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Jornalista, professor universitário, escritor e membro da Academia de Letras de Campina Grande.
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Minha avó paterna, Dona Nenê, dizia-me que amou três homens na vida: o pai dela (seu Malaquias), o esposo dela (meu avô João Leandro) e eu. Aquilo doía e comprazia. Me deixava orgulhoso e ao mesmo tempo constrangido. Mas esse amor era verdadeiro. Eu não posso negar. Ela sempre se preocupou comigo. Nunca esqueci do dia em que meu pai ia me bater com uma corda de náilon, ela entrou na frente e me defendeu.
Quando eu era criança, dormia na casa dela. Acordava cedo para ir estudar em Várzea Alegre e ela sempre me preparava um café com bolo feito ao seu jeito. Bolo de vó. Cuidava de mim quando eventualmente dormia com a lamparina acessa em cima da cama, porque era assim que eu costumava estudar: deitado na cama, com o caderno ou os livros ao redor e com a luz de um lampião clareando o ambiente. As vezes pegava no sono. Ela ia lá, recolhia os materiais escolares, a lamparina e me cobria.
Quando precisei ir para a cidade, pra facilitar a minha luta pelos estudos, ela pediu que uma irmã dela, tia edite, me recebesse em sua casa. Fiquei lá uns dois, três anos. Quando terminei os estudos e vim pra Campina Grande, ela me deu de presente um ferro de engomar. (Claro que ele não presta mais, mas tá ali guardado). Morria de preocupação comigo. Dizia que tinha muita vontade de vir a Campina. Nunca veio. Mas sempre que ela via alguém lá de casa, (minha mãe, meu pai, meus irmãos… ) ela perguntava por mim e quando eu iria voltar. Foi assim enquanto ela teve vida.
E quando eu chegava e demorava a ir na casa dela, era recebido com uma pergunta: o motivo da minha demora. E queria saber como era Campina, se era plana, se era grande, se era bonita. Depois começava a se preocupar com o fato de eu morar sozinho: quem faz tua comida? Quem lava tuas roupas? Quem limpa a tua casa? Ao que respondia: eu, madrinha!. E ela perguntava: e não é ruim não? E eu dizia que não, já havia me acostumado. Mas ela nunca se acostumou com isso.
Nos últimos anos de vida, botou na cabeça que eu tinha de voltar pra o Ceará, que devia morar no Juazeiro do Norte ou no Crato. “Fica mais perto da gente”. Até uma dia que prometi pra ela fazer um concurso pra voltar ao cariri. Ela nunca mais esqueceu. E perguntava: Jurani e os concursos? Jurani quando vai fazer o concurso? Jurani e o concurso que você fez não tem chance não? Eu queria tanto que você viesse pra perto de nós. Eu tentava contornar a situação dizendo que Campina era uma cidade boa, que eu gostava, que eu tinha trabalho lá, tinha casa, metade da minha vida está lá… mas ela sempre terminava dizendo: mas aqui perto da gente seria melhor. Você vive muito só em Campina”.
Sim, meus amigos, essa mulher me amou da forma mais verdadeira que alguém possa amar. Amor de vó, amor de mãe, amor na sua mais plena representação. E eu também a amei e amarei para sempre. Amava em silêncio, amava tentando não decepciona-la, amava lembrando de tudo que ela me ensinou. De tudo que ela me deu, de tudo que ela fez por mim.
Nos últimos encontros que tivemos sai de lá aos prantos. Eu estava perdendo aquela mulher tão importante para mim. A mulher que escolheu me amar. Ontem a notícia chegou de mansinho: jura madrinha amanheceu cansada, jura ela não tem melhora, jura a ambulância tá vindo, jura madrinha não aguentou. Ontem essa sequência de notícias chegou até mim como se ela estivesse me preparando. Mas bateu com uma força descomunal.
Amor é isso, mesmo sabendo que vai perder, você não está preparado para aceitar. E mesmo aceitando, você não esquece.
Enquanto vida eu tiver, me lembrarei de você. Em todas as minhas conquistas, você será lembrada. Elas também serão suas. Aprendi muito com a senhora.
Obrigado. Obrigado, obrigado.
Atenção: Os artigos publicados no ParaibaOnline expressam essencialmente os pensamentos, valores e conceitos de seus autores, não representando, necessariamente, a linha editorial do portal, mas como estímulo ao exercício da pluralidade de opiniões.
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