Tende os mesmos sentimentos de Cristo” (Fl 2, 5s).
“Meu servo, o justo, fará justo inúmeros homens, carregando sobre si as suas culpas” (Is 13, 11). Porque obedeceu, Jesus, torna santo todo aquele que Nele crer (Hb 5, 8-9/ Jo 3, 16/Rm 10, 11) e no seu nome se abandona e segue seus passos.
Certamente, essa era a conversa que Jesus tinha com seus discípulos, no caminho. Mas, eles não só não entenderam, mas também fizeram um pouco de resistência. No caminho, estavam preocupados em ser eleitos em posições de destaques, não de serviços. Querem posições, não serviço de resgate para muitos.
Hoje, ouvido a Palavra de Deus, pensamos que é urgente pessoas convertidas (em nossas comunidades) que abracem o projeto de Jesus sem vias de posição, carreirismo, privilégios, mas simplesmente pela causa do evangelho.
Temos uma vida pela frente para compreender os sentimentos de Cristo na nossa história de vida. É fundamental converter-se para lavar os pés. Cuidemos para que, estando perto de Jesus, longe dele.
Da cruz à luz
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