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Edjamir Sousa Silva

Edjamir Sousa Silva

Padre e psicólogo.

Deu graças e partilhou

Por Edjamir Sousa Silva
Publicado em 28 de julho de 2024 às 21:04

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Na liturgia dominical deste ano estamos lendo o Evangelho de Marcos. Recordamos que domingo passado, no evangelho, “Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor” (cf. Mc 6, 30-34). Em Mateus (9, 36-38) a cena da compaixão de Jesus é descrita por ver o povo aflito, desamparado, no submundo de uma dura existência.

Hoje acompanharemos Jesus no Evangelho de João Jo 6,1-15 numa ampliada catequese eucarística e o sinal concreto do “pão da vida”. É uma catequese ampliada da narrativa dos pães do evangelho de Marcos.

A cena se desloca de Jerusalém para as periferias da Galiléia (Jo 6, 1). E como em Marcos (6,33-34), uma multidão vai atrás dele.

O texto ainda nos diz uma coisa interessante: “estava próxima a festa da Páscoa dos judeus” (Jo 6, 4). Era comum que as pessoas subissem a cidade de Jerusalém para as celebrações da festa da libertação (Memória da saída do Egito). Agora, o povo estava indo ao encontro do novo Moisés (Jesus) que com seus sinais de libertação (eucarísticos) trazia vida para todos (compaixão, misericórdia, compreensão, partilha, perdão, leveza dos fardos, vida digna para todos…).

O POVO TEM FOME. Eles estão diante do impasse de alimentar numerosa multidão com tão pouco. Jesus sabe o que quer e como vai agir. Ele toma a iniciativa mesmo sabendo como ia resolver.

Filipe tem a mesma atitude do servo do profeta Eliseu (2Rs 4,21-44). Ele também acreditava que para partilhar é preciso antes acumular e logo fez um calculo de quanto deveria gastar e pensa que duzentos denários não bastam para que cada um receba um pouco de pão (um denário parece ser a diária de um lavrador: (cf Mc 6, 38. Mt 20,2).

O discípulo André, ainda que meio tímido, arrisca em dizer que há um menino com cinco pães de cevada e dois peixinhos (Jo 6, 9), mas também não acredita que a partilha resolva.. João apresenta esse personagem com pães e peixes para recordar Eliseu.

Como numa mesa Jesus senta e pede para que eles também sentem. O Filho de Deus senta à mesa com os pobres. Ele toma os pães e, dizendo a ação de graças (em grego: eucharistia), distribui. Faz o mesmo com os peixinhos. Os gestos e as palavras usados são os mesmos da celebração dos primeiros cristãos como testemunho do que eles aprenderam de Jesus. É A NOVA PÁSCOA.

Na perspectiva da cristologia joanina o que Jesus faz vem do alto e supera a ideologia mundana do mercado do ter muito dinheiro para fazer alguma coisa. A Sabedoria do alto chama os discípulos para partilhar. Jesus se levanta e vai servi-los. Ele é o provedor que ensina com gestos eucarísticos como matar a fome do povo.

Nesse clima eucarístico/partilha, “vendo o sinal que Jesus tinha realizado” (Jo 6, 14) o povo “queria proclamá-lo rei” (v. 15). Imaginemos que Jesus já estivesse até ouvindo gritos e brados de “Viva a Jesus Rei! Ele impera!”, mas a boa modéstia de Jesus não admitiu/nem admite esses alvoroços. Ele simplesmente sai de cena (v. 15) para não alimentar uma imagem errônea dele e nem despertar a insanidade do desejo do poder entre os seus mais próximos colaboradores (cf. Mt 20, 20-23). COM ESSES CONTRAVALORES, JESUS SEMPRE SAI DE CENA.

Com gestos de misericórdia e compaixão Jesus concretiza a esperança do Povo de Israel. Este é o sinal concreto na vida de quem celebra a eucaristia. O carinho e atenção para com os mais pobres, a libertação dos oprimidos, a luta pela dignidade humana…o sair dos círculos de poderes insanos para servir sem interesses é o sentido real que aquele Jovem de Nazaré (Jesus) deu a eucaristia.

Na segunda leitura (Efésios 4,1-6) Paulo ainda lembra que a fé em Jesus transforma a vida dos discípulos e comunidades seguindo os princípios cristãos: “humildade, paciência, mansidão e amor” (v.2). Quem come do pão que é Jesus se converte num discípulo Seu e deverá defender a vida na unidade, mesmo sabendo das diferenças que caracterizam os membros da comunidade: “há um só corpo, um só espirito, como também é uma só esperança a qual fomos chamados. Há uma só fé, um só Senhor batismo, um só Deus e Pai de todos” (v.v. 4-6). Por isso, precisamos viver em unidade vencendo as forças daquilo que exclui e divide.

Se a eucaristia que diariamente ou semanalmente participamos e as longas e emotivas adorações ao Santíssimo não nos despertam para sair do simbólico ao real…do “eu” ao “outro” é sinal que não estamos entendendo Jesus.

Que a mesa da nossa casa seja bendita, que nunca falte a gratidão e a partilha. Recordemos as bonitas e justas lições de nossos antepassados que rezavam: “O pouco com Deus é o muito e o muito sem Deus é nada”.

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