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Benedito Antonio Luciano

Benedito Antonio Luciano

Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

Domingo no parque

Por Benedito Antonio Luciano
Publicado em 12 de junho de 2024 às 8:08

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A composição “Domingo no parque”, apresentada por Gilberto Gil e Os Mutantes no III Festival da MPB da TV Record, em 1967, obteve o segundo lugar, sendo sobrepujada pela música “Ponteio”, composta por Edu Lobo e Capinan.

O arranjo do maestro Rogério Duprat e a letra muito bem trabalhada de “Domingo no parque” são espetaculares. A imagens e os cortes são cinematográficos.

Na abertura, os sons da orquestra se fundem com os das guitarras, com o toque sincopado do berimbau (roda de capoeira) e outros ruídos que remetem aos barulhos característicos de um parque de diversão.

Na letra, o que se percebe é o relato de uma tragédia passional, envolvendo três personagens: o feirante José (“rei da brincadeira”), o capoeirista João (“rei da confusão”) e Juliana, pivô da tragédia que resultou num desfecho violento.

Seguem os versos da abertura, na qual os personagens masculinos são apresentados: “O rei da brincadeira – ê, José /O rei da confusão – ê, João /Um trabalhava na feira – ê, José/Outro na construção – ê, João”.

Curioso, o nome de cada personagem começa com a letra J. No caso particular do personagem João, teria Gilberto Gil se inspirado em “João Valentão”, samba-canção gravado Dorival Caymmi, em 1953?

Na segunda estrofe, os versos são os seguintes: “A semana passada, no fim da semana/João resolveu não brigar/No domingo de tarde saiu apressado/E não foi pra Ribeira jogar/Capoeira /Não foi pra lá/Pra Ribeira /Foi namorar”. Para quem não conhece, Ribeira é o nome de um dos bairros de Salvador-BA.

Sem comentário adicional, seguem os versos da terceira estrofe: “O José como sempre no fim da semana/Guardou a barraca e sumiu/Foi fazer no domingo um passeio no parque/Lá perto da Boca do Rio/ Foi no parque/Que ele avistou/Juliana/ Foi que ele viu”. Boca do Rio, no quarto verso, é o nome de outro bairro de Salvador, distante cerca de 14 km do bairro da Ribeira.

É na quarta estrofe que a personagem Juliana é introduzida no enredo: “Juliana na roda com João/Uma rosa e um sorvete na mão/Juliana seu sonho, uma ilusão/Juliana e amigo João/ O espinho da rosa feriu Zé/E o sorvete gelou seu coração”.

Na quinta e na sexta estrofes, não foram feitas alusões às cores da rosa e do sorvete: “O sorvete e a rosa (ô, José) / A rosa e o sorvete (ô, José) / Oi dançando no peito (ô, José) / Do José brincalhão (ô, José) // O sorvete e a rosa (ô, José) / A rosa e o sorvete (ô, José) / Oi, girando na mente (ô, José) / Do José brincalhão (ô, José) ”.

Na sétima estrofe, como preparação para o clímax da narrativa, o foco é o giro da roda-gigante e na oitava estrofe, as cores vermelhas da rosa e do sorvete foram introduzidas, anunciando o desfecho sangrento (“olha a faca! ”): Juliana girando (oi, girando) / Oi, na roda-gigante (oi, girando) / Oi na roda-gigante (oi, girando) / O amigo João (oi, João) // O sorvete é morango (é vermelho) / Oi girando e a rosa (é vermelha) / Oi, girando, girando (é vermelha) / Oi, girando, girando/ Olha a faca! (Olha a faca!).

A tragédia é consumada na nona estrofe e sua consequência descrita nos quatro versos da décima estrofe: “Olha o sangue na mão (ê, José) / Juliana no chão (ê, José) / Outro corpo caído (ê, José) // Amanhã não tem feira (ê, José) / Não tem mais construção (ê, João) / Não tem mais brincadeira (ê, José) / Não tem mais confusão (ê, João).

Ao término da última estrofe, cantada de forma dolente por Gilberto Gil, o tema musical da abertura é retomado de maneira frenética, como se depois da tragédia tudo voltasse ao normal naquela tarde de domingo no parque. Cena final. “THE END”.

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