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Edjamir Sousa Silva

Edjamir Sousa Silva

Padre e psicólogo.

Decidir pelo Reino de Deus

Por Edjamir Sousa Silva
Publicado em 25 de agosto de 2024 às 17:00

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Neste Dia do Senhor a Liturgia da Palavra (Js 24, 1-2. 15-18. / Jo 6, 60-69/ Sl 33 (34)/ Ef 5, 31-32) lembra-nos que podemos gastar a vida em perseguir valores estéreis ou apostar em valores que apontam para a vida e a vida eterna, capazes de resignificar diariamente a existência. Deus aponta-nos o caminho, mas a decisão final é sempre nossa.

Na obra O Mal-Estar na Civilização e na Cultura (1930) Freud escreve que “Há (…) muitos caminhos que podem levar à felicidade tal como esta é alcançável pelo homem, mas nenhum que leve a ela com segurança”. Assume-se assim, a incerteza do futuro e, em troca dessa incerteza, uma decisão. A psicanalista Piera Aulagnier (1923-1990) diz que dentro da decisão “se preserva a esperança de que, um dia, este futuro lhe devolverá a possessão de um passado tal como ele sonhou”.

Ao longo da semana a Liturgia da Palavra foi nos preparando para a reflexão desse domingo e uma tomada de decisão. Vejamos: Na segunda-feira (Mt 19, 16-22), Jesus propôs a um jovem piedoso e muito apegado as conquistas pessoais que vendesse tudo e desse aos pobres. Resultado? “O Jovem foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico” (v. 22). Na terça-feira (Mt 19, 23-30), Jesus disse que “dificilmente um rico entra na dinâmica e no Reino de Deus (…). E todo aquele que tiver deixado (…) por causa do nome do meu nome, terá a herança eterna” (v. v. 24. 29).

Na quarta-feira (Mt 20, 1-16a), Jesus continuava sua grande inversão de valores tão peculiar ao Reino de Deus: “os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos” (v. 16a) e a inquietação dos discípulos na ‘fantasia de buscar vantagens desmedidas, as honrarias e os melhores lugares’. Na quinta-feira (Mt 22, 1-14), escutávamos a Parábola da festa do Reino e a recusa de entrar na dinâmica da festa (v.v. 5.9. 10. 11. 12).

Na sexta feira, Festa de Santa Rosa de Lima, escutamos no evangelho (Mt 13, 44-46), Jesus dizer que “o Reino de Deus é uma pérola preciosa de grande valor que quem a descobre tem a decisão de deixar tudo para traz para ficar com ela” (v. 46). No sábado, Festa de São Bartolomeu (Natanael), escutamos o relato do encontro de Natanael com Jesus de Nazaré (aquele que Moisés e os profetas falavam) e a decisão do discípulo em segui-Lo: “ai vem um homem sem falsidade” (v. 47).

Em todas as ocasiões, um convite a fazer a escolha de entrar na dinâmica do Reino. É a espiritualidade vocacional neste mês dedicado as vocações.

No evangelho deste domingo (Jo 6, 60-69) Jesus se empenha para esclarecer quem de fato ele é. E mais uma vez muitos ficam escandalizados com ele. Sua “carne” e seu “sangue” (Sua Vida e não matéria orgânica) dados para a vida do mundo são sinais do banquete no Reino de Deus.

O Reino de Deus reclama que as obras da carne produzem fixações em coisas fúteis, inimizades, ódio, corrupção, mentira, egoísmo, misticismos (devocionismos) longe da lógica do Reino, fundamentalismos, meritocracias, milícias/facções, amor ao poder e a dinheiro e todo o tipo de idolatrias. E o Espirito produz o fruto da vida amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, mansidão e domínio próprio. Por isso que o discípulo, contrariado pela lógica do Reino, diz: “Quem pode continuar ouvindo isso?”.

Só quem aceita o dom do Pai pode entrar na esfera do Espirito e ir a Jesus, isto é, crer Nele. MAIS UMA VEZ JESUS ESCANDALIZA E MUITOS DISCIPULOS DESISTEM DE SEGUI-LO.

“Quem pode continuar ouvindo isso?”. Quem pode ficar ouvindo por muito tempo essa catequese, que o Reino de Deus é para aqueles que sabem amar o próximo, que respeitosos e leais, aqueles que são capazes de renunciar a seus interesses egoístas? Para alguns, é melhor falar outras línguas, inebriar-se em evangelismos cheios de emoções e promessas de riquezas e ganancias, rituais cheios de pompas e vazios de Deus…

Quem aguentará ouvir que são os últimos, os pobres e os excluídos os prediletos de Deus? De uma coisa é possível: ou abandona o caminho do Reino, ou inventará algumas igrejas com pregações totalmente diferentes à lógica de Jesus, mesmo usando o nome dele.

Simão Pedro, um pobre pescador, em nome dos apóstolos, renova a sua profissão de fé: “Nós acreditamos e sabemos que tu és o santo de Deus”. Porém, é preciso ter cuidado, pois a falta de vigilância fez Pedro negar a Jesus.

“Quereis ir embora?”, disse Jesus. A proposta está feita, este é o jeito de Deus, mas cabe a cada um decidir. Josué, sucessor de Moisés, disse: “Se não vos agrada a servir o Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir (…)”.

Quando escolhemos Jesus, escolhemos a vida, a verdade, escolhemos ser livres, escolhemos não ficar refém do tempo, mas abrir-nos ao futuro, à graça de Deus, a uma vida sem fim, a eternidade.

Não nos deixemos levar pelas multidões ou pelos muitos discípulos que foram para outro caminho ou deixaram o evangelho. Não importa a maioria, IMPORTA SABER O CAMINHO.

Apesar de nossos limites é preciso abraçar a proposta do Reino de Deus, alargar o coração e tornar o amor a resposta de nossa vocação. Ai está o sabor do “Pão da Vida”. É “Eucaristia” celebrada no altar da comunidade eclesial, mas também no altar do nosso coração.

“Para onde iremos Senhor, só tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6, 68). Um dia descobriremos que escolher Jesus e o seu Reino foi a decisão mais acertada da nossa vida.

Boa semana!

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