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Benedito Antonio Luciano

Benedito Antonio Luciano

Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

Bendengó

Por Benedito Antonio Luciano
Publicado em 11 de junho de 2025 às 8:15

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A primeira vez que escutei a palavra “bendengó” foi na minha infância. Em certa ocasião, a mãe de meu pai, que era afrodescendente, ao se referir ao formato volumoso do penteado de uma filha de criação, assim se expressou:

– “Menina, esse teu cabelo está parecendo um bendengó! ”

Aquela palavra, dita com tanta naturalidade, permaneceu na minha memória como um sussurro ancestral. Mas o que seria, de fato, um bendengó?

Anos depois, a curiosidade retornou quando ouvi, em Salvador-BA, uma variante da palavra bendengó, no caso “Bendegó”, como denominação de um grupo musical criado pelo músico e compositor Gereba Barreto, que teve intensa atuação entre as décadas de 1970 e 1980.

É provável que a escolha do nome “Bendegó” tenha sido simbólica. Assim como o meteorito, que atravessou séculos e resistiu ao tempo e às intempéries para cair na Bahia, o grupo queria representar a força e a resistência da cultura nordestina, elevando suas expressões populares ao reconhecimento nacional.

Natural de Monte Santo-BA, município localizado na mesma região onde foi encontrado o meteorito, Gereba é um artista profundamente envolvido com a cultura do sertão. Compositor, cantor, violeiro e produtor, ele tem uma carreira marcada pelo compromisso com a valorização da música nordestina e suas tradições orais.

O grupo Bendegó manteve-se ativo em um momento em que surgiam diversas bandas focadas em renovar e valorizar a música nordestina, tais como: o Quinteto Violado, a Banda de Pau e Corda e o Conjunto Concerto Viola.

Em busca de mais informações sobre o termo, consultei o Dicionário do Nordeste, de autoria de Fred Navarro, e nele encontrei as seguintes informações: “bedengó, bendegó ou bendengó. Tipo de penteado, de toucado, cocó. [Acepções nacionais]: (1) coisa descomunal, enorme, incomum; (2) o maior meteorito brasileiro, caído no riacho do mesmo nome, em Uauá, no sertão da Bahia, a 416 km de Salvador e a 30 km do antigo arraial de Canudos; exposto no Museu Nacional do Rio de Janeiro desde 1888, pesa 5.360 kg e é constituído de ferro e níquel”.

Busquei em outras fontes, mas não encontrei consenso sobre o significado preciso das palavras “bedengó”, “bendegó” ou “bendengó”, restando algumas hipóteses: (1) pela sonoridade, poderiam ter origem africana, baseada em línguas faladas por povos bantos trazidos ao Brasil como escravizados; (2) outra possibilidade seria a origem indígena, a partir do tupi ou línguas do tronco macro-jê; ou (3) as mencionadas no Dicionário do Nordeste.

Nesse contexto, mesmo sem uma etimologia definida, “bedengó”, “bendegó” ou “bendengó” são exemplos de palavras profundamente enraizadas na cultura brasileira, que trazem consigo significados geográficos, históricos e simbólicos.

Desse modo, ainda que sua origem permaneça incerta, o termo “bendengó” e suas variações transcendem a etimologia para se firmar como símbolo da riqueza cultural brasileira. Seja como lembrança afetiva da infância, nome de um grupo musical comprometido com as raízes nordestinas ou referência a um meteorito, a palavra “bendengó” carrega em si, na arte e na memória, a persistência da oralidade.

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