A ética não é palanque

Vivemos tempos em que o brilho das aparências muitas vezes ofusca o valor do caráter. Tempos em que a palavra “honestidade” é repetida com orgulho por lábios que não a praticam, enquanto os verdadeiramente íntegros seguem em silêncio, firmes em seus princípios, mesmo sem aplausos.

Ser bom, honrar combinados, manter a palavra e agir com verdade não são virtudes ultrapassadas, são fundações. A essência de uma pessoa se revela não no discurso, mas na coerência entre o que ela diz e o que ela faz. Quem precisa provar o tempo todo que é melhor, que é mais correto, que é mais justo, geralmente está em guerra consigo mesmo, tentando se convencer de algo que sabe, no fundo, que não é.

A ganância veste muitas roupas: pode se apresentar como ambição, como “autoestima”, como “jogo de cintura”. Mas o que é ganância senão a fome insaciável de ter, parecer, aparecer, mesmo que custe a verdade, o respeito e, por fim, a própria paz?

A dissimulação, por sua vez, é uma arte cruel. Ela sorri. Elogia. Concorda. Mas por trás dos olhos existe cálculo. Como lidar com isso? Primeiro, não se iluda: nem todo sorriso é sincero, nem toda presença é leal. É preciso discernir, não com paranoia, mas com atenção e observação.

Diante da ausência de caráter, a melhor resposta é não descer ao mesmo nível. Não tentar “desmascarar” nem competir em falsidade. Apenas observar, manter distância emocional e agir com retidão. O tempo cobra. O tempo revela. E o tempo limpa.

Ser honesto, de verdade, é muitas vezes nadar contra a corrente. Mas é também dormir com a consciência tranquila; e isso, apesar de invisível, tem um valor que nenhum status, elogio ou conquista artificial pode comprar.

Por fim, o caráter não se grita: se vive.

E quem precisa fingir ser bom, já deixou de ser há muito tempo.