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O autor é economista, advogado, professor da Universidade Estadual da Paraíba e membro da Academia de Letras de Campina Grande.
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Campina Grande há 36 anos criou o Carnaval da Paz, quando surgiu o Encontro para a Nova Consciência, evento que desde 1988 congregou pessoas das mais variadas confissões religiosas para um encontro interreligioso durante o período carnavalesco. Daí, o título de Carnaval da Paz, justo porque ocorrido o evento nesse período e trazendo para Campina Grande milhares de pessoas de variadas crenças, que vinham se confraternizar e discutir temas religiosos, filosóficos, científicos, culturais e sociais.
O Encontro para a Nova Consciência no início se realizava nas dependências do Teatro Severino Cabral e posteriormente no auditório do SESC Centro. Hoje, realiza-se de forma virtual, o que impede a vinda para a cidade de milhares de pessoas que não somente se relacionavam entre si, mas também movimentavam a economia local. Reunindo diversos representantes das diversas escolas de pensamento para um diálogo fraterno, seus integrantes buscavam encontrar saídas para clarear os caminhos da humanidade.
Dele participaram figuras proeminentes, tais como o Pastor Nehemias Marien, falecido em 2007, que encantava a cada ano a plateia participante do Encontro; Dom Luiz Gonzaga Fernandes, falecido em 2016, que estimulava o evento pelo seu sentido ecumênico; cineasta Pedro Camargo, falecido em 2015, que vibrava a cada ano abraçando a todas as tendências; iyalorixá Sandra Epega, falecida em 2014, que demonstrava o bem das linhas religiosas africanas; educador Pierre Weil, falecido em 2008, que se dedicava à educação para a paz; Frei Leonardo Boff, Monge Beneditino Marcelo Barros, Jornalista Luis Pellegrini, Professor Rômulo Azevedo, Iris Medeiros, fundadora do Encontro para a Nova Consciência e o Coordenador da URI – Iniciativa das Religiões Unidas, Elianildo Nascimento, que procuram manter acesa a chama da união das religiões, entre outros.
O Encontro para a Nova Consciência ficou registrado na mente das pessoas até os dias atuais. Ele propiciou a criação de outros encontros, vez que estes surgiram por causa dele, não obstante alguns já existirem antes dele, a exemplo do Movimento de Integração Espírita na Paraíba, cuja primeira edição se deu em 1974. O Encontro para a Nova Consciência, porém, não conseguiu manter a primazia do Carnaval da Paz, à falta de investimentos privados e de apoio dos poderes públicos, ainda que gestado com os apoios destes. E ao lado disto, por incrível que pareça, também concorreu para lhe retirar esse primado o próprio pluralismo religioso a que o Encontro deu palco para oportunizar o diálogo interreligioso, que ainda incomoda a muitos, notadamente àqueles que lutam pela hegemonia de suas religiões ante o movimento da Nova Era, que embora tenha sido visto como um espaço para o encontro das “espiritualidades” da humanidade, se tem também mostrado difícil de conceituar.
Não é por menos que a própria festa do Carnaval Popular se viu comprometida com o delineamento de locais reservados para os desfiles dos blocos carnavalescos, troças, alas ursas e maracatus, longe dos locais dos encontros religiosos, fato nunca d’antes ocorrido, numa perceptível manifestação de intolerância às expressões populares e culturais. As ruas tradicionais por onde sempre desfilavam os blocos, em especial o entorno do Açude Velho, local comum de manifestações públicas, ficaram impedidas de a estes aplaudirem, pela distância determinada a ser guardada entre os blocos e os encontros religiosos, como que numa medida legal protetiva semelhante a que se estabelece para os cônjuges numa ação de separação judicial. As agremiações carnavalescas ameaçaram não se apresentar ao público. No fim, saiu prejudicada a população que faz o “Carnaval dos que ficam” de Campina Grande. Afinal, os grandes blocos já desfilam dias antes do período carnavalesco, festejando o “Carnaval dos que aqui não ficam”. Quanta incompreensão!
O tema do último Encontro para a Nova Consciência, já realizado de forma virtual, sem pandemia para justificar esse formato, foi “Construindo Pontes para o Diálogo e a Reconciliação”. No mundo plural de hoje, na hipermodernidade que caracteriza a época atual, no mundo líquido da atualidade que isola a todos prendendo cada um no seu egocentrismo, todos deveriam buscar se dar as mãos para que juntos, independentemente de suas crenças, classes sociais e níveis econômicos, persigam a felicidade e a paz que deve reinar entre todas as pessoas sempre.
Assim, o Carnaval de Campina Grande não pode ser um Carnaval de isolamento, mas o Carnaval da Paz que sempre foi a tônica do Encontro para a Nova Consciência. O Carnaval do Povo e os Encontros de Religiosidade devem conviver com respeito entre si, cada qual fluindo naturalmente em seus ambientes tradicionais, sem amarras ou restrições de qualquer natureza. Se ficar “cada macaco no seu galho”, tudo voltará a ser “como d’antes no quartel de Abrantes” e Campina Grande consolidará definitivamente o Carnaval da Paz e o Carnaval do Povo.
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