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Madalena Barros

Madalena Barros

Jornalista, Pós-Graduada em Comunicação Educacional, Gerente de Negócios das marcas Natura e Avon.

“Diálogo com Você” – Saudade: a alma das memórias

Por Madalena Barros
Publicado em 10 de janeiro de 2025 às 8:29

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Saudade é um abraço que o tempo nos dá.

É aquela vontade de voltar no tempo e viver tudo de novo.

É o cheiro que chega forte com o simples fechar de olhos e tudo volta num átimo.

É uma lembrança que vem sem pedir licença, preenchendo os dias com um misto de alegria e melancolia, com aquela pergunta: por que não aproveitei? Por que não fui? Por que não perguntei? Por que não falei que amava? Por que não amei um pouco mais ou mais um tanto?

Quem nunca sentiu saudade de um cheiro, de um sabor ou de um lugar que parecia ter ficado esquecido no tempo? Basta uma simples lufada de alguém que passa, de uma flor que exala, de um lugar que você vê, do cheiro de bugaris que remete a casa materna onde as manhãs eram invadidas por este cheiro bom. Neste momento, parece que o tempo traz o passado em um rasgo, que nem ele se dá conta.

Às vezes, ela vem com cheiros: do pão saindo do forno na casa da avó, do café torrado no tacho em fogão de lenha, de terra molhada das primeiras chuvas exalando um perfume único, da lembrança tão vívida do avô com os braços abertos na janela em plena madrugada para receber a água, como se fosse benta, depois de 7 anos de seca. É aquele lugar mágico onde a infância parecia eterna.

E a cozinha? Era um templo, e cada refeição, um ritual sagrado de amor. A colher de pau batendo na panela, o cuscuz feito de milho moído na hora, depois cozinhado no bafo da panela com a iguaria num prato de estanho virado de cabeça para baixo, envolvido num pano branquinho; a toalha xadrez estendida e o riso leve ao redor da mesa, eram a prova de que a felicidade mora nas pequenas coisas.

Há também a saudade dos lugares. A rua da infância, os jogos de baleadas, de amarelinha, de bicicleta alugada, onde cada esquina era um novo universo mesmo que fossem cruzadas diariamente.

E o campinho de futebol com chão batido, que também era pasto do gado, reunindo a gurizada aos domingos para assistir peladas, mesmo que ninguém entendesse patavina, e ainda assim torcendo por qualquer gol. E os desvios dos estercos de boi deixados durante a semana? O riso corria solto quando algum desavisado metia o pé. Momentos hilários, quando alguém pisava mais de uma vez, sempre vinha a expressão que arrancava as melhores gargalhadas: “Que merda, já pisei nessa bosta duas vezes”!

Hoje, nesses lugares existem casas, escolas, bancos. Tudo tão diferentes, mas na memória, eles permanecem intactos, congelados em um instante perfeito.

E os amigos? Aqueles que nos ensinaram o valor de dividir um lanche, um segredo, uma travessura, ensaio de danças imitando chacretes, os “assustados” com radiolas em seus móveis majestosos que ocupavam lugar de honra nas salas. Os discos de vinil segurados com as pontas dos dedos para não arranhar, senão a agulha pulava e repetia uma frase da música. Cuidado aí menino!

Como é bom lembrar das conversas à toa, dos risos que faziam doer a barriga, da cumplicidade que parecia nunca acabar.

Com o tempo, muitos seguiram caminhos diferentes, mas o elo permanece, invisível, indestrutível.

A saudade também tem sabor. O gosto do doce de goiaba, de cajú, de araçá com gotas de orvalho colhidos cedinho, castanha torrada num tacho improvisado sobre uma laje, que depois pareciam carvão, e quando quebradas, revelavam a deliciosa iguaria, que na medida de 5, apenas uma ia para a tigela.

Tudo era feito em casa, não existia delivery. A pipoca estourando na panela, a fruta colhida diretamente do pé. São sabores que a gente prova com o coração e que nunca mais se repetem exatamente do mesmo jeito, porque eles não estavam apenas no alimento, mas no momento em que vivemos.

Sentimos saudade e é muito bom sentir. É bom sentir saudades até dos sentimentos. Do frio na barriga da primeira paixão, do calor do colo da mãe, da segurança do abraço do pai.

A saudade é um lembrete de que amamos, de que vivemos momentos que valeram a pena.

E no fim, saudade não é só ausência, é presença. É a forma que a memória encontra para nos fazer companhia. É a prova de que, aquilo que foi bom nunca se perde de verdade.

Então, ao sentir saudade, não a rejeite.

Acolha-a como quem acolhe um velho amigo. Porque a saudade é isso: uma ponte entre o que fomos e o que somos, uma carta de amor escrita pelo tempo.

E para finalizar, me aproprio de um trecho do Poeta Antonio Pereira, Paraibano da cidade de Livramento , conhecido como o Poeta da Saudade que disse: “Saudade mata? Mas dessa morte eu me esquivo. Como morrer de saudade, se é de saudade que eu vivo!”

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