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Dom Sergio da Rocha

Dom Sergio da Rocha

Cardeal e Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil.

A ditadura da estética

Por Dom Sergio da Rocha
Publicado em 22 de setembro de 2024 às 20:33

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A busca pelo corpo perfeito ou pela beleza ideal torna-se frequentemente o sentido da vida para muitos, podendo se tornar uma espécie de poder que controla e manipula a vida das pessoas e exclui os que não se submetem aos seus padrões.

As pessoas acabam sendo oprimidas por padrões de beleza que não as tornam efetivamente felizes. Por isso, pode-se falar de uma espécie de “ditadura” da beleza corporal ideal ou de “ditadura da estética”, embora haja outras importantes expressões da estética que não permitem reduzi-la à esta questão.

O justo cuidado com a aparência pode ser um fator de autoestima e bem-estar psicológico. É necessário cuidar bem de si próprio e adotar um estilo de vida saudável, mas o excesso no cuidado estético, na busca do corpo perfeito, pode causar sérios prejuízos de ordem emocional e distúrbios relacionados à autoimagem.

No atual contexto sociocultural, com a centralidade da comunicação pela imagem, através de fotografias e vídeos, as aparências passam a receber especial atenção. Por isso, é preciso discernir bem os limites para evitar os excessos na busca da forma física ideal. O tempo e o dinheiro utilizados são indicadores do caminho que alguém está percorrendo.

O padrão de beleza disseminado por intenso marketing tem tornado infeliz muita gente que não consegue alcançá-lo, especialmente, adolescentes e jovens que dele se distanciam e, por isso, chegam a entrar em crise, mas até mesmo pessoas idosas.

As redes sociais, com a sua larga influência, têm sido fator de autoestima distorcida para muitas pessoas. O modo como alguém vê a si próprio, especialmente o próprio corpo, tem consequências enormes na própria vida, comprometendo a sua felicidade.

Há pessoas que se avaliam e determinam os seus passos unicamente em função do que os outros pensam e dizem a seu respeito, principalmente, sobre a sua aparência física, e não a partir de uma justa visão de si mesmo.

A questão da autoestima pode trazer sérias implicações de caráter psicológico e ético, interferindo no cuidado de si, no desempenho escolar e profissional e repercutindo na vida familiar e social. A conquista de uma justa autoestima constitui um desafio contínuo e uma tarefa permanente. No coração de quem cultiva uma justa autoestima não há lugar para o desânimo que deprime, nem para a inveja que destrói.

É importante admitir serenamente os limites da natureza humana e do transcorrer do tempo. O risco de valorizar as aparências deixando de lado o essencial é grande em nosso tempo. É fundamental reconhecer que as pessoas trazem uma dignidade e uma beleza que superam as aparências e que o vigor espiritual e a alegria de viver não dependem de um ideal de corpo perfeito. Numa época em que tende a se difundir a ditadura da estética corporal, é importante resgatar a simplicidade de viver e o cultivo da beleza espiritual, que permanece e se fortalece com o passar do tempo.

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