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Edjamir Sousa Silva

Edjamir Sousa Silva

Padre e psicólogo.

A espiritualidade do amor social

Por Edjamir Sousa Silva
Publicado em 21 de setembro de 2025 às 15:30

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Neste 25º Domingo do Tempo Comum a Palavra de Deus nos faz fortes interpelações que chamamos de dinâmica social na construção da esperança. O compromisso com o bem comum, com o outro, a abertura com o próximo são sinais de uma verdadeira espiritualidade do amor social. Na vida cristã, o próximo não é aquele que está imediatamente ao nosso lado, mas “os tantos próximos” que encontramos nos caminhos da vida.

O profeta Amós (8, 4-7), arauto da espiritualidade do amor social (AT), nos faz grandes interpelações que serviu de base para a próprio ação missionária de Jesus. Amós (AT) e Jesus (NT) nos ensinam que a partir de uma espiritualidade do amor social (justiça social) e seus imperativos éticos é possível reconstruir novos horizontes de esperança de um mundo mais humano e fraterno.

O profeta denuncia a prosperidade das classes favorecidas frente à miséria de uma parte significativa do povo. Uns querem tirar vantagem em tudo e outros passam fome. A carga de impostos, proporcionalmente injusta, não permite aos pobres saírem de uma dívida eterna e poder crescer social e economicamente.

Assim como Miqueias e Jeremias, o profeta Amós percebeu que os tribunais e os juízes eram subornados para favorecer as elites e prejudicar os pobres. O duro discurso do profeta não é bem aceito por estas elites. O seu discurso nasce da dureza dos pobres do deserto frente à indolência da sociedade israelense que vive no luxo. A ganância e a ambição cegam as pessoas. E estas, muitas vezes, usam até mesmo a religião e o nome de Deus.

Os “ai de vós” de Jesus estão enraizados nas situações de injustiça social que Amós denuncia no texto de hoje: “maltratar os humildes”, “prostrar os pobres”, “adulterar balanças e ter lucros desonestos”, “as elites que dominam os pobres com dinheiro e um par de sandálias”, “a soberba e arrogância de Jacó (símbolo das regiões produtivas). O Senhor jurou nunca esquecer disso (v 7), sabe porquê?

São Mateus (cap. 25) dirá, no discurso escatológico, que serão separados os perversos dos que praticaram o amor social: “O Rei dirá: ‘Eu tive fome e não me destes de comer, eu tive sede e não me destes de beber, eu estava nu e não me vestistes, eu era estrangeiro e não me acolhestes, estava preso e não me visitastes (cf. Mt 25, 41-45). “Afastai-vos de mim, malditos” (Mt 25,41).

Como será que nos apresentaremos diante de Deus, no dia de nosso juízo final? Vejam a força desta expressão: juízo. Evoca a idéia de sabedoria versus a loucura/idiotice do mundo. Diz também a idéia de juízo enquanto os meus próprios julgamentos e comportamentos éticos na relação com os outros. E faz-nos pensar que seremos julgados pelo Justo Juiz que nos julgará se fomos capazes de agir com o amor social. Deus não nos perguntará sobre o amor próprio, tão explorado em nossos dias ou mesmo sobre quantas vezes faltamos as missas, mas do amor ao próximo.

O salmista (Salmo 112(113)) canta as maravilhas de Deus, dizendo: “louva ao Senhor que eleva os pobres (…). O Senhor que está acima das nações e sua glória vai além dos céus (…) se inclina para olhar o céu e a terra”. Nas últimas semanas estamos ouvindo Jesus dizer que na lógica do Reino de Deus “os últimos serão os primeiros” (cf. Lc 13, 30), os que são sempre rebaixados e tratados mal serão tratados com muita dignidade no Reino (cf. Mt 5).

Paulo, escrevendo a Timóteo (1Tm 2, 1-8), exorta as comunidades para que “se façam preces e orações por todos os homens, pelos que governam, por todos os que ocupam cargos afim de que possamos viver uma vida tranquila e serena com piedade e dignidade. Isto é bom e agradável a Deus, pois Deus quer que todos sejam salvos e chegam a verdade” (v.v. 1-4).

A sociedade brasileira, desde suas origens é marcada por muita violência social e política: a imposição de uma colonização e o desrespeito com os povos originários, a destruição das nossas reservas ambientais, tramas de golpes de estado, organizações criminosas, planejamento de assassinatos (e execuções) de autoridades, discursos de ódio, linchamento, etc. fazem parte desta nação que tenta ser “pátria amada, mãe gentil”, mas seus administradores (e um parcela da população) nem sempre tem amor social, mas apenas amor narcísico (tiranos e ditadores).

Um fato interessante, nessa tessitura social, é que muitos desses “golpes” são sempre acompanhados por um viés religioso que não rezou e apaziguou a situação, mas alimentou muitas vezes as rixas odiosas que sempre sobrou para os pobres, os pequenos e excluídos, etc. Bíblia, terço e demais livros sagrados são muitas vezes instrumentalizados nas mãos de grupos não na intenção do que disse Paulo na primeira leitura, mas exatamente ao contrário.  SERÁ MESMO QUE SEGUIMOS A JESUS QUE É CAMINHO, VERDADE E VIDA?

O Evangelho de hoje (Lc 16, 1-13) continua a distinguir claramente o que é “sabedoria do mundo” e a “sabedoria do alto”. Jesus constata que os “filhos deste mundo” tem muita esperteza para resolver as coisas com desonestidade, mentira e cinismo, diferente dos “Filhos da luz” (v. 8b). Jesus até elogia a esperteza, mas não a iniquidade. “Os filhos deste mundo” são mais expostos à desonestidade, à falcatrua, a mentira, a manipular balanças para que as elites fiquem mais ricas às custas dos pobres.

Os “filhos deste mundo” não têm escrúpulos nenhum quando se trata de usar a administração ganhando vantagens escusas, em orçamentos secretos, desvio de verbas, usando a própria lei para se blindar das acusações de corrupção em que estão atolados, prejudicando, assim, a vida social. ELES NÃO TEMEM NEM A DEUS E NEM ENVERGONHA DIANTE DO POVO, POIS ACREDITAM QUE DEUS E O POVO NÃO PERCEBEM E NÃO ENTENDEM O QUE FAZEM NA CALADA DA NOITE.

No evangelho de hoje Jesus nos convida a aprender três atitudes éticas: “ser fiel nas pequenas coisas para aprender a cuidar coisas maiores” (Lc 16,10), “usar os bens honestamente” (v.12) e “não servir a dois senhores: ou a Deus ou ao Dinheiro” (v. 13).

Muitas vezes nós somos cristãos sem entusiasmo algum, sem virtude ou criatividade na luta contra a iniquidade dos “filhos das trevas” nos acomodamos em nosso egoísmo e pecamos por falta de amor social. Redescubramos a boa amizade social reconhecendo fraternalmente que somos todos irmãos e que devemos agir eticamente com tudo o que Deus nos pediu para administrar.

Neste final de semana, celebremos com espírito de ação de graças e oração, esta a eucaristia. Que o Espírito de Deus nos ensine a ser criativos e honestos com os bens que Deus nos confiou. Quem se dispõe a seguir Jesus não consente que se maltratem os humildes e que os pobres sejam prostrados, mas vive no dia-a-dia a serviço da justiço social como fruto de um coração alargado. Quem pertence a Jesus tem o compromisso com a fraternidade e o amor social. Quem vive nas comunidades eclesiais e não tem nenhuma preocupação social, achando que não devemos nos meter nisso, reveja seu conceito de Deus e a sua fé.

 

Boa semana!

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