O Evangelho de Nosso Senhor é sempre uma mensagem muito clara sobre a compaixão de Deus. Jesus ao anunciar o Reino de Deus não poupou esforços quando precisou tocar a carne dos homens, fez-Se próximo aos sofredores e empobrecidos.

Essa atitude de Jesus deve ser a atitude de todo batizado, de todo discípulo que ouve a chamada para evangelizar. “Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a sua carne na carne daqueles que sofrem no corpo e no espírito” (Papa Francisco).

O Evangelho deste domingo apresenta Jesus solicitando aos seus discípulos para avançar para águas mais profundas e lançar as redes, apesar do cansaço e de uma noite inteira de muito trabalho em vão: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos.

Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes” (Lc 5,5). A pescaria, na linguagem bíblica, é uma imagem sobre a missão da Igreja. Cristo nos pede que lancemos as redes do Evangelho sobre as águas do mundo, e devemos fazê-lo com o coração cheio de compaixão.

Não há cristianismo sem essa dimensão clara da compaixão evangélica. Certa vez o Papa Francisco disse: “Num consagrado, e em todo batizado, não pode existir compaixão autêntica pelos outros se não houver paixão de amor por Jesus. A paixão por Cristo nos impulsiona à profecia da compaixão. Que ressoe em vocês a causa do humano como causa de Deus.

E assim, sentindo-se uma família, poderão colocar-se a cada momento a serviço do mundo ferido e enfermo.” O discípulo de Jesus leva a peito a força da profecia da compaixão! Quantas vezes somos as ovelhas que precisam do cuidado do Pastor. E, por meio dos sacramentos, a Igreja cuidou de nós!

Neste ano jubilar, a Igreja, como mãe e mestra, nos assegura que não estamos sozinhos nesta vida. Ainda que sejamos tentados a caminhar sozinhos ou desolados, não caiamos nessa tentação.

Temos os irmãos, a Igreja, os sacramentos… como companhia segura. Sejamos uns para os outros canais dessa profecia que o Papa nos pede. Estejamos com nossas mãos prontas para consolar a quem quer que seja! O mundo se globalizou, mas nem sempre significa o avanço do real progresso.

Enchamo-nos da compaixão de Deus e sejamos no mundo globalizado peregrinos da esperança. O homem que confia em Jesus sabe que o verdadeiro progresso começa pelos laços do coração, da solidariedade e do estar com os mais necessitados.

O Evangelho de Cristo é a nossa fonte, o nosso alimento na jornada de fé. Ele nos leva ao inegociável toque da Carne de Cristo na carne dos mais frágeis, dos que se sentem abandonados, ainda que estejam cercados de muitas pessoas.

A pobreza do irmão por vezes nos causa receio ou afastamento, mas não podemos cair na cultura da indiferença, fingir que a dificuldade do outro não seja real. Cristo, o Filho de Deus, não ficou indiferente lá no céu, mas veio ao mundo, habitou em nossa carne pecadora para nos salvar!

Que o jubileu da esperança faça suscitar no seio da Igreja a imediata profecia da compaixão. Que a Compaixão do nosso Deus seja uma constante evidenciada em nossas relações fraternas e que o amor mútuo que devemos na Igreja e no mundo seja um grande testemunho da solidariedade de Deus com as dores humanas.

O anúncio da profecia da compaixão é uma marca indelével de toda e qualquer evangelização que a Igreja se propõe a realizar.