O disco dos Beatles, intitulado “Revolver”, lançado no Brasil pela gravadora Odeon, em 1966, marcou uma nova fase na carreira do grupo britânico, pois a partir desse álbum, todos os arranjos passaram a ser produzidos em estúdio, sem a preocupação com dificuldades de reprodução nas apresentações ao vivo.

À guisa de ilustração, seguem os títulos das músicas conforme dispostos nos lados 1 e 2 do LP (Long Play), como eram conhecidos os discos de vinil, na época.

No lado 1: “Taxman” (Harrison) George Harrison; “Eleanor Rigby” (Lennon-McCartney) Paul McCartney; “I’m Only Sleeping” (Lennon-McCartney) John Lennon; “Love You To” (Harrison) Anil Bhagwat; “Here, There and Everywhere” (Lennon-McCartney) Paul McCartney; “Yellow Submarine” (Lennon-McCartney) Ringo Starr; e “She Said She Said” (Lennon-McCartney) John Lennon.

No lado 2: “Good Day Sunshine” (Lennon-McCartney) Paul McCartney; “And Your Bird Can Sing” (Lennon-McCartney) John Lennon; “For No One” (Lennon-McCartney) Paul McCartney; “Dr. Robert” (Lennon-McCartney) John Lennon; “I Want To Tell You” (Harrison) George Harrison; “Got To Get You Into My Life” (Lennon-McCartney) Paul McCartney; e “Tomorrow Never Knows” (Lennon-McCartney) John Lennon.

De acordo com os créditos, a capa do disco foi elaborada pelo músico e artista plástico alemão Klaus Voormann, e a fotografia dos Beatles na contracapa foi feita pelo britânico Robert Whitaker.

Com exceção de “Yellow Submarine”, as músicas do disco “Revolver” são excelentes, com destaque para o conteúdo sarcástico da letra da canção “Taxman”; o arranjo de George Martin e o lirismo da letra em “Eleanor Rigby”; assim como para interpretação de Paul McCartney e o solo de trompa de Alan Civil na balada “For No One”.

Para que o leitor não familiarizado com o idioma inglês possa compreender o conteúdo irônico da letra de “Taxman” (Homem dos impostos), composta por George Harrison, segue uma tradução livre para o português:

[Introdução]
Um, dois, três, quatro,
[tosse]
Um, dois.

Deixe-me contar como vai ser,
Será um para você, dezenove para mim,
Porque eu sou o homem dos impostos,
Sim, eu sou o homem dos impostos.

Se cinco por cento parecerem muito pouco,
Agradeça por eu não levar tudo,
Porque eu sou o homem dos impostos
Sim, eu sou o homem dos impostos.

Se você dirigir um carro, eu taxarei a rua,
Se você tentar sentar, eu taxarei seu assento,
Se você sentir bastante frio, eu taxarei o aquecimento,
Se você andar, eu taxarei seus pés.
(Homem dos impostos!)
[Solo de guitarra]

Porque eu sou o homem dos impostos,
Sim, eu sou o homem dos impostos.

Não me pergunte para que eu preciso
(Haha, Sr. Wilson),
Se você não quer pagar por mais
(Haha, Sr. Heath),
Porque eu sou o homem dos impostos,
Sim, eu sou o homem dos impostos.

Agora o meu conselho para aqueles que morrem,
(Homem dos impostos!)
Declarem os centavos sobre os seus olhos,
(Homem dos impostos!)
Porque eu sou o homem dos impostos,
Sim, eu sou o homem dos impostos.

E você está trabalhando para ninguém além de mim.
(Homem dos impostos!)
[Solo final de guitarra]

“Taxman” tem duas curiosidades: 1) o solo de guitarra, creditado a George Harrison na contracapa do disco, foi tocado por Paul McCartney; 2) os Senhores Wilson e Heath, citados de maneira irônica na letra da música, eram, na época, respectivamente, o Primeiro-Ministro do Partido Trabalhista, Harold Wilson, e o líder do Partido Conservador, Edward Heath.

Por fim, o álbum “Revolver” é uma obra inovadora na discografia dos Beatles. Suas faixas combinam lirismo; crítica política mordaz ao sistema de imposto progressivo adotado pelo governo trabalhista, em “Taxman”; experimentação sonora com instrumentos indianos, em “Love You To”; emprego de quatro violinos, duas violas e dois violoncelos em “Eleanor Rigby”; uso da trompa em “For No One”; e o apelo transcendental em “Tomorrow Never Knows”.