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Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
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“Cartapácio Mnemônico de Instâncias Poéticas” é o título marcante e evocativo do livro de estreia de Roniere Leite Soares, lançado em 18 de dezembro de 2024, às 20h30min, no auditório do Instituto Histórico de Campina Grande.
A palavra cartapácio é um substantivo que designa uma coleção volumosa de manuscritos organizados na forma de livro, enquanto mnemônico é um adjetivo relacionado à memória ou ao que auxilia sua retenção.
Nessa obra, de 430 páginas, Roniere revela aos leitores fragmentos do acervo memorial de sua trajetória criativa, ultrapassando os limites das denotações e conotações semânticas tradicionais. Essas são características que ele demonstrava, desde a infância, evidenciando indícios do futuro artista e cientista multitalentoso que viria a se tornar na fase adulta.
Embora nascido em Campina Grande-PB, as raízes ancestrais e telúricas de Roniere estão vinculadas à zona rural do município de Boa Vista, cidade paraibana localizada no Cariri, onde ele viveu até os 27 anos de idade, antes de se casar e retornar à cidade natal.
Em suas “instâncias poéticas”, no Capítulo I, intitulado “Fase Augusta”, o autor apresenta a origem de sua iniciação à arte de unir versos. Nesse contexto, a expressão “augusta” é uma referência ao poeta paraibano Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1913), autor do EU, livro publicado no Rio de Janeiro, em 1912.
A influência estética de Augusto dos Anjos pode ser percebida na página 29, na primeira estrofe do poema “Fragmentos II”, escrito por Roniere, em 1989:
“Pesadelos assombram-me: um alicate
Contorce-me. São uivos, sussurros e latidos.
Acordo-me: eis meus membros contorcidos.
O lobo uiva, a coruja sussurra e o cão late! ”
Certamente, antes de conhecer a lírica e enveredar pelas insólitas veredas eruditas do discurso poético anjelino, o menino Roniere teve acesso a outro universo: o da poesia popular declamada por cordelistas no meio da feira, em Boa Vista.
É provável que o interesse pelo cientificismo presente nas palavras de alguns poemas de Augusto dos Anjos tenha contribuído para ampliar o repertório vocabular do jovem Roniere, descortinando novos horizontes:
“Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco”.
Seria possível afirmar que esse interesse pelo cientificismo anjelino lançou as bases para que o poeta Roniere, na idade adulta, se tornasse Mestre e Doutor no campo da Ciência dos Materiais?
No Capítulo II, intitulado “Redes Sociais”, o leitor entra em contato com outras facetas do universo roniereano, dentre elas, obras que refletem o seu talento como desenhista, compositor, musicista, regente e designer, adaptado ao universo virtual e multimídia.
Nesse Capítulo destaca-se o belíssimo logotipo criado por Roniere como identidade visual do documentário “Os Trinta Poetas”, dirigido, editado e produzido por ele, entre 2014 e 2016.
No Capítulo III, talvez de forma deliberada, Roniere retomou a “fase augusta”, numa produção poética caracterizada como simbolista ou pré-modernista, em sonetos quase memorialísticos.
No Capítulo IV, sob o título “Hinário”, entre letras e partituras, o autor expôs hinos de sua autoria, numa fase em que ele, conforme suas próprias palavras, se apresenta mais como compositor do que poeta.
Os hinos de caráter religioso são cânticos de louvor. Fora do contexto religioso, servem para exaltar e homenagear instituições, times de futebol, cidades, estados ou mesmo países, para citar alguns exemplos.
Não perguntei ao autor desse “Cartapácio Mnemônico de Instâncias Poéticas” sobre o seu primeiro contato com os hinos, mas sabendo de sua vinculação ao catolicismo, imagino que os hinos religiosos cantados nas missas e nas procissões possam ter sido a principal fonte de inspiração.
Como decorrência natural de quem transita pelos caminhos poéticos, liberto das amarras das rimas e das métricas, Roniere nos apresenta no Capítulo V algumas de suas incursões pela Poesia Visual, com ênfase nas formas geométricas e imagens especulares, tangenciando a composição palindrômica.
Contudo, o afastamento da poesia popular foi interrompido e, num movimento pendular, no Capítulo VI, Roniere voltou à Literatura de Cordel. Essa fase trouxe uma explosão criativa de histórias contadas por ele nas formas canônicas de sextilhas, oitavas e décimas, ilustradas por xilografias estilizadas produzidas digitalmente, em vez de madeira esculpida.
Para finalizar, no Capítulo VII, o autor destinou um espaço intitulado ‘Anexos’, para que o leitor possa observar as impressões de vários literatos acerca de Roniere e sua produção poética ao longo do período entre 1988 e 2024.
Assim, ao publicar o seu “Cartapácio Mnemônico de Instâncias Poéticas”, Roniere Leite Soares reafirma a sua versatilidade e talento, compartilhando com os seus leitores uma obra densa e caleidoscópica, certamente fadada ao sucesso editorial.
E, como estamos em tempo de festas e confraternizações, aproveito o ensejo para agradecer aos leitores pela atenção, manifestando os votos de Feliz Natal e que o Ano Novo, iluminado pelo Espírito Santo, traga consigo as bênçãos de Deus e a Paz de Cristo!
Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.
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