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Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
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Segundo Zé Lacraia, um amigo contemporâneo de quando estudávamos no Colégio Estadual da Prata, em Campina Grande – PB, entre 1966 e 1972, antigos moradores do bairro do Monte Santo relatavam que, em certas madrugadas, quando uma densa bruma cobria o cemitério e as ruas adjacentes, era possível vislumbrar a aparição espectral de um casal atravessando o portão que dá acesso à Rua João Pessoa.
A jovem, envolta em vestes brancas, caminhava ao lado de um rapaz que trajava roupas pretas. Os corpos, diáfanos, moviam-se como sombras e, embora o portão estivesse fechado, atravessavam-no sem esforço. Depois, em silêncio, seguiam rumos distintos: ela, em direção à Rua Conde D’Eu; ele, no sentido oposto, em direção à Rua Olegário Maciel, deixando para trás o grasnar sombrio de um corvo pousado sobre o portão — semelhante ao pássaro imortalizado por Edgar Allan Poe no poema The Raven.
Sem citar nomes ou maiores detalhes, como a localização dos túmulos onde foram sepultados, os antigos residentes nas proximidades do cemitério relatam que, em vida, esses jovens campinenses foram vítimas de uma tragédia semelhante àquela escrita por William Shakespeare, sob o título Romeu e Julieta.
Para quem não se recorda, no enredo da peça shakespeariana, os personagens Romeu Montéquio e Julieta Capuleto se conheceram em um baile e se apaixonaram à primeira vista, sem saberem, a princípio, que pertenciam a famílias inimigas. Depois, alheios às desavenças entre seus parentes, eles decidiram viver esse amor e se casaram secretamente, com a ajuda do Frei Lourenço.
Entretanto, alguns acontecimentos contribuíram para a separação do casal. Romeu matou Teobaldo, primo de Julieta, em um duelo e foi banido de Verona. Julieta, para escapar de um casamento forçado com Páris, aceitou o plano do Frei Lourenço: tomar uma poção que a faria parecer morta por algum tempo.
Romeu, sem saber da farsa e acreditando que ela realmente havia morrido, desesperado, tirou a própria vida. Julieta, ao despertar e encontrar Romeu morto, também se matou.
Neste contexto, tal como em Verona, os ecos da tragédia parecem ter atravessado séculos e o Oceano Atlântico para encontrar solo fértil no imaginário campinense. Os dois jovens do Monte Santo, agora transformados em espectros que vagam pela madrugada fria, carregam consigo a mesma marca da impossibilidade do amor diante das forças contrárias que o mundo lhes impôs.
Como na tragédia Romeu e Julieta, os jovens amantes campinenses foram vítimas não apenas de suas escolhas, mas de um destino cruel que converteu paixão em luto e juventude em memória.
Apenas com uma diferença: enquanto Shakespeare eternizou sua história nos palcos, o imaginário campinense a eternizou nas neblinas do Monte Santo, onde os enamorados, mesmo em morte, não cessam de buscar um ao outro em silêncio, sob o olhar vigilante do corvo a repetir: “Nevermore!” (Nunca mais!).
Assim, em meio à cruviana da madrugada campinense e ao imaginário popular, sobrevive a história de amor trágico entre dois jovens que, separados na vida e unidos na morte, caminham lado a lado entre os túmulos do Cemitério do Monte Santo, onde repousam os restos mortais dos amantes, sem placas nem nomes que os identifiquem.
Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.
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