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Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
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A composição “Domingo no parque”, apresentada por Gilberto Gil e Os Mutantes no III Festival da MPB da TV Record, em 1967, obteve o segundo lugar, sendo sobrepujada pela música “Ponteio”, composta por Edu Lobo e Capinan.
O arranjo do maestro Rogério Duprat e a letra muito bem trabalhada de “Domingo no parque” são espetaculares. A imagens e os cortes são cinematográficos.
Na abertura, os sons da orquestra se fundem com os das guitarras, com o toque sincopado do berimbau (roda de capoeira) e outros ruídos que remetem aos barulhos característicos de um parque de diversão.
Na letra, o que se percebe é o relato de uma tragédia passional, envolvendo três personagens: o feirante José (“rei da brincadeira”), o capoeirista João (“rei da confusão”) e Juliana, pivô da tragédia que resultou num desfecho violento.
Seguem os versos da abertura, na qual os personagens masculinos são apresentados: “O rei da brincadeira – ê, José /O rei da confusão – ê, João /Um trabalhava na feira – ê, José/Outro na construção – ê, João”.
Curioso, o nome de cada personagem começa com a letra J. No caso particular do personagem João, teria Gilberto Gil se inspirado em “João Valentão”, samba-canção gravado Dorival Caymmi, em 1953?
Na segunda estrofe, os versos são os seguintes: “A semana passada, no fim da semana/João resolveu não brigar/No domingo de tarde saiu apressado/E não foi pra Ribeira jogar/Capoeira /Não foi pra lá/Pra Ribeira /Foi namorar”. Para quem não conhece, Ribeira é o nome de um dos bairros de Salvador-BA.
Sem comentário adicional, seguem os versos da terceira estrofe: “O José como sempre no fim da semana/Guardou a barraca e sumiu/Foi fazer no domingo um passeio no parque/Lá perto da Boca do Rio/ Foi no parque/Que ele avistou/Juliana/ Foi que ele viu”. Boca do Rio, no quarto verso, é o nome de outro bairro de Salvador, distante cerca de 14 km do bairro da Ribeira.
É na quarta estrofe que a personagem Juliana é introduzida no enredo: “Juliana na roda com João/Uma rosa e um sorvete na mão/Juliana seu sonho, uma ilusão/Juliana e amigo João/ O espinho da rosa feriu Zé/E o sorvete gelou seu coração”.
Na quinta e na sexta estrofes, não foram feitas alusões às cores da rosa e do sorvete: “O sorvete e a rosa (ô, José) / A rosa e o sorvete (ô, José) / Oi dançando no peito (ô, José) / Do José brincalhão (ô, José) // O sorvete e a rosa (ô, José) / A rosa e o sorvete (ô, José) / Oi, girando na mente (ô, José) / Do José brincalhão (ô, José) ”.
Na sétima estrofe, como preparação para o clímax da narrativa, o foco é o giro da roda-gigante e na oitava estrofe, as cores vermelhas da rosa e do sorvete foram introduzidas, anunciando o desfecho sangrento (“olha a faca! ”): Juliana girando (oi, girando) / Oi, na roda-gigante (oi, girando) / Oi na roda-gigante (oi, girando) / O amigo João (oi, João) // O sorvete é morango (é vermelho) / Oi girando e a rosa (é vermelha) / Oi, girando, girando (é vermelha) / Oi, girando, girando/ Olha a faca! (Olha a faca!).
A tragédia é consumada na nona estrofe e sua consequência descrita nos quatro versos da décima estrofe: “Olha o sangue na mão (ê, José) / Juliana no chão (ê, José) / Outro corpo caído (ê, José) // Amanhã não tem feira (ê, José) / Não tem mais construção (ê, João) / Não tem mais brincadeira (ê, José) / Não tem mais confusão (ê, João).
Ao término da última estrofe, cantada de forma dolente por Gilberto Gil, o tema musical da abertura é retomado de maneira frenética, como se depois da tragédia tudo voltasse ao normal naquela tarde de domingo no parque. Cena final. “THE END”.
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