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Jornalista, Pós-Graduada em Comunicação Educacional, Gerente de Negócios das marcas Natura e Avon.
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Ao longo de 32 anos que trabalho na Natura, por ter um público feminino dominante e uma relação de proximidade com a rede, ouvi relatos arrepiantes e inacreditáveis. Se é angustiante ouvir, viver é no mínimo o inferno em vida.
Em pleno século XXI, ainda é alarmante perceber o número de mulheres que vivem em relações tóxicas, abusivas e agressivas, muitas vezes sem sequer reconhecer a violência a que estão submetidas. A liberdade dessas mulheres é cerceada de maneira tão sutil e persistente que, para elas, torna-se quase imperceptível. E, por mais que os sinais estejam presentes, a própria normalização da violência, reforçada por contextos familiares e sociais, acaba tornando essa realidade ainda mais cruel.
Não raro, são mulheres que, por dependência financeira ou emocional, aceitam situações que ferem sua dignidade e limitam sua autonomia. Para muitas, crescer em lares onde suas mães ou outras figuras femininas enfrentavam o mesmo tipo de abuso, solidifica a ideia de que esse é um destino inevitável. “Minha mãe, a mãe da minha mãe, a tia… passaram por isso, então é normal”, pensam. E assim, o ciclo de opressão se perpetua de geração em geração, até que uma dá um basta e quebra o paradigma.
A dependência emocional é um dos grilhões mais difíceis de romper. Ela se manifesta de forma insidiosa, fazendo a mulher acreditar que, sem aquela relação, sua vida perderá sentido. Essa crença é alimentada por anos de manipulação, desvalorização e isolamento. Muitas não têm liberdade sequer para sair sozinhas, encontrar amigas ou, em casos extremos, visitar a própria família. É um controle que se mascara de “cuidado”, mas que na verdade é pura opressão.
O que é ainda mais preocupante é que muitas mulheres só reconhecem a violência quando ela deixa marcas físicas. Enquanto não houver tapas, socos e empurrões, a agressão é invisível. No entanto, as feridas morais e emocionais podem ser ainda mais profundas e difíceis de curar. Um tapa fere o corpo, mas as palavras cruéis, o silenciamento, o desprezo e o controle excessivo atingem diretamente a alma. Elas deixam cicatrizes invisíveis que minam a autoestima e corroem o espírito.
É fundamental romper esse ciclo. A conscientização é o primeiro passo. Precisamos falar sobre esses tapas emocionais e morais, dar nome à violência psicológica, desnaturalizar comportamentos abusivos. As mulheres precisam entender que sua liberdade é um direito inegociável, e que relações saudáveis não impõem grades, sejam elas físicas ou invisíveis.
Além disso, é essencial criar redes de apoio, para que essas mulheres saibam que não estão sozinhas. Amigas, familiares, profissionais de saúde mental, grupos comunitários e empresas com responsabilidade social, podem desempenhar um papel crucial nesse processo de emancipação. Também é papel da sociedade como um todo combater as estruturas que perpetuam a desigualdade e a dependência, oferecendo oportunidades para que as mulheres conquistem independência financeira e emocional.
Como reconhecer relações tóxicas ou abusivas?
As relações tóxicas se caracterizam por dinâmicas prejudiciais, sem necessidade de violência física. Em geral afetam negativamente o bem estar emocional, desenvolvendo comportamentos de timidez, insegurança e depressivos. O controle excessivo se faz presente neste tipo de relacionamento, onde imperam a desconfiança constante de forma torturante e possessividade doentia, que tem como base a manipulação emocional (chantagem emocional e uso de culpa), seguida de falta de respeito, desvalorização e desdém. A comunicação fica ruim, com discussões frequentes e incapacidade de resolver conflitos de maneira construtiva.
A relação Abusiva vai além do emocional, podendo incluir violência psicológica, física, sexual, financeira ou até mesmo social. É diferente de uma relação tóxica, já que o abuso é uma forma de exercer poder e controle sobre a parceira, deixando-a em situação de submissão. Para distinguir, as relações abusivas envolvem agressões físicas que envolvem vontade de machucar. Também vem em forma de ameaças, com uso do medo para controle, como ameaçar o outro ou a si mesmo. Envolve afastamento dos amigos, familiares ou impedindo que trabalhe para torná-la ainda mais dependente. A humilhação é constante com insultos, xingamentos e tentativas de reduzir a autoestima a sola do pé. Entre outros temas que envolvem uma relação abusiva, estão a de sobrevivencia, que o controle financeiro e a violência sexual, forçando ou coagindo a praticas contra sua vontade.
O que distingue uma relação abusiva de uma tóxica é a presença da violência explícita e a intenção de manter controle absoluto. As relações abusivas seguem um ciclo de abuso: tensões, acúmulo emocional, explosões de violência, seguidos de pedidos de desculpas, de perdão, de nunca mais fazer isso, apenas para o ciclo começar de novo e de novo… e às vezes esse abuso termina em tragédia. Em 2024 na Paraíba houve 20 e no Brasil 1.128 mortes por feminicídios. Isso precisa acabar. Vamos cuidar para que a partir de 2025 nosso País e nosso Estados sejam mais seguros para a classe feminina.
Como reconhecer e como sair de relacionamentos dessa natureza?
Reflita sobre a relação, pergunte-se como se sente e seja honesta com você mesma, avalie se é respeitada, se é ouvida, ou se na parceria existe um lado com maior poder. Converse com pessoas confiáveis. Saia do olho do furacão e se perceba de longe através do olhar dos que lhe ama. Busque ajuda profissional: terapia faz milagres. Por fim, procure ajuda na justiça, em ONGs e rede de apoio especializada em violência doméstica.
Toda mulher merece ser livre. Livre para sair, para sonhar, para ser inteira, para ser quem é. Livre para viver sem medo e sem correntes. Reconhecer as agressões, sejam elas físicas, emocionais ou morais, é o primeiro passo para construir uma vida plena e digna.
Como disse inicialmente, para escrever este texto, fui pesquisar, estudar, buscar diálogos e vivência com mulheres extraordinárias que conheci ao longo de minha jornada de quase 33 anos na Natura, que tiveram libertação com o entendimento de que a independência financeira era uma alavanca poderosa para resgate de autoestima e defesa da legitimidade de seu inegociável espaço na vida e o direito de se pertencer.
Jamais permita que sua alma fique tão ferida quando há tanto para viver.
Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.
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