Como me tornei professor de Engenharia Elétrica

É provável que meu interesse pela engenharia tenha se originado na infância, quando, algumas vezes, meu pai me levava para o Laboratório Central de Solos e Concreto do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), localizado em frente à Praça Félix Araújo, em Campina Grande – PB, onde ele trabalhava.

Na época, eu tinha por volta de cinco anos de idade, mas já era um garoto curioso e gostava de perguntar para que serviam todos aqueles aparatos utilizados nas análises de argilas e nos testes com corpos de prova de concreto. O ambiente de laboratório, para mim, era fascinante.

Em 1972, antes de completar dezoito anos, ao iniciar os estudos de Física voltados para a eletricidade e magnetismo, tomei a decisão de me tornar engenheiro eletricista. Ingressei na Escola Politécnica da Universidade Federal da Paraíba, atual UFCG, em 1973, e concluí o curso de graduação em julho de 1977.

Profissionalmente, fiz a escolha certa. Poderia ter atuado como engenheiro em empresas do setor elétrico, públicas ou privadas; porém, optei pelo ambiente acadêmico, onde atuei como professor e pesquisador nos cursos de graduação e pós-graduação, até me aposentar, em abril de 2021.

Ninguém consegue ensinar o que não sabe, pois, para ensinar, é preciso, antes, dominar a arte. Afinal, engenharia é arte: não é ciência nem tecnologia, embora ambas façam parte da formação profissional do engenheiro.

Nesse contexto, amar o que se faz é fundamental para a satisfação de quem exerce a profissão. Isto não é diferente no processo ensino-aprendizagem. Nele, o ensino não deve ser centralizado no professor, tampouco no estudante. Deve ser centrado no processo, com a participação efetiva de ambos, livres de qualquer forma de proselitismo.

Certa vez, em uma conversa informal com alguns colegas, propus que aproveitássemos um horário livre nas quartas-feiras à tarde para promover encontros denominados “Conversas com quem gosta de ensinar e com quem gosta de aprender”. Todos concordaram com a iniciativa, mas nenhum deles compareceu.

A ideia era que nessas conversas pudéssemos compartilhar informações sobre casos de sucesso alcançados em nossas práticas docentes e, assim, aprendêssemos uns com os outros.

Além dos casos particulares locais, avançaríamos nas reflexões sobre a história da engenharia ao longo dos séculos, sobre os desafios em nível nacional e internacional no tocante à introdução das novas infotecnologias (Inteligência Artificial, por exemplo) no processo de formação de profissionais capazes de responder de forma rápida e eficaz às demandas da sociedade.

Embora não tenha obtido a adesão dos colegas, segui em frente, escrevendo e apresentando algumas dessas ideias nos congressos e na revista da Associação Brasileira de Ensino de Engenharia (ABENGE), antes da entidade trocar o “Ensino” pela “Educação”. Em minha opinião, isso foi um grande equívoco, pois ensino é uma coisa e educação é outra.

Nos dias atuais, mesmo aposentado, continuo interessado em aprender para poder ensinar. Assim, de tempos em tempos, compartilho minhas preocupações e reflexões sobre os rumos do ensino da engenharia com alguns colegas que se interessam pelo assunto. A esses, sou grato pela atenção e pela troca de ideias. Afinal, continuar aprendendo é a melhor forma de honrar tudo o que vivi ao longo dessa jornada.