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Benedito Antonio Luciano

Benedito Antonio Luciano

Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

A Espiral do Silêncio

Por Benedito Antonio Luciano
Publicado em 26 de março de 2025 às 9:28

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Lançado na Alemanha, em 1982, sob o título “Die Schweigespirale”, o livro da pesquisadora Elisabeth Noelle-Neumann (1916-2010) foi lançado no Brasil, em 2017, pela Editora Estudos Nacionais, sob o título “A Espiral do Silêncio: Opinião Pública – Nosso Tecido Social”.

Nesse livro, a autora, uma renomada cientista política alemã, desenvolveu a teoria da Espiral do Silêncio para explicar por que algumas opiniões se tornam predominantes, enquanto outras são progressivamente desqualificadas, reprimidas ou suprimidas.

Ao longo dos 27 capítulos, distribuídos nas 318 páginas da versão brasileira, Elisabeth Noelle-Neumann argumenta que a opinião pública não é apenas a soma de opiniões individuais, mas um fenômeno social que regula o comportamento dos indivíduos dentro de um grupo.

Segundo a pesquisadora, as pessoas estão constantemente observando o “clima de opinião” ao seu redor e ajustam a disposição de expressar suas próprias ideias com base no que percebem como aceitável ou dominante.

Conforme apresentado no capítulo 3, o elemento central da teoria é o medo do isolamento social. Por esse motivo, as pessoas desejam ser aceitas e temem as consequências de expressar opiniões impopulares. Isso faz com que aquelas que percebem suas opiniões como minoritárias hesitem em expressá-la, enquanto as pessoas que compartilham da visão dominante se sentem encorajadas a falar. Esse processo cria um ciclo que reforça a posição dominante, enquanto as vozes discordantes ficam cada vez mais silenciadas.

Nesse contexto, o mecanismo da espiral do silêncio ocorre em três etapas principais: “Percepção do Clima de Opinião” – As pessoas avaliam quais opiniões estão prevalecendo na sociedade; “Ajuste Comportamental” – Quem percebe que tem uma opinião majoritária tende a expressá-la mais livremente, enquanto quem percebe que sua visão está em minoria se cala; e “Amplificação do Silêncio” – Com menos pessoas expressando opiniões alternativas, a visão dominante parece ainda mais forte, tornando o silêncio dos discordantes ainda mais intenso.

No capítulo 21, a autora argumenta que a mídia desempenha um papel essencial nesse processo. Sendo a principal fonte de informação sobre o que é aceito ou reprovado socialmente, os meios de comunicação ajudam a moldar a percepção coletiva sobre quais opiniões são legítimas. Se a mídia reforça uma determinada visão, a espiral do silêncio se intensifica, dificultando ainda mais a disseminação de ideias divergentes.

Embora a espiral do silêncio seja um fenômeno poderoso, Noelle-Neumann reconhece que há indivíduos e grupos que resistem ao isolamento e continuam expressando suas opiniões, mesmo contra a corrente dominante. Esses grupos incluem pessoas com autoestima elevada e convicções fortes; grupos organizados que apoiam ideias minoritárias; e indivíduos que percebem uma mudança iminente no clima de opinião e querem influenciá-la.

Para fundamentar sua teoria sobre a espiral do silêncio, a autora fez referências a diversos pensadores e suas obras clássicas sobre como a opinião pública influencia o comportamento dos indivíduos.

Entre os pensadores citados destacam-se: John Locke, David Hume, Jean-Jacques Rousseau, Alexis de Tocqueville, Niklas Luhmann, Martin Lutero, Maquiavel, Montaigne, Erich Fromm, Freud, Salomon Asch, Leon Festinger, Aristóteles, Platão, Sócrates, Hegel, Kant, Habermas, Walter Lippmann, Wilhelm Bauer, Cervantes, Descartes, Emile Durkheim, François Rabelais e Erasmo de Rotterdam.

Assim, a teoria da espiral do silêncio continua sendo amplamente estudada e aplicada a diversos contextos, em particular no que diz respeito às redes sociais, nas quais o fenômeno pode ser observado em debates online, onde opiniões divergentes podem ser suprimidas pelo medo de críticas e “cancelamento”; na polarização política, na qual a mídia e os discursos dominantes podem desencorajar a expressão de opiniões contrárias, criando zonas de silêncio; e nas mudanças sociais.

Diante do exposto, percebe-se que a leitura do livro “A Espiral do Silêncio” é interessante, pois fornece uma explicação detalhada de como a opinião pública se forma e como o medo do isolamento leva ao silenciamento de certas ideias, desde a antiguidade até os dias atuais.

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