Fechar
O que você procura?
Blogs e Colunas
Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
Continua depois da publicidade
Baseados em fatos sobrenaturais, contos, causos e canções de encantamentos são histórias que passam de geração para geração, de forma oral, escrita ou até mesmo por meio de músicas, a exemplo da valsa “Amanhã eu vou”, gravada por Luiz Gonzaga, em 28 de fevereiro de 1951, cuja letra conta a história de um lago mal-assombrado, onde à noite sempre se ouvia o canto sombrio e misterioso da ave carimbamba, entoando o refrão repetitivo: “Amanhã eu vou, amanhã eu vou…”.
Por outro lado, na música “Walking on the Water”, gravada pelo grupo Creedence Clearwater Revival, em fevereiro de 1968, em vez do canto de uma ave em um lago mal-assombrado, a visão misteriosa é de um homem andando sobre as águas de um rio. Segue um trecho da letra em tradução livre para o português:
“Ontem, tarde da noite, / Eu saí para caminhar na margem do rio/ Perto de minha casa/ Não pude acreditar no que meus próprios olhos viram/ E juro que nunca mais sairei de minha casa novamente// Eu vi um homem andando sobre a água/ Vindo na minha direção lá do outro lado/ Chamando meu nome: “Não tenha medo”…
Outro exemplo de música de temática fantasmagórica é “Ghost Riders in the Sky” (“Cavaleiros Fantasmas no Céu”), gravada pelo próprio compositor, Stan Jones, em 1948, e posteriormente interpretada por excelentes cantores, entre eles: Marty Robbins, Frankie Laine, Bing Crosby e Johnny Cash com sua voz grave e cavernosa.
Em outras situações, como no famoso romance “Grande Sertão: Veredas”, o sobrenatural se faz presente, literalmente, sob a forma de “re(demo)inho”, em diversas passagens, dentre elas: “Do vento que vinha, rodopiado, Redemoinho: senhor sabe – a briga de ventos. Quando um esbarra com outro, e se enrolam, o doido do espetáculo. ”
Nesse contexto, o redemoinho na encruzilhada não é visto como um fenômeno da natureza, mas sim como um sinal da presença do diabo em meio à travessia do jagunço.
No universo da música, duas lendas se destacam: os pactos do guitarrista norte-americano Robert Johnson e do violinista italiano Niccolò Paganini. Em ambos os casos, os músicos teriam oferecido suas almas ao diabo em troca do virtuosismo na execução de seus instrumentos.
No gênero Literatura de Cordel, muitos causos de realismo fantástico podem ser encontrados. Dentre esses, um dos mais famosos é o romance “História do boi misterioso”, de autoria do poeta paraibano Leandro Gomes de Barros.
A figura do boi que não se deixa pegar faz parte do universo fantástico de assombrações e encantamentos narrados e cantados no interior do Nordeste brasileiro, tendo como coadjuvantes as figuras de vaqueiros paramentados, cavalos ariscos e donos de antigas fazendas de criação de gado, todos integrados ao cenário dos sertões profundos, em tempos remotos.
Um exemplo do boi que não se deixa capturar, preferindo a morte a ser aprisionado, é apresentado na música “A Morte do Touro Mão de Pau”, interpretada por Antonio Nóbrega no CD “Lunário Perpétuo”, lançado em 2002.
Outro exemplo dessa abordagem é encontrado no cordel “Os versos do vaqueiro Antônio Bernardino versus Boi Cambaú do Sítio São Joãozinho”, de autoria do poeta paraibano Roniere Leite Soares.
Nesse cordel, datado de 29 de abril de 2011, Roniere relata a saga ficcional de seu avô materno, que teria sido ressuscitado do túmulo para capturar o boi Cambaú, um boi de corpo fechado, protegido por feitiçaria, que havia caído do céu para aterrorizar a pacata comunidade de Boa Vista (PB).
Em alguns casos, os poderes sobrenaturais do boi são atribuídos ao demônio (“cão”), conforme evidenciado nos versos de “Cantiga do Boi Encantado”, composta por Elomar: “De todos boi qui ai no mundo já peguei/ Afora lá ele qui tem parte cum cão/ O tal boi bufa cum esse nunca labutei/ E o incantado que distinemo a pegá/ Pra nóis leva pras terra daquela donzela/ Juremo a ela te leva boi aruá/ Êêêê… boi encantado e aruá/ Ê boi, quem havéra de pegá!”. Referência: “Dos Confins do Sertão”, disco lançado em 1987.
Mas, nem só de bois é constituído o universo fantástico da literatura de cordel, tal como se pode perceber nos seguintes títulos: “A Lagoa Misteriosa e o Cavalo Encantado”, “A Princesa da Pedra Fina”, “Bicho de Sete Cabeças”, “O Gigante Quebra-Osso e o Castelo Mal-Assombrado”, “Juvenal e o Dragão”, “O Lobisomem encantado”, “O Valente Felisberto e o Reino dos Encantos”, “O Príncipe e a Fada”, “Papagaio Misterioso”, “Peleja de Manoel Riachão com o Diabo” e “Vaca Misteriosa”.
Em síntese, entre prosas e versos, contos, causos e canções de encantamentos revelam a fusão entre o real e o imaginário, refletindo a força da tradição oral e da criatividade literária. Neles, o mistério e a fé se entrelaçam, mantendo vivos os mitos e os encantos à luz da memória e da arte.
Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.
Continua depois da publicidade
© 2003 - 2025 - ParaibaOnline - Rainha Publicidade e Propaganda Ltda - Todos os direitos reservados.